Quanto pior melhor
Há muita gente que trabalha melhor no lamaçal do que em terreno limpo
por Bahige Fadel*
Você deve saber que existem muitas pessoas que defendem essa máxima do título: Quanto pior melhor. E não são poucas. Há muita gente que trabalha melhor no lamaçal do que em terreno limpo. Sentem-se mais confortáveis na podridão. Conhecem os meandros da coisa putrefata. Nela, sentem-se felizes. Nela, acham que podem conseguir as melhores vantagens. Se percebem que não há podridão, não fogem, mas jogam lama para sujar o que estava limpo. Nesse terreno começam o trabalho lucrativo. Associam-se a seus iguais e começam a recolher os seus lucros. Sim, nesse tipo de terreno não se trabalha sozinho. Os amigos da podridão associam-se e se tornam cúmplices. Ganha-se mais e por mais tempo, dividindo-se os lucros. Assim, a menos que haja algo imprevisto, ninguém denuncia ninguém. Mas é preciso que todos estejam satisfeitos na distribuição do dinheiro pobre. Se houver alguma insatisfação, Deus me livre! É sujeira para todos os lados.
É só ver o caso do Collor. Foi o irmão dele que começou toda a história. É só ver o caso do mensalão. Foi o Roberto Jefferson, que estava insatisfeito com a distribuição do dinheiro, que botou a boca no trombone. E assim por diante. É assim que a coisa funciona.
Esses dias, estava acompanhando o noticiário do futebol, quando ouvi alguma coisa sobre a substituição do Marin, que está preso nos Estados Unidos, na CBF. Haveria uma reunião na FPF, entre os presidentes dos clubes paulistas da primeira divisão do futebol brasileiro, para se decidir sobre quem seria o indicado para esse posto, que é muito importante, pois é o primeiro na escala de substituição do presidente, que também anda envolvido nas maracutaias da vida e está sendo denunciado aqui e ali, com a possibilidade de perder o cargo.
Pois bem, o que qualquer cidadão comum pensaria nessa situação? Já que esse pessoal está afundado até o pescoço em problemas de ordem legal e ordem moral, vamos colocar alguém diferente, alguém com o nome limpo, alguém que não faça parte da corriola envolvida nesse imbróglio todo. Seria a grande chance de o futebol brasileiro começar uma revolução ética sem precedentes no país, que serviria de exemplo para outros setores. Seria o início da redenção ética e moral do futebol brasileiro, que anda combalido há muito tempo e que está ferido mortalmente, com poucas chances de recuperação, desde os famigerados 7 a 1 da copa do mundo, ou, como preferem alguns, dos 10 a 1, já que computam os dois últimos jogos.
E o que aconteceu nessa reunião, olímpico leitor? O quê? Um segundo para pensar. Se não tiver certeza da resposta, pode pedir ajuda aos universitários. Já sabe? É isso mesmo. Os caciques do futebol paulista fecharam com um pau mandado do Del Nero. Isso pode? No futebol brasileiro, pode. É o pessoal que se sente mais à vontade na lama. Esse pessoal não sabe trabalhar em terreno limpo. É o pessoal que quer mudar, para que tudo fique igual. Mudar para não mudar. É um paradoxo, eu sei, mas não é o primeiro paradoxo do futebol brasileiro.
Isso é o que leva a gente à descrença. Como acreditar nessa gente? E pensar que o presidente do clube pelo qual você torce está no meio dessa podridão. Vai acreditar, só porque é do seu time? De jeito nenhum. O negócio é parar de torcer por qualquer time e deixar que eles se explodam sozinhos. O negócio é fazer o que muitos já estão fazendo no Brasil: torcer pelo Barcelona, pelo Real Madrid, pelo raio que o parta. Pelo menos, assim, você só se preocupará com o futebol, não com conchavos que visam a solucionar problemas particulares e enlamear ainda mais a ética e a moral em nosso país.
* Bahige Fadel é professor do Colégio La Salle, ex-dirigente e ex-supervisor regional de Ensino. É membro da Academia Botucatuense de Letras.