Especial do Notícias.Botucatu traz entrevistas com professores de Botucatu em greve
por Sérgio Viana
Dia 53.
Em greve desde o dia 13 de março, professores da rede pública Estadual de ensino vivem uma verdadeira ‘novela’, como já definia o governador Geraldo Alckmin (PSDB). Apesar de pessoalmente e através de sua Secretaria de Educação negar que a greve sequer exista, os profissionais mobilizados passaram a ter seus salários cortados a partir deste mês. O desconto nos salários dos professores contrariam uma decisão do Supremo Tribunal Federal, que permite o corte de ponto na folha de pagamento apenas em casos de greves consideradas ilegais, o que não é o caso paulista.
Hoje, educadores da rede estadual de 10 Estado do Brasil estão paralisados ou mobilizados em protestos. O caso mais chamativo tem sido o do Paraná, onde o governador Beto Richa (PSDB), literalmente, soltou os cachorros sobre os manifestantes (clique).
Para compreender melhor os motivos e a situação em que se encontram os professores da rede estadual de Botucatu e região, o Notícias.Botucatu entrevistou três grevistas e publicará de hoje a sexta-feira (6 a 8) cada uma delas todas as noites.
Paulista do Grande ABC, formada em História e especialização em Comunicação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Heloísa Passoni – ou Helô -, 26 anos, trabalha como professora na E.E. Dr. José Manuel Chaves, em São Manuel, mas reside em Botucatu, lugar onde sua mãe e irmã também escolheram viver e onde também já atuou na E.E. Prof. José Pedretti Neto. Atualmente, Helô está em seu segundo ano do estágio probatório, que no Estado de São Paulo dura três anos e não oferece estabilidade aos profissionais, ela trabalha 40hs semanais, sendo 32hs em aula, divididas em 11 turmas, com um total de cerca de 400 alunos. Leia o seu relato:
Notícias.Botucatu: Para você, qual o principal motivo de estar em greve? O que precisa mudar ou ser feito?
Heloísa Passoni: Quem vive o dia-a-dia da realidade das escolas publicas do Estado de São Paulo, sabe que motivos não faltam! Convivemos com o descaso do governo, falta de verbas, problemas de gestão, sucateamento da educação, índices fraldados. Esse ano, o governador super-lotou salas de aulas, a sala de informatica e a biblioteca da escola em que trabalho estão trancadas pela falta de funcionários; não tem papel higiênico nos banheiros, inspetoras nos corredores ou tinta na impressora. Trabalhamos com o mínimo. Isso para não entrar na questão salarial, estudei 5 anos em universidade pública, tenho graduação e especialização, trabalho mais de 40 horas semanais, viajo 50km por dia e meu salário, com muito suor, chega a 2 mil…sempre digo, o Estado de São Paulo é um moinho, triturou meus sonhos com a educação.
N.B.: Há professores em greve e há professores que em momento algum aderiram. O próprio Governador Geraldo Alckmin utiliza o argumento de que a greve não existe. Você considera a mobilização atual suficiente? Por que acredita que ela não é maior?
Helô: O Alckmin é um terrorista! A falta de adesão se dá por vários motivos, mas o principal é que estamos num Estado que tem mais de 20 anos de governo PSDB. Aqui, sofremos uma violência velada, mas também física, moral e psíquica. O governador nos separa em categorias dentro da própria categoria, ameaça os que não tem estabilidade, corta o ponto de uma greve legal, finge que não existimos, manda ordens de substituir professores grevistas, e agir como se nada estivesse acontecendo. Assédios morais são sofridos diariamente em escolas, que não tem uma gestão democrática. Não excluo as falhas de organização da greve, ou a crise de representatividade do sindicato. A questão é que falta um empoderamento desses profissionais, um trabalho de base, para não mais ceder às pressões do governo.
N.B.: Como vocês acham que caminham as negociações? Pensam que a greve deve perdurar até quando?
Helô: Acompanho as negociações, e por enquanto o governo esta irredutível. Não tenho experiencias com greve, vivo cada semana com incertezas. Já fazem 8 semanas que não sei o que a próxima semana me espera, se é sala de aula, parar a Consolação ou levar porrada da policia.