Professores da rede estadual decidem suspender a greve em São Paulo

Com o fim do movimento, as aulas na rede pública estadual devem voltar ao normal na segunda-feira (15)

da Agência Brasil

Às vésperas de completar três meses de paralisação neste sábado (13), os professores da rede pública estadual de São Paulo decidiram na tarde de ontem (12), em assembleia no vão-livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), suspender a greve que teve início no dia 13 de março.

Os professores reivindicam reajuste salarial de 75,33%. A greve foi suspensa apesar de o governo paulista não ter apresentado qualquer proposta de reajuste aos grevistas.

A decisão provocou muita divisão entre os professores. De manhã, o conselho do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) havia decidido, em reunião, levar para a assembleia a suspensão da greve, com a manutenção da mobilização, pedindo apoio inclusive de outros movimentos tais como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Um grupo de professores, de outra corrente política, protestou muito contra o fim da greve, com vaias e gritos como “Não tem arrego” e “A greve continua”. No entanto, a suspensão foi aprovada pela imensa maioria dos professores presentes ao ato.

Esta foi a maior greve da história do sindicato, que representa cerca de 180 mil professores e é um dos maiores da categoria em toda a América Latina.

Na assembleia anterior, quarta-feira passada, já havia ocorrido uma divisão do movimento. Apesar da manutenção da greve ter sido aprovada, houve um princípio de tumulto na semana passada, inclusive com ovos sendo arremessados em direção ao caminhão de som onde se encontravam os dirigentes do sindicato.

Fim da greve emociona professores

A decisão dos professores de São Paulo de encerrar a greve de 92 dias emocionou a maioria. Embora não falassem em derrota, mesmo sem o governo propor qualquer reajuste para a categoria, o que se viu após o resultado da assembleia foram muitas lágrimas, inclusive da presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel Azevedo Noronha.

Com o fim do movimento, as aulas na rede pública estadual devem voltar ao normal na segunda-feira (15). “[A greve] foi suspensa porque houve uma reclusão. Uma paralisação de resistência acabou se transformando em greve pela sobrevivência. Quando isso ocorre, é hora de parar e fazer um balanço. Os professores têm famílias e contas a pagar. É lamentável que a greve tenha parado sem conseguir o reajuste, mas o governo também deve fazer seu balanço”, explicou Maria Izabel.

Amparado por uma decisão da Justiça, o governo paulista estava descontando os dias parados dos grevistas, o que, para o sindicato, diminuiu a adesão nos últimos dias. De acordo com o governo, 98% dos professores estão em sala de aula. Números do sindicato indicam que, desde o início, a greve teve uma adesão média de 60% dos professores, embora na última semana tenha chegado a apenas 10%.

“Tem hora em que é preciso ter responsabilidade política. É doloroso para mim suspender uma greve com zero de reajuste”, informou a presidenta do sindicato. Segundo ela, a decisão não representa uma derrota para o movimento ou para o sindicato. “A derrota é do governo, que não teve capacidade de negociar.  A derrota não é nossa. A greve sempre deixa um saldo. Ainda vamos assistir ao saldo dela.” Maria Izabel acrescentou que, apesar de suspenso, o movimento deve continuar com ações em defesa da escola pública.

A Secretaria de Educação informou ter colocado 35 mil professores substitutos para garantir o funcionamento as escolas. Po meio de nota, a secretaria adiantou que, “em eventual necessidade, o conteúdo será reposto alinhado ao compromisso prioritário da secretaria com o direito incontestável dos estudantes em aprender.

Segundo Maria Izabel, a reposição ainda será negociada com o secretário de Educação, Herman Voorwald. “A reposição tem de ser discutida nas escolas, no conselho das escolas. Nossa defesa é que todos os professores que participaram da greve tenham o direito à reposição. O governo diz que contratou professor temporário para cobrir as aulas, mas, na verdade, o conteúdo não foi trabalhado. Quem vai perder com isso são os alunos.”

Professor de história, Ronaldo Mercês, de Embu das Artes (SP), votou pela suspensão da greve. “Acho que foi uma decisão acertada da assembleia por conta do refluxo dos últimos dias. Não é final que esperávamos, mas, por conta das circunstâncias, acho que foi acertada.”

Mercês destacou que ainda não sabe como será a reposição das aulas, mas afirmou que os professores têm interesse em repor, “desde que não seja feita de qualquer jeito”. Os professores ainda aguardam o julgamento de um dissídio de greve no Tribunal de Justiça, que não tem prazo para ocorrer.

Na nota, a Secretaria Estadual da Educação informou ainda que, “desde o princípio, a gestão garantiu a construção de uma nova política salarial, ofereceu outros benefícios aos docentes e concedeu aos professores 45% de aumento em quatro anos, além de oferecer mecanismos de promoção por mérito e desempenho.”

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