Milho plantado para ser ração de gado no inverno foi perdido
texto e fotos Sérgio Viana
A ocorrência de um dos verões mais secos dos últimos anos na região sudeste já causa perdas para produtores rurais da região. Acostumados com o alto volume de chuvas entre os meses de janeiro e fevereiro, muitos produtores depositam sua confiança no clima, plantam sua roça e aguardam que a água que deveria ser trazida pelas nuvens faça o restante do trabalho. Mas neste ano algo está diferente.
Samuel Willian Mira é criador de gado leiteiro e vive com a família numa propriedade de pouco mais de 70 alqueires – uma fazenda -, dividida com outros irmãos. Assim como Samuel, outra irmã também se dedica ao trabalho com as vacas leiteiras, um irmão é mecânico e outro cuida de hortas dentro da fazenda. Tudo foi dividido e a princípio pertencia ao pai de Samuel, seo Ino.
“O tempo tá seco por demais. Eu até puxei a água do rio ali pra fazer a horta com irrigação, mas a água que chega é tá muito pouca. Esse ano diminuiu mais [o volume de água no rio], mas de ano em ano já vem diminuindo”, afirma seo Ino, voltando da horta da família e indicando onde Samuel estava.
O agricultor agora está separando parte das vacas. As com bezerros e que por isso tem garantia de mais leite ficam separadas das outras, que hoje estão comendo a plantação de milho que ia servir como silo durante o inverno, mas que devido ao calor e tempo seco, não chegou a dar boas espigas e foi condenado.
“Eu plantei milho pra fazer silo pras vacas no inverno. Só que não choveu nada, então as espigas de milho e os pés ficaram muito pequenos. Tive que soltar as vacas em cima da própria plantação, pra aproveitar um pouco”, explicou Samuel, que diz acreditar que o pessoal das propriedades em volta dele também devem estar perdendo um pouco do trabalho na terra por causa da estiagem.
A propriedade dos Willians Mira fica na região da chamada serra da Bocaina, seguindo a estrada Elias Alves – que vai até o bairro de Piapara-, após o rio que corta o caminho e do qual seu Ino disse que o nível só tem baixado nos últimos anos.
Samuel reconhece que neste ano alguma coisa está diferente, pois no “ano passado estava bom, choveu bem, mas nesse aqui eu não sei qual a previsão”. Segundo ele, se continuar assim por muito mais tempo, ou se não conseguir plantar outra coisa para deixar o silo de inverno, a produção leiteira das vacas vai caindo dia a dia.
Bloqueio atmosférico
O calor e estiagem que se instalou entre o Sudeste e o Sul explica por uma espécie de bloqueio atmosférico devido a uma área de alta pressão que se expandiu sobre o oceano Atlântico. Essa área vem desde o oeste africano até leste da América do Sul, onde se expandiu fortemente até Brasília, passando por Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. O fenômeno inibe a formação de nuvens, impedindo as chuvas que reduzem as temperaturas.
Mais perdas
No entorno da região metropolitana de São Paulo, onde se concentra uma forte produção de hortaliças, diversos produtores tem sofrido com a estiagem. Lá cerca de 70% dos produtores estão sendo afetados pela seca anormal.
Em janeiro, dos 266 milímetros esperados para aquela região, só 192 foram registrados.