Candidato a Prefeito, Lelo Pagani não se classifica como oposição, nem situação: independente

Vereador quer se apresentar como terceira via para eleições municipais, confira entrevista

por Sérgio Viana | Fotos Flávio Fogueral

Falta menos de um ano para o inicio do processo eleitoral que definirá as próximas gestões municipais. Em Botucatu, o atual prefeito – João Cury (PSDB) – não poderá se reeleger e os rumores de quem poderá ser seu sucessor, ou ao menos se lançar candidato na disputa pelo Executivo botucatuense, só aumentam.

A fim de pautar a política local, oferecer aos nossos leitores conteúdo que possa colaborar com sua avaliação na hora do voto e dar voz às diferentes vozes que pleiteiam o mesmo cargo, o Notícias.Botucatu iniciará uma série de entrevista com candidatos que, ao menos agora, já assumem tal postura. O primeiro será o vereador Lelo Pagani, que recentemente deixou o Partido dos Trabalhadores para ingressar na REDE Sustentabilidade, partido recém criado.

Em sua entrevista Lelo Pagani assume sua cancidatura a Prefeito nas próximas eleições e comenta sobre sua decisão de mudar de partido, sua visão sobre o desenvolvimento de Botucatu e sua perspectiva do cenário político local. Confira a entrevista na íntegra abaixo, em áudio ou texto.

Como você estava se sentindo neste período, em que você anunciou sua saída do Partido dos Trabalhadores (PT), e como foi essa transição?

Meu ciclo no Partido dos Trabalhadores durou 12 anos e eu vi que não tinha mais condições de continuar no PT, por algumas questões nacionais e outras locais, que me impediram de crescer, de fazer alguma coisa, como disputar a Prefeitura, por exemplo, ser mais ouvido no Partido. Havia lideranças internas ali, que não deixaram ter esse crescimento, não só meu, mas como de outras pessoas que já saíram. Então, surgiu a oportunidade da gente montar esse partido, já há dois anos, e cumprimos com todas as obrigações legais dentro do Partido dos Trabalhadores, e ao mesmo tempo, desde a assinatura de apoio para o lançamento deste partido [REDE Sustentabilidade], nós colaboramos de todas as formas para que ele fosse lançado, como foi agora, no dia 23 de setembro. Demorou bastante, né? E agora eu estou numa nova casa, me sentindo muito bem, num partido que me dátotal liberdade. Estou até me achando com muita força, porque realmente eles escutam bastante e essa é a política que a gente prega e que eu gostaria de ver em todos os partidos. [A política] de não ter um coronel, de não ter uma pessoa que comanda e diz “esse partido é meu”. O partido está aberto para filiações, existe uma pesquisa sobre as pessoas, para saber se realmente ela tem o entendimento do conteúdo programático do partido e nós vamos acompanhá-los. Mas não é um policiamento o que a gente vai fazer, porém, serve para evitar pessoas que não tem nada a ver com a linha partidária. É uma coisa muito bacana o que está acontecendo, porque Botucatu se tornou um pólo regional dessa nova corrente política. Eu acho muito interessante, porque o que eu vejo é que o sistema político está falido, então se não houver uma mudança nesse sistema, não vai mudar nada. Foi feita a reforma política, que praticamente não mexeu em nada, então, [é preciso] mexer no estatuto dos partidos pra mudar alguma coisa.

Você chegou a concorrer na última eleição do diretório municipal do Partido dos Trabalhadores, até então – para ter a chapa e concorrer – você estava demonstrando um grande interesse e vínculo com o partido. Então, logo depois da sua chapa ser derrotada, você anuncia sua saída do PT. O que foi que aconteceu? Você disse que há questões em âmbito nacional e local, mas o que realmente gerou esse rompimento? Deixar um partido do qual poderia assumir a direção e ir para outro.

Exatamente isso. Porque o Partido dos Trabalhadores cresceu demais e se burocratizou demais, é um partido extremamente burocrático. O PT é um elefante branco, pra andar dentro do PT, você passa por tantas discussões, que você perde um tempo muito importante. Numa dessas discussões, etapas internas, para você ser ouvido [é necessário] ter maioria dentro do Diretório Local e da Executiva. A votação é feita proporcional, então nessa eleição que você está falando o nosso grupo conseguiu 40% dos votos, e o grupo que eu acho que cerceou muito as pessoas dentro do partido teve 60%. Então, a partir desse momento, todo mundo ficaria na mão deste grupo que eu gostaria de não ver liderando o partido. Eu não poderia chegar numa eleição agora (2016) e estar na mão desse grupo, e falar se eu serei vereador, ou candidato à vice-prefeito, ou se não vou ter direito à vaga. Todo o 40% que perdeu, ficou na mão dos 60%. Por mais que tivéssemos 40% do partido e que pudéssemos nos expressar a decisão, com certeza, ficaria com os outros 60%.

Entrevista Lelo Pagani

Você mesmo citou a questão de falta de espaço para crescer dentro do partido, muitas pessoas do meio político, inclusive militantes do PT, alegam sua intenção de se candidatar à Prefeitura e não ter essa oportunidade por causa do Ielo, que é ex-prefeito e seria o nome mais cotado entre a militância. Mas um pouco antes de você entrar na REDE, o próprio Ielo deixa o Partido dos Trabalhadores. Isso não te fez repensar sua saída, na tentativa de ganhar novo espaço?

Não fez, porque a partir do momento que a gente perdeu a eleição, com os 40% dos [votos], eu já vi que, no futuro, eu não poderia ficar na mão desse grupo que ganhou. Ali terminou meu ciclo no PT. Se 60%, a maioria, não estava tendo o mesmo entendimento que eu, então quer dizer que eu não poderia ficar naquele grupo. Foi aí que eu comecei a procurar uma opção, que foi a REDE, já naquele período. Então, eu já tinha o compromisso com essas pessoas desde aquele momento, muitos ex-petistas, pessoas com quem a gente se dá bem e tem um estilo de pensamento parecido. Eu nunca imaginava que o Ielo iria sair do partido, o que aconteceu, praticamente, uma semana antes da criação da REDE, não tinha como inverter o jogo e dizer “agora eu vou ficar”, porque é uma coisa que se constrói e eu já estava construindo há quase dois anos. Então, não tem como em uma semana reverter uma situação dessas.

Tanto em seu mandato atual, que termina no próximo ano, quanto no anterior, você foi eleito como oposição e hoje o vereador Lelo, da REDE, é oposição, situação, articulação? Qual é o papel do vereador Lelo Pagani dentro da Câmara?

Hoje o papel da REDE é independente. Nós temos total liberdade de votar no que for melhor pra Botucatu, como, por exemplo, na segunda-feira passada nós votamos contra um projeto do governo [municipal] e na retrasada a favor de outro projeto. A gente não reza na cartilha nem da oposição, que faz hoje uma oposição pela oposição, o que eu acho uma coisa horrível, e nem na da situação, de votar simplesmente favorável ao que é dito pelo Prefeito, independente do projeto. A gente pensa. E o Legislativo tem que ser independente.

E você, independente da REDE, como político, vereador, analisando a gestão atual e dos quatro anos anteriores, se vê de que lado?

Na verdade a gente está independente mesmo. Eu não me vejo nem do lado do Ielo, nem do lado do João. Nossa intenção é discutir isso e ter uma terceira via em Botucatu, pra que a população possa ter a oportunidade de uma outra opção.

Sobre os rumores da sua candidatura em 2016, você confirma isso já, ou não pode?

Confirmo, confirmo sim. A Executiva nacional já está estudando alguns nomes no Brasil e, aqui no interior de São Paulo, Botucatu é uma das cidades que eles contam que se lance um candidato a Prefeito.

Qual é a sua proposta? Qual a sua visão para Botucatu, com semelhanças e diferenças, do que é feito hoje pelo prefeito João Cury (PSDB) e também da gestão do seu ex-correligionário, Mário Ielo (PT)? Como você vê e deseja o desenvolvimento de Botucatu?

É legal você perguntar isso, porque eu fui líder do Ielo aqui na Câmara, depois eu fui líder de oposição contra o João, agora tem essa oportunidade de estar independente – em outro partido – de ver de outra forma. A gente sabe o que é melhor pra Botucatu. Pode errar, mas a gente acompanhou os dois. Cada um por 8 anos e com um estilo [próprio] de administração. Mas nós vemos que é possível ter um desenvolvimento sustentável dentro da linha programática da REDE Sustentabilidade. Você pode ter um crescimento sustentável social, um crescimento sustentável econômico. Eu acho que o Ielo era muito retraído, que ele fazia um governo certo, sério, mas retraído, sem muito arrojo. O João já é mais acelerado, ele corre atrás e faz acontecer. Mas a gente tem que ver as contas do município e as condições, pra ver se a cidade comporta [se desenvolver] numa velocidade tão grande, se não está ficando coisa pra trás, se o lado social não está sendo deixado de lado. Se todos os bairros de Botucatu estão crescendo com qualidade de vida. Desenvolvimento com certeza, mas com que qualidade de desenvolvimento?

O crescimento de Botucatu é inegável, ainda mais se você for falar de moradia, assim com em outras cidades do Brasil, os bairros populares e os prédios residenciais para diversas classes sociais cresceram bastante. Em Botucatu, temos o exemplo de novos bairros periféricos sem espaços públicos, com falta de hospitais, com falta de escolas. Isso que você está falando sobre arrojo, da velocidade, disso surgiu a falta de planejamento? Como você vê essa questão hoje, acha que Botucatu é uma cidade preparada para os próximos anos? É uma cidade que privilegia o cidadão?

Eu acho que nessa discussão a gente tem que ouvir mais as pessoas, está faltando esse tipo de diálogo. As pessoas têm que ser mais ouvidas para que a administração erre menos. Estamos terminando agora a discussão do Plano Diretor e a gente sabe que o Plano já é uma carta de intenções do que queremos para o futuro de Botucatu. Uma coisa é certa, o próximo Prefeito terá que fazer algum investimento na área de infraestrutura viária. A cidade não tem mais condições de ficar do jeito que está. Agora, como é que você vai conseguir isso? A cidade tem dinheiro? Não tem. Esse é o tipo de obra, que tem que ter o financiamento do Banco Mundial ou do Governo Federal, agora estamos numa crise. Nós vamos ter que pensar, que ter projeto, e vender, conseguir esse dinheiro pra fazer os investimentos que precisa. Creche, por exemplo, é preciso uma política de creche na cidade, pois a gente sente hoje que faltam vagas, para as mães poderem ir trabalhar tranquilas. Está faltando ouvir as pessoas. Por exemplo, as mulheres que estão saindo cada vez mais de casa para trabalhar, elas precisam trabalhar sossegadas, com seus filhos em um lugar tranqüilo, seguro, enfim. Isso está faltando perto desses bairros. Importantíssimo essa política habitacional do João, isso é positivo, ele trouxe muita casa, mas ta faltando esse complemento.

Caso você concretize sua candidatura e seja eleito, para executar estes projetos serão necessárias alianças. Você já tem apoio político?

Nessa votação da mini-reforma política que teve, nós [REDE] tivemos muita sorte de ganhar seis meses. Tinhamos um prazo muito pequeno, até o dia 2 de outubro, em que já estaria fechado todo o tipo de forma de você colocar e filiar as pessoas nos partidos. Então, nós ganhamos seis meses, até 2 de abril, até lá podemos filiar novas pessoas à REDE e também ter conversas com outros partidos e eles também fazerem filiações. A gente está na época de namorar os outros partidos e ver que partido tem coincidências programáticas, com quantos candidatos a vereador queremos sair.

A situação política de Botucatu favorece? Pois tivemos uma eleição (2012) com dois blocos grandes e um candidato do PSOL, onde o bloco vencedor elegeu quase dois terços da Câmara de Vereadores. E agora já vemos algumas pessoas saindo, anunciando outros rumos para as próximas eleições. Você acha que esse é o momento de diálogo e que haverá espaço para uma outra política, para outra candidatura que não seja a da situação?

Eu acho que sempre é o momento, mas agora que a gente começa a discutir a eleição que vai ser já (2016) as pessoas ficam abertas para esse tipo de conversa. Então, eu acho que temos condições de fazer várias coligações interessantes para ter também uma boa quantidade de candidatos a vereador e ajudando numa eleição para Prefeito.

Nacionalmente, a liderança do seu partido, Marina Silva, é uma pessoa bem criticada por causa das alianças que ela promove. Muitas vezes defendendo alguns valores e criando alianças com posições diferentes. Na própria formação da REDE há pessoas provenientes de diversos partidos, como a Marina, ex-PV e ex-PT, e Walter Feldman (PSDB). Enfim, a REDE é bem criticada pelas alianças, você se preocupa com isso em Botucatu? É possível fazer uma política digna e correta na cidade?

Esse foi um dos questionamento que fizemos à Executiva nacional, que tipo de alianças será possível fazer nas cidades, se há algum partido que tem um ‘não’, ou não. Mas a Executiva nacional vai respeitar as alianças locais. A REDE não vai dizer não ao PT ou PSDB, vai respeitar a política local. Se for positivo para a cidade, aliança A, B ou C, vai acontecer. Mas é claro que as alianças sempre preocupam, eu estou comparando em uma cidade. Agora, sobre as alianças nacionais, existe todo um “porque” da Marina ter se filiado ao PSB e, no segundo turno, ter apoiado o PSDB, inclusive por uma série de problemas que ela teve com o PT.

Pra finalizar, como é agora sua atuação dentro da Câmara, na REDE, muda algo da sua linha de projetos? Quais suas prioridades agora sobre Botucatu?

A minha forma de atuação [tem a ver com a REDE], tanto que fui procurar a REDE por causa disso, o Estatuto, a forma horizontal de conversa. É uma coisa que eu já vinha fazendo, fiz desde o inicio. Também tenho muitos projetos ligados ao meio ambiente e a sustentabilidade não é só meio ambiente. A sustentabilidade hoje é econômica, é social e também do meio ambiente. Mas a minha atuação na Câmara, hoje, vai continuar como sempre foi, em benefício de Botucatu e região, colocando sempre a qualidade de vida em primeiro lugar. Parece algo fácil de falar, mas é muito difícil de acontecer. É preciso visitar os bairros, visitar empresas. Não existe melhor projeto social do que o emprego, nós estamos vivendo uma crise, um momento de desesperança, e a gente tende a ajudar que essas pessoas criem mais empregos e dêem mais opção à população. Esse tipo de coisa eu sempre fiz e vou continuar fazendo.