Há semanas da votação, Prefeitura entrega inúmeras obras e revitalizações, algumas que o próximo Prefeito irá pagar
por Sérgio Viana*
Em 1889, Botucatu, com apenas 34 anos de fundação e com bem menos botucatuenses do que hoje, não poderia imaginar o significado e importância que teria um ponto de linha férrea que aqui se instalava da Estrada de Ferro Sorocabana (EFS) na história, vida e significado dos seus cidadãos. O prédio da Estação, construído anos depois em 1934, tornou-se símbolo aos filhos da Cuesta de trabalho e desenvolvimento por muito tempo, até sua privatização nos anos 90, o término das composições de transporte de passageiros em 1999 promovido pela Ferroban e a destruição de parte de sua cobertura externa, por um vagão da concessionária ALL, em 2012, última ocorrência antes da decisão do município em restaurar o saudoso local.
O significado de um patrimônio arquitetônico e histórico como a Estação Ferroviária de Botucatu não cabe em poucos parágrafos, é algo muito grande e poderoso para os botucatuenses, mexe com suas memórias, saudades e sonhos.
E muita gente sabe disso.
No último dia 22 de setembro, a Estação foi reinaugurada. Com muita pompa, celebração e festa por parte dos botucatuenses. O saudosismo estava estampado no rosto dos presentes. Fotografias eram postadas a todo momento nas mídias sociais para festejar a ocasião, imprensa oficial e outros veículos enalteceram o quanto puderam, com coberturas e adjetivações nada jornalísticas. A Estação não receberá mais passageiros para as viagens de trens. Isso é passado. Não há interesse da ALL, atual administradora da linha, em retornar com trens de passageiros. Só cargas pesadas. Os mais de R$ 2 milhões investidos servirão para abrigar a Secretaria de Esportes, Turismo e Lazer e mais equipamentos de cunho cultural.
Esta inauguração não foi o único ato que mexeu com o brio e o ânimo dos botucatuenses. Ela veio numa esteira de várias outras obras e projetos de mesma ou maior importância, promovida pela Prefeitura de Botucatu no último mês, às vésperas das Eleições 2016, como: a revitalização da Rua Amando de Barros, reformas de unidades de atendimento a saúde, Companhia de Polícia Militar, sede de projeto de reabilitação, complexo aquático paradesportivo, mercado municipal, mais praças e áreas de lazer, entre outras obras das quais não podemos retirar a importância e necessidade, mas que também não deixam dúvidas de uma velha prática política eleitoreira. Apenas o que foi citado, representa um montante de aproximadamente R$ 9,75 milhões, em recursos federais, estaduais, do município e empréstimos.
O Prefeito, figura representativa e presente em todas as cerimônias, não é candidato, mas alguém não sabe quem é o candidato do Prefeito ou de seu grupo político?
É inegável a transformação e benefícios que a atual gestão do PSDB promoveu em Botucatu nos últimos anos, assim como também é inegável que seus métodos e suas contas públicas são passíveis de questionamentos a partir do próximo mandato. Os aditamentos de contratos públicos nunca foram tão praticados, obras dificilmente foram concluídas nos prazos previstos e com os orçamentos previstos. Independente de quem vença, uma auditoria é sempre bem-vinda.
A própria Estação Ferroviária, prevista para ser entregue como um presente no aniversário de 166 anos da Cidade e ao Dia do Ferroviário, em abril, foi adiada na ocasião por 60 dias, ou seja, seria inaugurada em junho, certo? Pra quê? Ficou pra dez dias antes de 2 de outubro. Realização, comoção e voto – eis a receita.
Quem dera fosse um caso isolado, não é mesmo? Assim poderiam dizer, “Ah! Ao raio este que escreve, é um rancoroso”.
O estranhamento aumenta ao verificarmos algumas inaugurações. O Mercado Municipal, por exemplo, outro local de memória, história e vivência do botucatuense, revitalizado com R$ 2 milhões emprestados da agência de fomento do Governo Geraldo Alckmin e que será pago apenas pelo próximo Prefeito, foi reaberto.Em partes. Contudo, comerciantes e consumidores ainda se concentram amontoados com as lojas ainda inativa, não instaladas. Podemos chamar de inauguração algo que está ‘quase pronto’? Afinal, foi por estar ‘quase’ que a da Estação fora adiada.
A lógica é complicada em tempos eleitoreiros.
E parece que os comícios estão diminuindo, não é mesmo?
*Sérgio Viana é jornalista, assessor de comunicação e imprensa e criador do site Notícias.Botucatu