Transtorno neurogenético atinge entre 4 e 7% da população
por Clay Brites*
Muitos pais ficam preocupados quando seus filhos apresentam grandes dificuldades de leitura e escrita, principalmente a partir dos 9 anos. E não é para menos. A situação é inadmissível nessa idade e se torna muito estranha se a criança for inteligente e viver em ideais condições socioculturais.
Esse contexto pode ser a realidade de muitas crianças, especialmente as que apresentam dislexia. Mas o que isso significa? Trata-se de um transtorno neurogenético, primordialmente hereditário, que leva pequenos e jovens (4 a 7% da população) a apresentarem uma dificuldade de compreender, interpretar e memorizar conhecimentos por meio da leitura. Nestes casos, não há fluência nem automação de interpretação, levando-os a repetir tal processo várias vezes até entender o que está escrito.
Ela é caracterizada por uma dificuldade severa na capacidade de soletrar, perceber e decodificar as sílabas dos sons das letras, de adquirir a habilidade necessária para manipular mentalmente as letras e as palavras levando a uma significativa incapacidade de compreender, raciocinar e interpretar com conhecimentos por meio da leitura.
Nesta condição, é comum ocorrer trocas, inversões e/ou omissões de letras, confusões fonéticas, dificuldade de definir esquerda-direita, de abstração matemática, falta de memorização de sequências temporais e visuais, além de vocabulário pobre e esquecimento frequente de fragmentos textuais.
Os disléxicos costumam demorar mais para se alfabetizarem e não se interessam em se expressar, por meio de palavras, historinhas e fatos cotidianos. Além disso, possuem dificuldades em nomeação de figuras ou cores e apresentam histórico de atraso na fala durante os primeiros cinco anos de vida.
No entanto, não se trata de pessoas “sem conserto”. É possível intervir precocemente em “crianças de risco” antes de apresentarem grandes dificuldades na fase escolar. A remediação precoce já é amplamente aceita e vista como eficaz na literatura internacional e nacional desde os anos 90.
Trabalhos mostram que esta intervenção reduz os riscos em até 40% dos casos. Como a dislexia é uma condição, não existe tratamento curativo, mas sim de manejo multidisciplinar com medicações, intervenções fonoaudiológicas e psicopedagógicas.
Outro fator fundamental é a mudança pedagógica que deve ser empreendida no ambiente escolar, individualizando e otimizando aspectos do conteúdo e da avaliação. É necessário compreender tais crianças e ressaltar sempre que elas possuem plena condição de terem sucesso profissional e acadêmico se bem compreendidas.
Caso contrário, as mesmas podem desenvolver crises de ansiedade e pânico em sala de aula se colocadas para ler em público, por exemplo. Há uma maior chance de repetência e evasão, risco de doenças mentais (especialmente depressão) e de se envolverem com más companhias. Portanto, pais, fiquem atentos e acompanhem todo o desenvolvimento de seus filhos!
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