Na ocasião, alunos do 6º ano teriam usado trajes que remetiam à seita norte-americana Ku-Klux-Klan
da Redação
A Congregação da Faculdade de Medicina de Botucatu/ Unesp (FMB) emitiu na noite de quarta-feira, 1º de abril, nota oficial sobre reunião extraordinária de sua Congregação para avaliar o caso do uso de possíveis constrangimentos a calouros durante o “Batizado da Medicina”, festa promovida em um local particular no dia 5 de março. Para lembrar o caso, clique aqui.
Na ocasião, alunos do 6º ano- cursado pela 48ª turma- teriam usado trajes que remetiam à seita anti-semita norte-americana Ku-Klux-Klan. Fotos divulgadas em redes sociais mostram os alunos trajados com roupas pretas e segurando apetrechos que lembrariam tochas. Outras imagens divulgadas retratam alguns dos estudantes calouros ajoehados durante a festa.
O fato ganhou repercussão e foram assunto em veículos de comunicação como O Estado de S.Paulo, Portal Fórum, entre outros. Notas oficiais foram emitidas em sequência tanto pela Faculdade de Medicina quanto pelos alunos do sexto ano que, por meio do Facebook, postaram uma carta aberta dando sua versão do fato.
Durante a reunião desta quarta-feira, dia 1º, os representantes do sexto ano explicaram que o uso dos trajes se devia ao tema proposto para a recepção, que era “Carrascos”. “Estudantes do 1º ano e 6º ano apresentaram um relato detalhado dos fatos ocorridos naquela noite. Um aluno da 48º Turma, atual 6º ano, pontuou cada uma das etapas da festa, que era aberta, de participação não obrigatória, e na qual, tradicionalmente, os veteranos se fantasiam.”, frisa o comunicado da reunião emitido pela Faculdade de Medicina.
Ainda na ocasião, os alunos se desculparam publicamente pelos fatos, alegando que os motivos para o uso dos trajes seria para “desmistificar o trote, já que a roupa foi usada apenas para a abertura do evento, sendo logo retirada para que tivesse início à integração entre as turmas, sem qualquer tipo de violência”.
Mesmo diante das explicações, a Congregação da Faculdade de Medicina decidiu pela ciração de um grupo composto por professores, alunos e funcionários para realizar um levantamento preliminar. Serão ouvidos alunos do 1º e 6º anos presentes à festa. Em caso de constatação ou denúncias formais de abusos ou aplicação de trotes será criada uma Comissão Sindicância.
O trote é proibido por lei e referendado por uma determinação interna da Unesp. Em outubro do ano passado um aluno da própria Faculdade de Medicina foi expulso por trote violento. Ele ainda poderia recorrer da decisão da universidade.
Confira, na íntegra, a nota oficial emitida e também a retratação da 48ª turma de medicina:
NOTA OFICIAL DA FACULDADE DE MEDICINA
A Faculdade de Medicina da Unesp – Câmpus de Botucatu promoveu, quarta-feira, 1º de abril, uma reunião extraordinária de sua Congregação, colegiado máximo da instituição, com o objetivo de iniciar uma apuração sobre supostos excessos cometidos durante uma festa, realizada dia 5 de março deste ano, intitulada “Batizado da Medicina”.
Estudantes do 1º ano e 6º ano apresentaram um relato detalhado dos fatos ocorridos naquela noite. Um aluno da 48º Turma, atual 6º ano, pontuou cada uma das etapas da festa, que era aberta, de participação não obrigatória, e na qual, tradicionalmente, os veteranos se fantasiam.
O tema escolhido neste ano foi: “Carrascos”. Segundo os estudantes, o objetivo era desmistificar o trote, já que a roupa foi usada apenas para a abertura do evento, sendo logo retirada para que tivesse início à integração entre as turmas, sem qualquer tipo de violência. O aluno que falou em nome dos veteranos reforçou que a primeira parte da festa, quando ocorre o “batizado” dos calouros, não é de participação obrigatória. Os novatos participam fantasiados de acordo com sua vontade. Representantes do 6º ano costumam pintar o próprio rosto.
Na segunda parte da festa, os calouros entraram primeiro e os veteranos chegaram depois, já fantasiados com vestimentas alusivas ao tema escolhido. Poucos minutos depois, teve início a festa, já sem as fantasias.
Todas as fotos da festa foram publicadas na página oficial da turma no Facebook. Uma delas foi alvo de uma montagem em que foi posicionada lado a lado com uma imagem de um ritual da organização Ku Klux Klan (também conhecida como KKK) e publicada na mesma rede social, induzindo os internautas a associarem, equivocadamente, a recepção dos alunos da Unesp à seita.
Os alunos do 6º ano se desculparam publicamente com a comunidade acadêmica e também com a sociedade, admitindo terem errado ao escolher o tema da fantasia, o que deu margem às interpretações distorcidas.
Após a apresentação dos veteranos, alguns dos calouros presentes à festa prestaram depoimentos confirmando não ter havido atos de opressão ou qualquer tipo de ação que fizesse apologia ao preconceito e à violência. Pelo contrário, relataram diversas experiências de acolhimento.
Após ouvir estudantes e seus integrantes, a Congregação deliberou pela criação de um grupo, a ser instalado nesta quinta-feira, 2 de abril, formado por professores, alunos e funcionários, para realizar um levantamento preliminar ouvindo alunos do 1º e 6º ano que estiveram presentes na festa. Caso seja recebida alguma denúncia, será criada uma Comissão de Sindicância para que sejam aplicadas as eventuais punições cabíveis.
Até o presente momento a FMB não recebeu denúncia formal de abusos cometidos na festa. Na Unesp, o trote é expressamente proibido. A punição para os infratores, regulamentada pela Resolução Unesp nº 86, de 4 de novembro de 1999 (http://www.unesp.br/portal#!/ouvidoria_ses/legislacao4157/), varia conforme a gravidade do caso, podendo chegar à expulsão.
Congregação da Faculdade de Medicina da Unesp – Câmpus da Unesp de Botucatu
NOTA DE RETRATAÇÃO À COMUNIDADE
Nós, da 48ª turma de Medicina da Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP, diante dos últimos acontecimentos em torno da festa do dia 5 de março, voltamos a público a fim de nos retratar quanto à escolha equivocada da fantasia com o tema “carrascos”. Embora não tenhamos, em nenhum momento, procurado fazer alusão a nenhum grupo que pregue intolerância ou o extremismo, reconhecemos que houve margem para tal interpretação. Não podemos deixar de lamentar, contudo, a divulgação descontextualizada de imagens isoladas da festa associadas a montagens que faziam correlação com tais grupos.
Gostaríamos de reiterar que a 48ª turma abomina qualquer forma de preconceito envolvendo etnias, credos ou orientações sexuais. Com relação à prática do trote, gostaríamos de declarar que não houve, antes, durante ou após a festa, qualquer tipo de ação que fizesse apologia ao preconceito e à violência, tendo os próprios primeiro anistas afirmado o mesmo através de redes sociais e em nota oficial.
Pedimos sinceras desculpas à sociedade e a todos que se sentiram de alguma forma ofendidos pela escolha infeliz da fantasia. Em especial, pedimos desculpas à nossa comunidade acadêmica, que foi julgada injustamente; aos nossos diretores, mestres, residentes e demais colegas, que sempre nos ensinaram a ter a preocupação com o cuidado e com o sofrimento alheio dos pacientes; e aos primeiro anistas, que vêem em nós o exemplo de conduta. O trabalho de todos os funcionários, médicos e os diversos profissionais de saúde da Faculdade de Medicina de Botucatu, que se dedicam diariamente à comunidade com tamanha paixão e devoção, não deve ser julgado devido a uma atitude falha de nossa parte.
Agradecemos todas as moções de apoio que foram espontaneamente colocadas nas mídias sociais nessa semana. Estamos tranquilos quanto a lisura e a transparência de todo o processo.
Respeitosamente,
Alunos da 48° Turma da Faculdade de Medicina de Botucatu.