Maioria dos incêndios e queimadas em Botucatu tem origem criminosa

Sítio de produção de alimentos orgânicos foi atingido na última semana

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Sítio Tipuana, no jardim Monte Mor, produz alimentos orgânicos. Ao menos 1 hectare foi queimado

por Sérgio Viana

Após diversas semanas de estiagem, Botucatu passou a registrar casos de incêndios em matas e terrenos de proporções maiores nos últimos dias, de acordo com o Corpo de Bombeiros (PM) da cidade. O tempo seco de fato colabora com o aumento dos casos, no entanto, para o capitão Winckler não há dúvidas de que a maioria é causada criminosamente. 

Esta é a suspeita dos jovens agricultores de alimentos do sítio Tipuana, localizado no inicio da zona rural limítrofe ao Jardim Monte Mor (Setor Norte de Botucatu). Na terça-feira passada, dia 2 de agosto, por volta das 15h15 o fogo surgiu em dois pontos dentro da propriedade. Ameaçando a horta orgânica que conta com cerca de 30 variedades de cultivo, entre frutas, legumes e raízes, além do mel. Dos 12 hectares que compõem a propriedade, Renan Zaffalon (25) calcula que ao menos 1 tenha sido consumido pelo fogo, que apesar do susto não gerou muitos prejuízos à produção. “Perdemos uma caixa de abelhas, diversas bananeiras, árvores de sapoti, limão rosa e uma área utilizada para revezamento do pasto dos cavalos”, afirma o trabalhador.

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Quinze minutos antes do incêndio, por volta das 15h, um funcionário recém-contratado para colaborar no sítio avistou quatro adolescentes perambulando, mas além de estar atendendo a outro visitante não desconfiou de nada estranho, pois muitas crianças visitam o sítio conhecem a horta e conversam com os agricultores diariamente. “Já queimou próximo do sítio, em terrenos abandonados em que as pessoas vão jogar lixo e depois ateiam fogo. Mas registrei o boletim de ocorrência, na Polícia Ambiental, como incêndio criminoso”, disse Fábio Sumodjo (26), que ainda destaca que árvores nobres e exóticas, plantadas há anos pela família naquela área, também se perderam. Outras, as maiores, conseguiram sobreviver.

“Ao suspeitar de pessoas em terrenos ou propriedades e a tentativa de incêndios criminosos,  ligue para a Polícia Militar (190) para que possa ocorrer o flagrante. Depois que o fogo se alastra é muito difícil encontrar a causa ou causador”, explica o capitão Winckler. No dia da queimada no sítio Tipuana, o Corpo de Bombeiros foi até o local, onde os trabalhadores rurais já combatiam o fogo, mas o caminhão da equipe não conseguiu o acesso necessário para chegar à área. A solução foi utilizar a própria água da propriedade através de outro equipamento. “Por sorte nesse dia havia bastante gente. Nos esforçamos ao máximo para resolver a situação. Em duplas, com galhos de árvores batíamos no fogo para abafar, tinha bastante efeito, mas também era extremamente cansativo”, completa Luís Gustavo Hirata (25), também agricultor.

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Perto do Morro do Peru há dispersão e queimada de lixo

No setor leste da cidade, localizado bem próximo ao Morro do Peru, um dos cartões postais naturais de Botucatu, está o Sítio do Vale. Ali, Álvaro Leite (50) e sua família vivem desde 1991, quando trocou uma casa no Bairro Alto pela propriedade rural. Segundo ele, há alguns anos não há fogo dentro sítio, mas dali observa a cena se repetindo com o passar do tempo. “Todo ano tem fogo. Não falha. Esses dias atrás queimou-se várias árvores do outro lado do morro, mas não chegou aqui”, ressaltou Álvaro. Na estrada próxima ao sítio, há um local onde costumeiramente pessoas depositam lixo e ateiam fogo, que pode se espalhar facilmente (foto acima). O sitiante brinca com fogo: “Se posso dizer que existe algo de bom nessas queimadas, é que os passarinhos fogem de lá e vem fazer novo ninho aqui”.

O Corpo de Bombeiros de Botucatu contratou recentemente mais quatro brigadistas para colaborar no atendimento às ocorrências. De oito a dez casos de queimadas criminosas em Botucatu e região são atendidos pela corporação diariamente, o que significa que outros tipos de ocorrências podem estar deixando de ser atendidas, de acordo com o capitão Winckler. “Recebemos de 30 a 50 chamadas diárias, em períodos críticos chegam a até cem. Poderíamos atender a outros tipos de ocorrência, como as que envolvem pessoas em risco”, concluiu.

O período de maior atenção aos incêndios e queimadas por conta do clima seco (estiagem), de acordo com o capitão, deverá se estender até novembro, quando as chuvas mais freqüentes e o verão se aproximam.

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