O que comemorar em 516 anos de história?

Parece-me que até os dias de hoje “esta gente” precisa ser salva e só um povo que recebe uma educação emancipatória terá condições de ser salvo.

Cristiane Hengler Corrêa Bernardo

Conta-nos a história que aos 22 dias do mês de abril de 1500, 13 caravelas portuguesas, sob o comando de Pedro Álvares Cabral, aportavam solo desconhecido, hoje denominado Brasil. Quinhentos e dezesseis anos após a descoberta das novas terras o que se tem a comemorar?

O Muito e o nada estabelecem uma relação bastante antagônica, no entanto, não excludente. Os registros históricos, inegavelmente, relatam fatos que descrevem grandes conquistas, tais como a libertação dos escravos, a independência, a República, os direitos trabalhistas, a eleição direta, enfim, uma série de êxitos obtidos por um processo permeado por duras batalhas que culminam com a democracia.

Cristiane Hengler Corrêa Bernardo é doutora em Educação; mestre em comunicação midiática e graduada em Jornalismo. Atualmente é professora assistente doutora da Faculdade de Ciências e Engenharia da Unesp – Câmpus de Tupã.
Cristiane Hengler Corrêa Bernardo é doutora em Educação; mestre em comunicação midiática e graduada em Jornalismo.

No entanto, na outra perspectiva temos uma história marcada, a ferro, nas brasas da exploração. Exploração econômica; social; política; intelectual; cultural, em suma, uma nação extorquida em toda sua essência. Exatamente 516 anos de usurpação, extorsão, espoliação, desemposse, esbulho, defraude da nossa pátria amada que dos filhos deste solo deveria ser mãe gentil.

No passado antevia-se um futuro tão glorioso para a pátria ensolarada. Tal futuro ia além das riquezas obtidas com o descobrimento das novas terras. Tanto que Pero Vaz de Caminha, na carta que escreve ao rei D. Manuel I, diz: “até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro […] Águas são muitas, infinitas. Em tal maneira graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo”. “[…] contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente”.

Também não foi atoa que Joaquim Osório Duque Estrada, autor da letra do Hino Nacional, profetizava – “Gigante pela própria natureza […] E o teu futuro espelha essa grandeza”. Não restava dúvida, até ao mais pessimista dos homens que olhasse para os lindos campos que têm mais flores e para os bosques que têm mais vida, das glórias que estavam destinadas ao país.

Por que então a previsão tão certeira falhou? Hoje o Brasil, 5º país do mundo em população, apresenta números vergonhosos que vão muito além da derrota de 7×1 para a Alemanha. Por que não conseguimos uma educação e uma saúde de qualidade? Por que temos indicadores de analfabetismo, de mortalidade, de desenvolvimento que nos causam tanta vergonha? Onde estão nossos prêmios Nobel; o investimento em pesquisa; a valorização do professor; as verbas da saúde? Em contas na Suíça, em obras primas caríssimas escondidas em cofres; em barras de ouro procuradas desde a descoberta do país; na devastação das florestas; nas Refinarias que andaram enchendo bolsos insaciáveis?

Parece-me que até os dias de hoje “esta gente” precisa ser salva e só um povo que recebe uma educação emancipatória terá condições de ser salvo. Salvo dos enganos, das promessas de campanha não cumpridas, das pedaladas, das falcatruas, do enriquecimento ilícito dos governantes enquanto o povo é calado, não mais com as mordaças da ditadura, mas com assistencialismo, com populismo, com ações que nunca vão trazer a tona os intelectuais orgânicos, no sentido cunhado por Gramsci, que seriam os estimuladores do movimento de autonomia intelectual, da real educação política emancipatória.

E aqui, não defendo partidos. Defendo atitudes. Defendo virtudes. Defendo ética. Defendo uma Justiça Livre. Defendo Corruptos Presos. Defendo políticos capazes e, sobretudo honestos. Defendo o Brasil.

E, parafraseando os nossos ilustres deputados, ridicularizados nas redes sociais pelas justificativas dos seus votos, eu digo: Pelo povo brasileiro “[…] se ergues da justiça a clava forte. Verás que um filho teu não foge a luta”.

* Cristiane Hengler Corrêa Bernardo é doutora em Educação; mestre em comunicação midiática e graduada em Jornalismo. Atualmente é professora assistente doutora da Faculdade de Ciências e Engenharia da Unesp – Câmpus de Tupã.

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