Obra é reivindicada há anos por ciclistas e cidadãos para melhorar qualidade de vida e segurança no trânsito
Por Sérgio Viana
Na semana passada os vereadores de Botucatu aprovaram empréstimo a ser feito pela Prefeitura com a Agência de Fomento do Estado de São Paulo, no valor total de R$ 14.976.739,04. Do montante, R$ 4.359.398,27 serão destinados à construção de uma ciclovia de 8 km, que passaria pela Rodovia Antonio Butgnoli e Avenida Dante Delmanto. Outros R$ 2,2 milhões serão destinados à reforma do Mercado Municipal.
O valor do empréstimo dividido pela quilometragem da futura ciclovia (8 km) resulta num total de R$ 544.924 por quilômetro, sem considerar os juros de 6% ao ano – sendo o financiamento de 6 anos para pagar. Em Curitiba, cidade referência em transporte urbano e cicloviário, o custo por quilômetro varia entre 150 e 200 mil reais, dependendo da largura da ciclovia a ser construída (1,5m ou 2m).
A vereadora Rose Ielo foi o único membro da Câmara Municipal a pedir vista para contestar o empréstimo e junto aos outros dois vereadores do PT (Lelo Pagani e Carlos Trigo), votou contra. Perderam. Em seu relatório de justificativa do pedido de vista, a petista declara que a obra não seria de urgência, uma vez que segundo o atual secretario de Planejamento, Nivaldo Vizzoto, outras obras precisam ser feitas antes: a duplicação da Rodovia Antônio Butgnoli, de responsabilidade do Governo do Estado, e a construção de um trecho da Avenida Universitária, cuja Prefeitura seria a responsável.
“Por planejamento e prudência, o projeto da ciclovia pode ser realizado em etapas por se tratar de construção linear por quilômetros. Não havendo necessidade obrigatória de executar toda a ciclovia de uma só vez”, afirma Rose, em seu relatório.
As secretarias de Comunicação da prefeitura e do Estado de São Paulo foram contatadas por e-mail, entre 22 e 23 de maio, para prestar mais esclarecimentos sobre os empréstimos, mas não responderam até o momento. O Partido dos Trabalhadores também foi procurado para falar dos gastos com a construção da ciclovia na Av. José Barbosa de Barro (Jd. Paraíso), mas também não respondeu até o fechamento da matéria.
Reivindicação constante
A obra já é uma reivindicação antiga de alguns ciclistas e cidadãos de Botucatu (blog). Segundo Andre Fossaluza, 26, que mora em Botucatu desde 2005, quando veio cursar Ciências Biológicas na Unesp, há vários movimentos por ciclovias na cidade. Ele, particularmente, teve mais contato com ações encabeçadas pelo Centro Acadêmico “V de Junho”, do Instituto de Biociências de Botucatu (Ibb), desde 2006.
“As ações consistiam na organização de abaixo-assinados, entregues à Câmara anteriormente, bicicletadas [passeios organizados como forma de protestar], entrega de panfletos, instalação de faixas e diálogo junto ao poder público”, afirma o agora mestrando.
Quando da visita do governador Geraldo Alckmin (PSDB) para inaugurar o “Poupa Tempo” de Botucatu, em janeiro de 2011, alguns manifestantes levaram faixas e protestaram pela implantação de uma nova ciclovia. “O João Cury mandou pararmos de protestar e disse que nos atenderia no mesmo dia. Falei com o Caco [Colenci, secretario de Planejamento, na época] e ele me mostrou o projeto que deveria começar ainda naquele ano”, destaca o biólogo João Pompeu, 22, também formado pelo Ibb/Unesp e agora morador de Botucatu.
Alarme Falso
Em julho de 2011, segundo informações divulgadas pela Secretaria Municipal de Transporte e imprensa, a prefeitura iniciaria em uma semana um programa de revitalização da Avenida Dante Delmanto, o “Nova Dante”, que envolvia a construção de rotatórias e outras obras que melhorariam o tráfego e acesso à região, entre elas 2.850 metros de ciclovia. O projeto começaria sendo financiado por uma emenda do deputado federal Paulo Maluf (PP), no valor de R$ 520.677,47.
Houve licitação e a empresa vencedora, Aracons Construções Ltda, tinha 90 dias para entregar a rotatória no final da Dante e antes da Rodovia Marechal Rondon. A obra não foi iniciada e o dinheiro teria retornado. Segundo João Pompeu, o vereador Curumim teria sido o mediador para a conquista dessa emenda que não foi usada.
Questionado através da assessoria da Câmara Municipal, Curumim (PSDB) afirmou que “a emenda não foi liberada, infelizmente, pelos cortes do Governo Federal” e que o município também não tinha capacidade de arcar com a obra.