Pré-candidato fala sobre política, adversários, participação popular e Mário Ielo
por Sérgio Viana – fotos de Flávio Fogueral
Aos 42 anos, o jornalista e professor Erick Facioli é pré-candidato a Prefeito de Botucatu pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Seu nome foi aceito por unanimidade dentro se seu partido, que decidiu por lançar candidatura própria após não apoiar o ex-correligionário Mário Ielo, hoje no PDT, e a quem Erick serviu como secretário de Comunicação entre 2001 e 2005 e ajudou nas campanhas eleitorais passadas.
Erick atuou como jornalista em Botucatu desde a década de 90, passando por rádios, jornais e TV, como Criativa FM, Diário da Serra e TV Record. Atualmente coordena a área de Comunicação da Faculdade Eduvale, em Avaré, onde também ministra aulas. Como vice de sua chapa está a médica e docente em Pediatria da Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp), Cátia Fonseca.
O Notícias.Botucatu entrevistou o pré-candidato do PT, ouça na íntegra e confira o resumo abaixo:
Veja também as entrevistas com Mário Pardini (PSDB) e Gustavo Bilo (PSOL)
Sobre por que ser pré-candidato, Erick afirma já ter tal desejo antes, mesmo quando ainda assessorava outros candidatos nas eleições passadas. “Eu sou pré-candidato, primeiro, porque já era um objetivo de vida que eu tinha há algum tempo, estava aguardando o melhor momento e este é o momento. O PT perdeu muitas pessoas e meu nome foi colocado com unanimidade e estou muito feliz com isso. Ser pré-candidato a Prefeito de Botucatu é uma honra muito grande”.
“O mais importante é reconhecer a nossa incapacidade de fazer tudo sozinho e discutir sempre com a população. Ninguém está preparado a ponto de não precisar da população. Ela tem que ser ouvida sempre e é quem conhece os problemas. O Plano de Governo se faz junto com a comunidade, não se faz escrevendo sozinho em um escritório se faz da maneira que estamos fazendo no PT, desde o ano passado”, segundo ele mesmo, Erick quer ser visto como uma espécie de Prefeito Servidor Público, com foco em aumentar a participação social na gestão, via ferramentas como o Orçamento Participativo e Conselhos municipais de diversos setores, além da criação de sub-prefeituras, que inicialmente seriam 5.
Pré-campanha didática– Por meio de sua página no Facebook, o pré-candidato petista tem publicado vídeos sobre o tema Política e participação popular. A ideia, segundo Erick, é desmistificar e fazer as pessoas entenderem a importância da Política. “As pessoas estão cada vez mais desacreditadas da Política, estão desacreditadas dos velhos políticos e do sistema político que existe hoje. Mas não é se afastando da política que vamos resolver ou melhorar a vida das pessoas. Num país dito democrático, temos que entender que as conquistas vêm através da política. É através dela que vieram os direitos trabalhistas e é através dela que estamos perdendo alguns agora, com o atual governo Temer”.
Crise Petista e vida pessoal
Apesar de todos os problemas o PT ainda é o partido com maior adesão popular do país, como mostram pesquisas como Datafolha e Ibope, de 15 a 20% de pessoas simpatizam com o partido, afirma o candidato, que acredita que a história local do partido, que administrou a cidade de 2001 a 2008, pode ajudá-lo.
“Se eu falar que a situação nacional não me atrapalha, eu estaria mentindo. ‘Mas pelo PT?’, essa é a pergunta que eu mais ouço de pessoas e amigos. Eu sou do PT, eu não vou sair do PT, eu acredito numa ideologia de esquerda que trabalha pelo coletivo. Algumas pessoas estão dispostas a discutir isso em alto nível, outras não. Nas redes sociais muitos não me conhecem e já estão xingando, chamando de ladrão, sem saber nada sobre minha vida. Até o mês passado eu era visto por muitos como uma pessoa boa, hoje, alguns acham que eu sou ladrão só porque eu sou [pré] candidato. Quer dizer, toda a história que eu tenho pra trás não vale nada. Mas não dá pra reclamar da população, os exemplos que vêm da política, em geral, não são exemplos bons. Eu quero mostrar quem é o Erick Facioli e quem é a Cátia [Fonseca, pré-candidata a vice]”, declarou.
Afago tucano, visão de Governo e o novo adversário: Mário Ielo
Durante sua entrevista para o Notícias.Botucatu, o pré-candidato pelo PSDB, Mário Pardini elogiou Erick Facioli por assumir “com coragem” a corrida eleitoral por seu partido, num momento de descrédito profundo. “Eu estou muito feliz, tranquilo, defendendo minhas ideias de maneira serena. Agradeci pessoalmente ao [Mário] Pardini pelos elogios que fez e disse a ele que é verdade: somos pessoas de muita coragem… ele por ter uma carreira vitoriosa na Sabesp e se dispor a ser candidato. Os nossos partidos têm maneiras diferentes de ver o Governo. Por exemplo, nós vemos a Prefeitura como uma Prefeitura mais atuante, que não terceiriza todos os serviços, o PSDB tem uma visão um pouco diferente, de terceirização dos serviços públicos, uma visão mais liberal do individuo. Nós trabalhamos pela coletividade sempre. São diferenças fundamentais”, explicou Facioli.
Sobre seu antigo correligionário e companheiro político, Mário Ielo que deixou o PT em 2015 para reestruturar o Partido Democrático Trabalhista (PDT), Erick diz respeitar sua candidatura e o legado como gestor municipal na era petista, mas considera que as pessoas entenderão que a política não deve ser adaptada por momentos favoráveis ou contrários, em relação à aliança entre Ielo e Caco Colenci (PV), ex-PSDB e ex-secretário de Governo de João Cury.
“Quanto ao Ielo, eu vejo a situação com tranquilidade. Nós governamos Botucatu – digo nós, porque foi o PT quem governou Botucatu, as conquistas são do PT e os erros são do PT também… Eu acho que ele é uma pessoa bem intencionada e que fez um bom governo como Prefeito. Porém, num momento de dificuldade, ele preferiu seguir um outro caminho, achou mais adequado mudar de partido. Mas nós entendemos que partido não é uma coisa que se troca, como se troca de roupa. São questões mais complexas, ideológicas, que estão envolvidas… Não tenho nada contra o Caco [Colenci], gosto dele como pessoa, mas acho que não tem muito a ver o Caco com o Ielo, até pouco tempo atrás ele estava no governo João Cury. É uma coisa meio esquisita, acho que a população não entende muito bem isso… Acho que tem que ter um caminho, a gente tem que ter coerência”.
“O PT está unido antes de mais nada, isso já é muita coisa”- com a aproximação das convenções partidárias que darão aval às candidaturas, diversas siglas partidárias começam a se coligar para a disputa eleitoral. A chapa tucana, da situação, tem cerca de 15 partidos de apoio, já o PT está sozinho até o momento. Para Erick, mesmo após a deserção de militantes, a união interna dos resistentes o fortalece. “É o partido que tem mais atividade política em Botucatu, nos reunimos todas as semanas pra discutir situação política e econômica. Nós gostaríamos de ter ao nosso lado a esquerda – o próprio PDT (de Ielo), o PC do B, o PSOL -, mas infelizmente não temos como interferir nisso. Cada um segue o seu caminho: o PC do B apóia o PSDB; o PSOL insiste em sua candidatura própria; e o PDT também tem sua candidatura. Respeito a posição de todos e tenho uma esperança ainda de estar junto ao PSOL, é uma pena que essa discussão começou um pouco tarde”.
Efeito Azarão- Nesta segunda-feira, dia 18 de julho, o jornal online Acontece Botucatu divulgou uma enquete para o cargo de Prefeito de Botucatu. Erick ficou em 4° lugar, com 113 votos, totalizando 4%, atrás de Reinaldinho (10%), Mário Ielo (32%) e Mário Pardini (42%). O petista vê com normalidade os números e acredita que ainda tem muito a crescer durante a campanha que começa em agosto.
“Eu tenho que fazer a campanha. Acredito muito no horário eleitoral no rádio, acho que vai dar pra gente mostrar bastante coisa. Eu acredito que quando a campanha entrar na rua de fato teremos oportunidade de crescer. Vejo o percentual do site Acontece Botucatu muito bom. Quem não tinha nada, teve 2 e agora tem 4. Se continuarmos nesse ritmo nas próximas semanas, vamos surpreender muita gente”, frisou.
Por que mudar?- “Eu acho que o João Cury fez algumas coisas que são bastantes positivas e nós temos que ser honestos, não podemos criticar por criticar, ser oposição por oposição. Ele fez coisas que merecem elogios, como por exemplo a captação de recursos fora da esfera municipal. Ele trouxe muitos recursos, principalmente do Governo Federal (final do mandato Lula em 2008 e 2009; e do primeiro governo Dilma, de 2010 a 2014 e dos dois primeiros anos da presidenta afastada) – vale lembrar que isso só foi possível porque tínhamos um governo republicano, que não via partido, como aconteceu com o próprio pai do João, Jamil Cury, quando era Prefeito.
Nós temos que dar um passo a frente. O governo [municipal] do PT teve um momento importante, que tirou Botucatu do buraco, o governo João Cury soube surfar nessa onde e nós temos que ir além. É o momento de pensarmos em passe-livre no transporte coletivo, internet grátis nos bairros, atendimento odontológico para a população e ampliar o programa Saúde da Família em Botucatu, que não cresce desde o governo PT. A atenção básica tem que crescer pra diminuirmos as filas nos prontos-socorros”, concluiu o pré-candidato.