Todo ano é o mesmo déjà vu: quando chegam os meses de novembro, dezembro, muitos jovens percebem que estudaram errado
por Nelson Letras
“Abrem-se as cortinas e começa mais uma disputa por vagas nas universidades brasileiras! Aulas, aulas e mais aulas… ser melhor que o outro… superar os adversários em matemática, física, química, português etc.”. Não, não, não; mais uma vez está tudo errado! O vestibular não deve ser encarado como uma competição, você não deve se preocupar em ser melhor que o outro; o objetivo não pode ser uma ânsia em superar “adversários”.
Todo ano é o mesmo déjà vu: quando chegam os meses de novembro, dezembro, muitos jovens percebem que estudaram errado, que o ano passou e parece que aprenderam pouco – se comparado a todo o tempo utilizado em classe. Ficaram preocupados em preencher seu tempo com o máximo de aulas – como se assistir a aulas expositivas fosse o necessário para adquirir conhecimento. A aula é o momento em que o aluno tem contato com o assunto, entretanto ele só vai realmente conhecê-lo, compreendê-lo, ao “estudar” aquilo que viu em sala de aula. Ele precisa refletir sobre aquele conteúdo, questionar, precisa revisar para não esquecer, precisa exercitar a leitura, a escrita (uma boa maneira é fazendo resenhas dos assuntos). Ser aluno é fácil, pois é só estar presente, assistir; mas ser estudante é mais difícil, requer leitura, dedicação, reflexão.
A ideia fixa de competição invadiu as escolas de nosso país. E isso é ruim, pois é uma maneira errada de educar. A partir do momento em que a criança cresce acreditando que tem de ser melhor que o outro, que tem de se preocupar apenas com sua nota, ela passa a ser condicionada assim não apenas para a melhor nota, mas também para trabalhar apenas para si. Infelizmente nossa sociedade está repleta de falsos profissionais, pessoas que trabalham, mas que não se preocupam em fazer um bom trabalho para o outro. É o médico que não exerce medicina, é o vendedor que não trata bem o cliente, é o advogado que só quer levar vantagem… enfim, essa falta de vontade em trabalhar pela sociedade é resultado, em grande parte, da educação competitiva recebida na escola.
O vestibular é a prova que avalia o conhecimento do estudante em matemática, linguagens e códigos, ciências da natureza e ciências humanas. É certo que o vestibular por ser um falso filtro exige dos candidatos muito conhecimento desnecessário para sua vida, porém, para se conseguir uma vaga na faculdade, é preciso passar por esse filtro. Ainda bem que o ENEM vem tentando acabar com essa “indústria do vestibular” realizando uma prova mais interpretativa, mais racional, com conhecimento mais prático. Também tenho críticas ao ENEM, pois é uma prova muito extensa, que ocorre em apenas uma oportunidade no ano, todavia ela começa a mudar o perfil daqueles que ingressam nas universidades federais. O processo é longo, mas já começou.
Meu conselho para aqueles que ainda estão no ensino básico, fundamental ou médio é: não estudem para a prova, estudem diariamente para ampliar conhecimento, para conhecer e refletir sobre o mundo ao nosso redor. A matéria deve ser acumulativa. Não importa se sua nota na prova não for um dez; o importante é você guardar um pouco daquele conhecimento para a vida, e não somente para a prova do fim de mês. Já para aqueles que estão fazendo cursinho, muito cuidado para não sobrecarregarem sua carga horária com aulas. Tenham horários livres para estudar em casa. Não acreditem que o maior de número de aulas a que assistirem corresponderá a um melhor desempenho no vestibular. Isso é falácia.
E lembrem-se: o conhecimento é para melhorar a sociedade, para que cada um desempenhe a sua função na sociedade, em benefício do conjunto e não apenas do “eu”. Um bom ano de estudo a todos! Cuidado com a alimentação, com a saúde. Deixem um tempo livre para praticar algum exercício físico. Eu sei que o conteúdo exigido nas provas é muito extenso, mas não é possível abraçar o mundo, tudo tem seu tempo. Se for necessário dividir o conteúdo em mais de um ano, não tenham medo, façam! Nós somos diferentes, alguns conseguem estudar dez horas por dia, outros, cinco horas. Façam um planejamento de acordo com quem você é e não deixem o vestibular tirar uma fase maravilhosa de suas vidas: a juventude.
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