Prefeito faz um balanço de sua administração e comenta sobre seu futuro político
por Sérgio Viana. Fotos: Flávio Fogueral
Na manhã desta quinta-feira (14), aniversário de 161 anos de Botucatu, a reportagem do Notícias.Botucatu esteve presente no desfile cívico que acontece tradicionalmente na Rua Amando de Barros. Num palanque montado em frente à Praça Comendador Emílio Pedutti (do Bosque), diversos vereadores, políticos e outras autoridades cercavam o Prefeito João Cury Neto (PSDB) e acompanhavam as escolas e entidades que ao desfilar faziam uma parada especial de exibição naquele ponto.
Após mais de 7 anos de dois mandatos consecutivos, sem a possibilidade de se reeleger, mas com uma boa popularidade frente aos botucatuenses, João Cury, que também é presidente do PSDB, acredita que está chegando ao encerramento de um ciclo e que, no momento, um de seus desafios é conquistar a eleição de seu candidato sucessor, Mário Pardini.
O Notícias.Botucatu entrevistou o chefe do Executivo municipal, onde ele faz um resumo de seus mandatos e comenta sobe o que acredita serem os novos desafios da gestão de Botucatu. Cury nega estar preocupado em disputar votos futuramente, mas que deverá se dedicar ainda mais à política.
Gostaria de um resumo destes 8 anos em que você está a frente do Poder [Executivo] municipal. Como você se vê chegando nesta reta final, sem a reeleição no seu caso, apoiando um outro candidato, e enxerga Botucatu após estes período?
Olha, acho que a cidade está de parabéns. [Botucatu] é uma cidade, hoje, muito mais resiliente, com uma capacidade muito grande de superar desafios. E vejo inúmeros desafios para serem vencidos. A cidade ainda precisa de muita coisa, é preciso se fazer muito mais, mas também é um momento… aniversário [de 161 anos], dia de festa, é um momento de reflexão de olhar também pra trás e ver o quanto que a cidade conquistou, avançou, e refletir o que nós precisamos fazer para esse novo ciclo, que vai se iniciar a partir de janeiro de 2017. Sem dúvida nenhuma, nós encerramos um ciclo, oito anos é praticamente uma década. Então é o momento da gente traçar um diagnóstico das conquistas sociais, que nós tivemos ao longo dos últimos anos, e projetar um novo momento de desenvolvimento e de prosperidade pra esse futuro próximo que se avizinha. Mas eu acho que cidade hoje, é uma cidade mais humana, mais generosa, mais solidária, que busca ser uma cidade mais inclusiva. Nós temos uma série de conquistas ao longo desses anos, que transformaram a vida de alguma pessoas, hoje existem famílias que se sentem mais incluídas,que se sentem com mais oportunidades. Foi nesses últimos anos que Botucatu avançou, por exemplo, na área da Saúde [em que] a cidade construiu dois novos hospitais. Na área de sistema de urgência e emergência nós conseguimos dar uma contribuição grande, agora precisa melhorar a gestão. Nós não tínhamos antes de 2008 um pronto-socorro funcionando adequadamente, hoje nós temos um pronto-socorro adulto e um infantil. Hoje nós temos, por exemplo, o SAMU, que já existia no Governo Federal desde 2003 e nós trouxemos em 2011. Então, nós abrimos novos serviços. Na área da Educação, a inclusão na primeira infância foi uma loucura. Na área da Ciência, Tecnologia e Inovação, nós colocamos Botucatu no mapa do desenvolvimento desta área, através do Parque Tecnológico, PoupaTempo, shopping, o aquecimento do comércio. Claro que estamos enfrentando um momento de dificuldade, de crise, mas a abertura desses serviços coloca um novo desafio para os gestores públicos que virão. É um processo de melhoria continua na gestão pública, então a abertura dos serviços é importante, mas ela por si só não resolve o problema das pessoas.
Qual você acha então que será o maior desafio do próximo Prefeito de Botucatu, seja ele o seu candidato (Mário Pardini) ou não?
Eu acho que é dialogar com a sociedade e entender quais são as aspirações da população. Reconhecer os avanços e entender os desafios que temos até agora. Nós temos um diagnóstico. A cidade, seguramente, é diferente de 2008 e é bom que seja. O próximo Prefeito é importante que ele se aproprie da cidade que nós temos hoje, faça um bom balanço e reconheça aquilo que precisa ser melhorado. É sempre possível fazer mais, fazer melhor, fazer diferente. Da nossa parte nós temos que entregar o bastão da melhor forma possível, porque na política as grandes conquistas vem por acumulação, não vem por ruptura. É bobagem a gente imaginar que a gente vai romper um ciclo pra começar outro. Nós precisamos ter a grandeza de reconhecer aquilo que foi bem feito, aquilo que melhorou, e traçar um diagnóstico pras coisas que não foram feitas e projetar as soluções pra esse futuro que nós temos.
João, você também é presidente do PSDB [Botucatu], sua atuação política local, no Estado, e até nacionalmente pode ser importante. Como você vislumbra o seu pós-mandato politicamente? Pensa em futuras eleições em Botucatu ou em nível estadual?
Neste momento eu não estpu pensando em eleição, hoje como presidente do partido e um agente político, a minha missão partidária é tentar fazer o nosso sucessor, eleger o Mário Pardini o próximo prefeito, faz parte do nosso grupo, do grupo de partido que nos apóiam, é tentar levar o Pardini à população com uma mensagem de esperança e de trabalho. Eu gostei muito [de ser Prefeito], foi minha primeira experiência na área pública. Eu era um advogado que trabalhava no setor de serviços da iniciativa privada, mas eu gostei muito da gestão pública, e acho que muitos gargalos que o Brasil tem hoje podem ser resolvidos, não só com mais investimentos, mas com mais gestão. Melhoria continua no processo de gestão pública. Eu quero ver se eu me especializo e me aprofundo [na questão da gestão pública] para poder enfrentar novos desafios, conhecendo melhor as novas ferramentas de gestão pública, que hoje é o gargalo do Brasil. Não necessariamente a gente precisa de mais dinheiro, isso é importante, mas tem muitas áreas que com mais articulação, ouvindo melhor as pessoas, articulando a sociedade, a gente consegue enfrentar os desafios que estão colocados. Eu quero me dedicar a isso. No próximo ano, não sei se eu vou estar aqui ou não, mas eu quero ajudar o Pardini. A minha missão também é, se o Pardini for Prefeito, é ajudar ele a não cometer os erros que eu cometi. Eu acho que tenho uma experiência que pode auxiliar naquilo que eu for convidado a opinar.
Em 2012, você era candidato à reeleição. Era o Prefeito e candidato. Nesta, como você mesmo disse, tem uma responsabilidade grande e o compromisso de tentar eleger o seu candidato. Você não teme que isso de certa forma possa atrapalhar seu trabalho como gestor público de Botucatu, sendo um cabo eleitoral durante a campanha?
Eu acho inevitável que o dia a dia da administração, de alguma forme, fique contaminada pelo processo eleitoral. Por mais que a gente trabalhe no sentido contrário, a Prefeitura vive também um ambiente político, os políticos trabalham ali, exercem suas atividades, é onde se constrói um relacionamento político com os outros poderes. E no período eleitoral essa situação é mais sensível, então é difícil você separar o dia a dia da administração do ambiente político. No período eleitoral a política contamina as discussões e conversas, e isso já está acontecendo. Mas é importante que a gestão pública não perca o foco. É salutar que os agentes políticos que estão no Poder façam política. Eu disse hoje em meu discurso do ato cívico, que a política é importante. No momento que nós estamos vivendo, a pior coisa que pode-se viver neste país é a despolitização do povo. A negação da política é a porta de entrada para o arbítrio. O que nós estamos vivendo é uma tentativa, e não é do partido X, Y ou Z, de alguns movimentos de despolitizar a população, de negar a política, de desconhecer o imperativo da lei e questionar as instituições democráticas. Isso nós não podemos. Todos os partidos têm o compromisso, neste momento de instabilidade e insegurança, de afirmar que a política é uma das melhores ferramentas de transformação social. E, portanto, negar a política não acho que é a melhor forma. Foi pela política que nós, por exemplo, há um anos atrás, conseguimos tirar pessoas que comiam no chão uma maçã, passando o dia inteiro em frente ao Hospital das Clínicas [da Faculdade de Medicina de Botucatu], que é um dos maiores hospitais do Estado de São Paulo. Foi pela política que as pessoas hoje comem a 1 real, um prato de comida decente e digno. Foi pela política que as pessoas conseguiram suas casas, foi pela política que os hospitais foram construídos. Então nós não podemos negá-la. Nós temos que ter muito cuidado. Eu vejo neste momento de crise profunda, a tentativa de alguns até pedindo a volta do regime militas, nós não podemos imaginar isso. Nós não podemos imaginar um retrocesso deste tamanho. Então é importante que os homens públicos façam e falem de política e na gestão pública é inevitável que isso também seja debatido todos os dias até o final do mandato.