9×5, todo dia um 7×1
Em nossa cidade e em todo Brasil temos que os servidores públicos são de duas castas, dos eleitos/nomeados e dos contratados/concursados
por Daniel de Carvalho*
“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, assim selou Lavoisier (1743-1794) seu estudo no princípio da conservação da matéria, e toda revolução que o nomeou pai da química moderna. Mente brilhante, revolucionário, comprou em 1769 ações na empresa terceirizada pelo Estado Francês para tributar e taxar o povo, e foi executado pela guilhotina da Revolução Francesa há 222 anos, ato descrito à época como se “não bastará um século para produzir uma cabeça igual a que se fez cair em um segundo”.

Em Botucatu tivemos um 2015 muito turbulento em meio à crise política e econômica, uma crise moral que devastou qualquer terreno fértil para o diálogo político. Semana após semana, os vereadores de nossa cidade questionavam o Governo Federal pela crise financeira nos orçamentos do município graças à devassa realizada em Brasília… Já 2016 sagrou-se um ano diferente na Casa do Povo, engatilhado em maio processo de derrubada da presidenta eleita, cessaram as denúncias no palanque, mesmo que o buraco mostrava-se bem mais baixo e o fundo do poço ainda mais distante e atingível, “paz e amor” reinou e o debate na casa alterou de mote. Em março deste ano, após grande luta, os servidores públicos do município receberam reajuste salarial de 5%, menos da metade da inflação do ano anterior, de 10,6%, e em julho foi a vez do aumento do salário dos servidores públicos eleitos ou nomeados, na casa superior aos 9% para Prefeito, Vice, secretários e vereadores. Ou seja, o aumento de salário para 2017, no comparativo, ficou: Muitos Servidores Público 5% x 9% Alguns Servidores Públicos.
Lavoisier foi morto na França pelo Terceiro Estado (camponeses, burgueses e comerciantes) que não faziam parte do Primeiro Estado (clero) ou do Segundo Estado (nobreza), alvos da Revolução Francesa, pois se aliou à empresa que faria os tributos reais e tratava a segregação do reinado da terra do vinho e queijo cobrando dos que sustentavam o poder religioso e real. Na caça aos inimigos do povo, todos que se envolveram de alguma maneira com a manutenção de privilégios ou, como Lavoisier, lucravam com isto em algum momento, não tiveram perdão. Cabeças rolaram independente de seu conteúdo – nobre, religioso, denso e revolucionário, ou não, vazio e rico de demagogia -, cabeças rolaram conforme sua história e envolvimento nos cortes na carne do povo para sustentar seus privilégios.
Em nossa cidade e em todo Brasil temos que os servidores públicos são de duas castas, dos eleitos/nomeados e dos contratados/concursados, dos poucos que gerem ou dos muitos que são a base da estrutura pública de Botucatu mas, em meio à grave crise que se mantém, porquê da manutenção do “clero” e “nobreza”? Todo dia o sol nasce e assim nasce mais um 7×1. Diariamente levamos goleada do liberalismo que faz com que nossos políticos exerçam seu poder na ponta do lápis quando trata-se do benefício e garantia do povo, e esquecemos que vivemos todos juntos e iguais construindo uma comunidade que deve ser justa e progressista, para todos, sem distinção. Vemos vários Lavoisiers que lucram com os privilégios, alguns políticos do “clero e nobreza”, e muitos – a grande maioria – revoltados por serem do Terceiro Estado, e precisamos nos unir antes de separar cabeças de corpos para assim incluir todos na solução da crise que até 2015 era essencial termos, mas hoje, na hora do aperto, apenas o povo é cobrado e dilacerado pelos cortes enquanto que somente os gestores são responsáveis pelas decisões. Isso tem que mudar, transparência e união tem que ser a palavra de ordem por uma solução que não seja inspirada nas antigas revoluções. Seguiremos juntos, todos.
Daniel de Carvalho é publicitário, Conselheiro da Cultura e Secretário de Comunicação do PSOL 50 de Botucatu.