O muro de metal erguido por presidiários na capital federal reflete a intolerância do nosso tempo, a dificuldade do diálogo
Evandro Fiorin
Passado o tempo da Guerra Fria, da polarização do comunismo x capitalismo, da cidade de Berlim dividida, vimos surgir novos muros por todas as partes do globo. Em Israel, nas fronteiras europeias e agora em Brasília. A capital cujo desenho do arquiteto impelia pela espacialização libertária e democrática se vê agora cindida em seu âmago.
A esplanada dos ministérios, praça em continuidade, ágora da expressão pública, ao invés de abrigar um lugar de manifestação política, pode se tornar agora um campo de batalha.
O muro de metal erguido por presidiários na capital federal reflete a intolerância do nosso tempo, a dificuldade do diálogo e a ruptura definitiva da esperança de progresso econômico e social da época de JK.
Um final anunciado desde quando o plano piloto permaneceu intocado, enquanto as cidades satélites no seu entorno espelhavam as mazelas das cidades brasileiras. Um Brasil de trincheiras cada vez mais acirradas, entre os morros e os bairros, favelas e conjuntos habitacionais, condomínios exclusivos e o resto da cidade dos excluídos.
Essa sim, uma guerra urbana que não tem fim.
Tomara que possamos redesenhar nossas cidades, recuperar nossas esperanças e o nosso país do futuro se construir no presente para todas as pessoas. Que vença a democracia!
* Evandro Fiorin, arquiteto, é professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Unesp de Araraquara e integra o GPArC – Grupo de Pesquisa de Projeto, Arquitetura e Cidade.