Os programas de Bolaños foram transmitidos para mais de 50 países sejam em língua espanhola, portuguesa ou em outras nações.
por Flávio Fogueral com Agência Unesp
Roberto Gómez Bolaños, ator e roteirista mexicano criador de personagens como Chaves, Chapolin Colorado e Dr. Chapatin morreu na sexta-feira, 28 de novembro. Com a saúde debilitada devido à idade (85 anos), Chespirito seu apelido mais conhecido, jamais deixou de trabalhar. Sua morte causou comoção entre fãs de toda a América Latina.
Os programas de Bolaños foram transmitidos para mais de 50 países sejam em língua espanhola, portuguesa ou em outras nações. Um fenômeno já que, que desde sua primeira exibição no Brasil pelo SBT em 1984, representaram positivas e significativas audiências à emissora. Em raros casos de cancelamento da exibição, manifestações dos fãs pediam a volta dos seriados à grade de programação.
Em todo o Brasil fãs-clubes se espalhavam e não foi difícil a incorporação de jargões criados pelo mexicano na cultura popular. Quem nunca disse um “Foi sem querer, querendo?”, “Sigam-me os Bons” ou “A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena?”.
Para Marcos Américo, professor especialista em rádio e televisão da Unesp, câmpus de Bauru, os personagens criados por Bolaños sintetizavam situações sociais e culturais próximas às realidades vividas pelos telespectadores, acrescidos do humor inocente e por vezes ‘pastelão’. Isso causou empatia do público. A principal característica, segundo o acadêmico, foi a universalização da narrativa de suas histórias.
“O grande trabalho de Bolaños foi a integração da América Latina de universalizar uma narrativa que conseguiu atingir um público amplo, também no Brasil, que nunca foi otimista em consumir produção audiovisual latinoamericana”, disse. “Durante muito tempo os programas do Chaves e Chapolin foram coringas dentro do SBT. Toda vez que um programa da emissora ia mal em audiência, era sacado para que esses seriados entrassem e alavancassem o horário”, realça prof. Marcos Américo.
Segundo o professor outra característica foi importante para que os programas alcançassem a preferência do telespectador, principalmente infantojuvenil e adulto na faixa dos 30 anos (que cresceu assistindo aos episódios criados por Bolaños). “A questão do núcleo, de uma família que não era família com ideias interessantes. A Vila do Chaves é atemporal e pode estar em qualquer lugar”, complementa Marcos Américo.
Mesmo sendo um fenômeno de comunicação na América Latina, a produção de Chespirito era contestada por não criticar de forma veemente uma sociedade autoritária, conforme análise do professor Antonio Francisco Magnoni, especialista em jornalismo da Unesp em Bauru. “Se formos olhar o México e Brasil, ambos têm sistemas de televisão parecidos que despontaram nos últimos 50 anos e se tornaram abrangentes oligopolizados. Recentemente que se teve uma redivisão do mercado da televisão mexicana”, frisa.
“Bolaños era um produto desse sistema de televisão que lançava produtos infanto-juvenil e um tipo de entretenimento que era engraçado mas que não refletia as contradições efetivas da sociedade. Era um tipo de humor que em nenhum momento pressionou o status quo da socidade mexicana; assim como no Brasil durante a Ditadura Militar (1964-1985) teve o desenvolvimento deste entretenimento que não questionava a sociedade autoritária”, complementa Magnoni.