Ex-presidente da Câmara dos Deputados visita Botucatu e analisa futuro do PT

Visita do deputado Arlindo Chinaglia integra ações do partido em reaproximar parlamentares de sua militância

Texto e Fotos por Flávio Fogueral

"Temos que fazer com que o PT recupere a confiança da sociedade" . Essa é a avaliação do deputado federal Arlindo Chinaglia, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, sobre a atual conjuntura da política nacional. O parlamentar visitou Botucatu nesta sexta-feira, 13 de novembro, como parte das ações do diretório estadual em aproximar os parlamentares das suas bases de atuação, além de outros municípios paulistas.  

Chinaglia se reuniu com petistas de Botucatu e Avaré
Chinaglia se reuniu com petistas de Botucatu e Avaré

Participaram da reunião na sede do PT local, filiados e coordenadores regionais. Os vereadores Carlos Trigo e Francisco Barreto, de Avaré. Durante o encontro foram debatidos os cenários locais e nacional, bem como o enfrentamento da crise econômica e da instabilidade política do governo Dilma Rousseff.

Antes de se reunir com membros do Diretório Municipal do PT de Botucatu, Chinaglia concedeu entrevista à rádio Clube FM, onde avaliou o governo da presidenta Dilma Rousseff e reconheceu que há diversos erros de decisão, o que tem causado instabilidade política no país. Descarta, portanto, que a mandatária do Executivo seja afastada do cargo. Diz que o clima é diferente entre um país democrático e o existente na véspera do golpe militar de 1964. 

"Ultrapassou a tese de terceiro turno (em referência às tentativas de partidos de oposição em iniciar o processo de impeachment), porque na hora em que não tem nenhum fato determinante para pedir o afastamento de um presidente e usa da tua insatisfação, que pode até ser legítima, e dizer "este governo não me atende e vou tirá-lo" descumprindo com a ordem legal constitucional é colocar em risco a democracia. Hoje não é apenas a defesa de um governo, mas da democracia", ressaltou.

Médico, o parlamentar foi presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Sindicato dos Médicos do Estado de São Paulo. Deputado estadual em 1990, está em seu 5º mandato como deputado federal. Entre 2007 e 2009 foi presidente da Câmara dos Deputados, no segundo mandato do presidente Lula. 
Em reunião com filiados, o deputado ouviu pontos relativos a aproximação do partido com movimentos sociais, sindicais e de representação de classes. 

Chinaglia disputou este ano a presidência da Câmara dos Deputados, sendo derrotado por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que rompeu relações com o governo de Dilma Rousseff. Cunha obteve 267 votos e o petista, 136.

A visita de Chinaglia pela região prosseguiu em Bauru, onde o mesmo gravou entrevista com uma emissora local. Confira abaixo os principais trechos da conversa do Notícias.Botucatu com o deputado.

Notícias Botucatu- Um dos principais pontos abordados na reunião com os filiados foi esse 'repensar' o PT. Como o partido tem se visto diante da sociedade dentro dessa crise de identidade que passa atualmente? 

Arlindo Chinaglia- O PT não tem uma crise de identidade quanto aos valores que construímos. Somos um partido que quer a transformação social, tos uma militância cujo único capital é um sonho. O problema é que, frente aos casos de corrupção, onde atribui-se a vários partidos políticos, e ao PT também, responsabilidade na situação, gera uma necessidade de se debater o assunto, o que na minha opinião é uma qualidade. O pior seria o PT fugir do debate. Agora o que nos preocupa é que se o partido depender da opinião de muitos que ficam nas redes sociais é que o PT é o mais corrupto. Há muitos corruptos querendo nos colocar esta carapuça e isso não aceitamos. Estão desafiados a demonstrar que todos da militância do PT de Botucatu seja corrupto. Não é o PT quem compra eleição. 

NB- Desde o final do segundo turno da eleição que reelegeu Dilma Rousseff,  ocorrem movimentos que pedem o impeachmeant da presidenta. Esse risco ainda existe, em sua opinião?

"Há muitos corruptos querendo nos colocar esta carapuça e isso não aceitamos. "

Arlindo Chinaglia– Tivemos exemplos na História com o Juscelino (Kubitschek) onde tentaram impedir que ele fosse candidato. Tentaram impedir que a Dilma fosse candidata. Tentaram que ele tomasse posse; o PSDB tentou que a Dilma não tomasse posse. Depois, tentaram tirar o Juscelino do poder, com CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) e agora tentam tirar a Dilma. Qual a diferença? Naquela época os militares não só no Brasil como na América Latina estavam dispostos a dar sustentação a essas 'aventuras' antidemocráticas. Hoje, não estão. Ultrapassou a tese de terceiro turno (em referência às tentativas de partidos de oposição em iniciar o processo de impeachment), porque na hora em que não tem nenhum fato determinante para pedir o afastamento de um presidente e usa da tua insatisfação, que pode até ser legítima, e dizer "este governo não me atende e vou tirá-lo" descumprindo com a ordem legal constitucional é colocar em risco a democracia. Hoje não é apenas a defesa de um governo, mas da democracia.

NB- Segundo reportagem publicada pela Folha de S. Paulo, o PT perdeu 11% dos prefeitos que elegeu em 2012. (Leia a matéria aqui) Como o partido analisa esta situação e de que forma tem se preparado para as próximas eleições municipais? 

Chinaglia- Foram eleitos mais de 60 prefeitos eleitos e saíram 20. Por quê? Na medida que alguém que é prefeito quer se reeleger é extramente pressionado porque as pessoa chegam e dizem "gosto de você, mas não gosto do PT". Estou cheio de amigos que dizem isso para mim. Você viu na reunião que o vereador de Avaré dizendo que foi procurado por empresários da cidade que querem me eleger prefeito, mas não aceitou sair do PT. Tudo depende da convicção política-ideológica de cada um. Não vejo o PT ou qualquer partido como um objetivo em si. São instrumentos, assim como sindicatos, associações de bairros também o são. O PT está nesta efervescência exatamente para que o partido, não só do ponto de vista eleitoral, mas se querermos recuperar a autoridade que sempre tivemos; precisamos fazer com que o PT recupere a confiança da sociedade. Hoje, muitos ignorantes, aqueles que não participam da política ou não deram um minuto de sua vida ao próximo, chegam com a pretensa autoridade de nos criticar. E queremos fazer esse debate com a sociedade.

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