Nesta semana, acompanhamos com preocupação números divulgados pela imprensa
Acreditar e apostar no ser humano ainda é o melhor caminho para alcançar as transformações que a sociedade tanto deseja. Não existe atalho que nos leve a mudanças perenes, duradouras. Esse é um processo que exige determinação, coragem e uma boa dose de persistência, já que quem se propõe a realizá-lo, invariavelmente, se depara com incertezas, decepções e frustrações. Mas ninguém melhor do que o homem para mudar sua realidade. Em seu famoso discurso “Navegar é preciso, viver não é preciso”, Ulysses Guimarães já dizia: “A grandeza do homem é mais importante do que a grandeza do Estado, porque a felicidade do homem é a obra-prima do Estado”.
Dia desses, ao sair da prefeitura, me deparei com um garotinho que aparentava ter entre 8 e 9 anos de idade, estendendo o braço para indicar a intenção de utilizar a faixa de pedestres para fazer a travessia defronte a Catedral. Parei o carro, o menino sorriu, fez sinal de positivo e caminhou em segurança até a calçada para seguir seu trajeto até a escola. O gesto simples renovou em mim a esperança – que faço questão de alimentar todos os dias -, de que é possível conviver em harmonia e despertar a consciência nas mais diferentes situações que envolvem nossa vida cotidiana.
Mas bastou andar mais alguns metros para encontrar um motorista de van fazendo uma conversão proibida na ânsia de garantir uma vaga no bolsão de estacionamento. Analisando as duas situações e comportamentos tão distintos, passo a concordar com o jornalista e instrutor de pilotagem da Academia Brasileira de Trânsito (Abtrans), Geraldo Tite Simões, que em artigo recente escreveu: … “O trânsito e seus problemas não são resultado de um punhado de carros, motos, caminhões, bicicletas, mas de gente! Pessoas que estão, temporariamente, motorizadas, mas que nasceram e morrerão pedestres. É esse o foco de qualquer campanha que tente arrefecer as consequências do trânsito: investir nas pessoas”.
Na verdade, o produto da sociedade é aquilo que ela valoriza. E em se tratando de trânsito ainda temos um longo caminho a percorrer. No Brasil, a cultura de segurança muitas vezes é desprezada. Muita gente morre no momento em que praticamente acabou de começar a vida. Nesta semana, acompanhamos com preocupação números divulgados pela imprensa que colocam Botucatu como o município com o maior índice de mortalidade no trânsito no Estado, com uma taxa anual de 41,5 óbitos por 100 mil habitantes. Os dados são do Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito de São Paulo (Infosiga) e levam em conta as mortes registradas nas 75 cidades com mais de 100 mil habitantes desde 2015.
É preciso registrar que mais da metade desses óbitos (52,6%) ocorreram em rodovias estaduais, outros 36,8% na zona urbana e 10,5% em estradas municipais. E vários são os fatores que ao longo de décadas foram se somando e contribuíram para esse resultado: falta de planejamento adequado, precária fiscalização, malha viária antiga, crescimento exponencial da frota, grande extensão territorial do município, falta de investimentos em obras viárias.
Desde que assumimos a prefeitura, em 2009, temos adotado medidas com objetivo de garantir que a cidade tenha um trânsito cada vez mais seguro. Esse é um esforço diário, que envolve não apenas o poder público, mas diversos atores e precisa do apoio de toda a sociedade. Iniciativas como a criação da Escolinha de Trânsito; diversas campanhas educativas, investimentos em sinalização, redutores de velocidade, ligações de bairros e obras viárias comprovam o grande esforço empreendido para mudar a situação nada agradável com a qual nos deparamos. E, em 2011, aceitamos o desafio de assinar o compromisso de reduzir em até 50% o número de acidentes de trânsito até o ano de 2020.
Mas o maior legado que podemos deixar é justamente o investimento na formação de novos cidadãos, capazes de ser agentes de transformação da realidade vivida no trânsito, onde pedestres, motoristas, ciclistas e motociclistas possam conviver de maneira respeitosa, segura e pacífica. Um bom exemplo disso é o Programa Patrulha da Paz, sob a responsabilidade da Guarda Civil Municipal, que nesta semana formou mais 800 alunos, entre 9 e 11 anos de idade.
Essa grande iniciativa, em sete anos de funcionamento, atingiu mais de 6 mil crianças, que se transformaram em agentes multiplicadores de cidadania, dentro e fora das escolas. O programa busca estimular nas crianças bons exemplos de comportamento, amizade, companheirismo, harmonia e boa convivência entre todos os integrantes da unidade escolar e comunidade, o zelo pelo patrimônio público, e atitudes de cidadania. Além de aulas teóricas, os estudantes participam de aulas práticas que contam com a parceria de órgãos públicos como o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semutran), através da Escolinha de Trânsito.
O que nos enche de esperança é que o Patrulha da Paz ataca a causa, e não a consequência dos problemas. Investir na criança aumenta consideravelmente as chances de não termos que punir os adultos no futuro. Se trabalharmos com esse propósito, certamente reduziremos não apenas os registros de acidentes, mas, sobretudo a quantidade de vida perdidas nas ruas, avenidas e estradas que cortam a cidade.
Nossa equipe de trabalho foi reunida e recebeu a missão de fazer um minucioso diagnóstico e traçar um plano de ação que inclua medidas de curto, médio e longo prazo. Não vamos descansar enquanto esse quadro não for revertido. A cidade que se orgulha por ser reconhecida como exemplo em áreas importantes como saúde, segurança pública, educação e meio ambiente, pode e merece ser referência de segurança no trânsito. Vamos em busca disso!
*João Cury Neto (PSDB) é prefeito de Botucatu e presidente do PSDB local.
**Os artigos assinados por colunistas não traduzem necessariamente a opinião do Notícias.Botucatu.