Guia Básico da Sobrevivência Intelectual: Hélio Sampaio

Eu, que nunca fui entendido em filosofia, não questionei a teoria do autor, mas sim o significado da palavra “verdade”

por Hélio Sampaio | Guia Básico da Sobrevivência Intelectual

Saudações!

Há mais ou menos 20 anos, quando cursava uma das faculdades em que ingressei (e única que concluí), deparei-me com uma intervenção numa das estátuas do Campus – uma pichação que dizia “A arte existe para que a verdade não nos destrua”, cuja autoria era atribuída ao filósofo Nietschze.

Eu, que nunca fui entendido em filosofia, não questionei a teoria do autor, mas sim o significado da palavra “verdade”. “O que é?”. Sempre ouvi dizerem que cada um tem a sua…pra mim, verdade é sinônimo de realidade.

O fato é que essa frase me voltou à cabeça agora, quando me deparo com um “tsunami” de “fofura” invadindo o território de algumas artes. Querendo ou sem querer, tem uma galera radicalizando nessa fuga da realidade nua, crua e cruel. Até acho válido, mas não é a minha praia.

Por essas e outras que eu vou falar da obra de um artista que curtia tratar daquele tipo de realidade que muita gente sabe que há, mas poucos ou ninguém gosta(m) de ver.

O nome da obra é “Querô, uma reportagem maldita”  – livro de 1976, que alguns conhecem como “Querô” – filme de 2007, e outros pouquíssimos como “Barra Pesada” – filme de 1975, e seu autor é o grande escritor Plínio Marcos (1935 – 1999).

Em “Querô”, como em grande parte de sua obra, Plínio retrata a vida de habitantes do submundo de grandes cidades – sobretudo da zona portuária de Santos, sua cidade natal. Gerônimo é apelidado, na infância, como “Querô”, pois sua mãe suicidara-se bebendo querosene, após ser expulsa do bordel em que trabalhava, por ter dado o bebê à luz. Abandonado, Querô rapidamente envereda pela vida do crime. Chega à FEBEM, onde é violentado e lidera uma rebelião, que lhe possibilita fugir. De volta às ruas, Querô passa a ser perseguido e extorquido por policiais (e) bandidos. Até que um final precoce e trágico inevitavelmente lhe acomete.

“Querô” é um pedaço do universo de Plínio Marcos, repleto de histórias de marginais e marginalizados – prostitutas, cáftens, bandidos e habitantes clandestinos. O cinema e o teatro brasileiros já beberam muito na fonte de Plínio, dando-nos também outras obras impactantes: “Abajur Lilás”, “Barrela – escola de crimes”, “Navalha na Carne” e “Dois Perdidos Numa Noite Suja”.

Se você leu essa história até aqui, pode estar se perguntando: “Mas isso é arte?”, “Arte não tem que ser belo?”, “Arte não tem que curar, aliviar, confortar?”. Pois é…sobre verdades e artes, há muito o que refletir. Fica aqui o convite!

Amplos amplexos!

quero

Querô” – 2007

Dir: Carlos Cortez

Elenco: Maxwell Nascimento, Milhem Cortaz, Sílvia Lourenço e Maria Luíza Mendonça

*Hélio Sampaio é entusiasta da cultura brasileira…um retirante do universo contracultural, devido às circunstâncias da vida (e da sobrevivência).

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