Há um ano, o Cantareira trabalhava com 55,2% da sua capacidade total, contando apenas com o volume útil
da Agência Brasil
O nível nos reservatórios do Sistema Cantareira continua sofrendo quedas consecutivas, chegando hoje (14) a 18,2% da sua capacidade de armazenamento, segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Todo o volume útil do sistema foi consumido e resta agora apenas o volume morto – reserva técnica, que era 18,5%. A Sabesp garante o abastecimento até meados de março do próximo ano.
Há um ano, o Cantareira trabalhava com 55,2% da sua capacidade total, contando apenas com o volume útil. Outro manancial paulista, o Sistema Alto Tietê, também registra queda significativa – o nível dos reservatórios está em 23,6% hoje, enquanto a capacidade era 63,4% há um ano. Em março, a Sabesp anunciou a redução da captação do Cantareira e a complementação dele por meio de outros sistemas, incluindo o Alto Tietê.
O Cantareira, além de abastecer 9 milhões de habitantes na grande São Paulo, atende a 5 milhões de pessoas nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Segundo o Consórcio Intermunicipal PCJ, que representa essas cidades, a situação crítica é claramente observada em rios como o Piracicaba. Enquanto a vazão normal desse rio para esta época do ano é, em média, 40 metros cúbicos por segundo, a vazão registrada hoje foi 9,6 metros cúbicos por segundo.
Estudo elaborado pela Universidade de Campinas (Unicamp), com financiamento do consórcio, mostra que o volume do Cantareira pode secar totalmente em menos de 100 dias. O professor Antonio Carlos Zuffo, do Departamento de Recursos Hídricos da universidade, responsável pela pesquisa, acompanhou a situação dos reservatórios do sistema e alerta para a possibilidade de atraso no início do período de chuvas este ano.
“Não se pode garantir que [as chuvas] voltam em outubro. No ano passado, ela só veio na segunda metade de dezembro. Foram só 15 dias de chuvas normais ano passado. Não sabemos se [neste ano] vai voltar com normalidade ou se vai atrasar”, disse o especialista.
Zuffo defendeu uma redução na exploração da água e a implementação do rodízio como forma de garantir uma sobrevida do abastecimento. “Houve uma gestão de alto risco, o problema foi falta de planejamento, falta de investimento. A água é um recurso vital para todos os seres vivos, para todos os fins. Não poderiam ter adotado medidas com interesse meramente comercial do setor da água”, declarou.
Na semana passada, a Agência Nacional de Águas prorrogou até 31 de outubro de 2015 o direito de uso dos recursos hídricos do Sistema Cantareira para a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp). A outorga, concedida em 2004, tinha validade de dez anos e venceria no próximo mês. O sistema abastece cerca de 9 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo. De acordo com a ANA, a renovação irá considerar esse período de escassez de chuva pelo qual passa o sistema. A extensão da outorga ocorre em meio à maior crise hídrica da história do Cantareira, que foi criado na década de 1970.