Com a tempestade, vem a irresponsabilidade (des)humana

A democratização do conhecimento deverá reinar sobre a ignorância e interesses particulares.

por Patrícia Shimabuku*

O lixo será a mais rica herança deixada pela humanidade. Dia após dia, produzimos cada vez mais e de forma eficiente. Um ponto dos quais não evoluímos, mas sim, caminhamos para a nossa própria extinção.  Estamos “aterrando” às futuras gerações.  f

E, se não bastasse, a cultura do consumismo desenfreado, não sabemos descartá-lo de forma correta e adequada. Não aprendemos colocá-lo em seu devido lugar. Jogamos no chão, nas ruas, nos parques, nas praças, nas estradas, etc. E aí, depois da tempestade, com a bonança, vem a irresponsabilidade (des)humana. 

As águas pluviais (com os lixos descartados inadequadamente) são canalizadas para os córregos (redes hidrográficas). Estas águas chegarão às cachoeiras, aos rios, consequentemente, o lixo será sua companhia, fazendo parte do seu registro fotográfico. Você não estará sozinho.

As fotos foram registradas nos córregos não distantes do seu lar. Córregos que serpenteiam a Cuesta. Suas águas contribuem para a recarga do Sistema Aquífero Guarani, formando inúmeras cachoeiras e sustentando diversas famílias nas áreas rurais (produção de alimentos para o município de Botucatu e região).  

O aspecto mais surpreendente é que, justamente quem mais sofre e reclama sobre a sujeira, também é o responsável por provocá-la.  Sabe-se que os problemas gerados pelo descarte inadequado do lixo em vias públicas são muitos e, geralmente, visíveis. Eles configuram como agressões ambientais e sanitárias, pois coloca em risco à saúde da população.

Nota-se que, as estratégias atuais de conscientização e efetiva solução do problema tem sido insuficientes. A realização de campanhas de recolhimento de lixo nos córregos, cachoeiras, estradas e terrenos deverão ser uma medida auxiliar. Esta não deverá ser a única e exclusiva estratégia realizada por cidadãos voluntários que se preocupam com o nosso maior patrimônio, o Meio Ambiente.

cO diálogo com os moradores do entorno dos córregos urbanos e, com os moradores dos bairros cujas águas pluviais são canalizadas, poderá ser o primeiro passo para a solução da problemática.  Neste diálogo, outras informações imprescindíveis poderão ser mapeadas e orientadas, como controle de endemias, uso racional e reuso da água, segregação doméstica de resíduos recicláveis, destinação adequada de resíduos de construção civil, bem como a verificação da qualidade do serviço prestado de coleta dos resíduos urbanos. Informações que contribuirão para elaboração assertiva do Plano de Saneamento Básico, dos Planos orçamentários e de Políticas Públicas de Promoção de Saúde Individual e Coletiva. Infelizmente, estes diálogos, quando acontecem, são de forma esporádica, sem planejamento, sem continuidade e sem monitoramento de ações em longo prazo.

Analisando a paisagem, outros problemas são identificados: o assoreamento dos córregos, ausência de mata ciliar, presença de processos erosivos, construções de galerias e dissipadores de águas pluviais em locais indevidos e impermeabilização ostensiva do solo urbano. Dá a entender que os profissionais técnicos, órgãos competentes, entidades fiscalizadoras e gestores envolvidos ignoram os aspectos técnicos e geomorfógicos de nossa região. As leis federais, estaduais, municipais e qualidade de vida das presentes e futuras gerações, paralelamente, também são ignoradas.

Reconhecer que o descarte inadequado dos resíduos urbanos (e suas consequências) é problema de todos, associado ao entendimento sobre as características do meio ambiente botucatuense são de fundamental importância para execução sustentável dos planos de governo e de políticas públicas responsáveis e inclusivas. A democratização do conhecimento deverá reinar sobre a ignorância e interesses particulares.

* Patricia Shimabuku é farmacêutica industrial, professora e ativista socioambiental.

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