Encontrar animais silvestres na cidade não é um bom sinal, é o reflexo do desequilíbrio ambiental causado pelas irresponsabilidades antrópicas
por Patrícia Shimabuku*
A falta de planejamento urbano associada a demandas do crescimento desordenado são problemas que acometem a qualidade de vida dos munícipes, destrói os recursos naturais e causa o afugentamento dos animais silvestres para o sítio urbano.
O nosso município possui inúmeras microbacias hidrográficas urbanas, está no topo de um especial monumento geológico, a Cuesta Basáltica, dentro do perímetro da APA (Área de Preservação Permanente) – Corumbataí – Botucatu – Tejupá e possui uma Unidade de Conservação Parque Natural da Cachoeira da Marta, pontos cruciais que deverão ser respeitados, compreendidos e considerados dentro dos projetos do Poder Executivo e Legislativo Municipal (como por exemplo, a implantação de loteamentos imobiliários). Pontos que também, deverão ser respeitados pelas inúmeras atividades econômicas dentro da mancha urbana e nas áreas verdes do entorno da cidade.
Encontrar animais silvestres na cidade não é um bom sinal, é o reflexo do desequilíbrio ambiental causado pelas irresponsabilidades antrópicas. Revela que estamos invadindo o seu habitat, estamos alterando ecossistemas e causando desordem na cadeia alimentar e tendo como consequência o afugentamento destes para área urbana em busca de comida e abrigo. Com território cada vez menor, com o passar dos dias, os silvestres se perdem em áreas urbanas.
Segundo o Inspetor Carlos Eduardo Rodrigues de Paula, responsável pelo GPA, Grupo de Proteção Ambiental, da GCM (Guarda Civil Municipal) no ano de 2016 foram capturados 296 animais na área urbana e, até a presente data (em 2017) já foram 42 capturas. Dentre os animais capturados foram serpentes e cobras (cascavel, jiboia, urutu cruzeiro, jararaca, coral falsa, parelheira, caninana), aves (maritaca, corujas – buraqueira, suindara, tucano, urutau, curiango, gaviões – carcara, carijó), tamanduá bandeira e mirim, cachorro do mato, ratão do banhado, tatu, teiú, gambá, ouriço, veado-catingueiro, cágados, jabuti. Estes animais foram encontrados por toda cidade, na maioria das vezes próximos as matas ou áreas verdes próximas aos córregos e rios.
Muitos destes animais encontram-se feridos, seja atacado por outros animais domésticos (como cachorros), ou com algum sinal de estresse, por ter sido acuado por cachorros ou até mesmo pelo homem. Quando feridos estes animais são encaminhados ao CEMPAS/UNESP no Hospital Veterinário. Quando não apresentar ferimentos, o animal é devolvido ao seu habitat natural, se possível o mais próximo de onde foi capturado. Se for peçonhento ou serpentes/cobras são levados para o CEVAP na UNESP/LAGEADO, informa o Inspetor Carlos.
O GPA/GCM atua na captura de ANIMAIS SILVESTRES em situação de risco ou feridos. Os agentes são capacitados para realizar o manejo correto, para a captura adequada, afim de causar o menor estresse ao animal, equipados com as ferramentas adequadas para a ação. Anualmente, realizam treinamentos, que são ministrados pelos veterinários do CEMPAS e pelos biólogos do CEVAP.
O Inspetor recomenda que nunca tente capturar um animal silvestre, pois poderá ocorrer um acidente causando vítimas. Sendo que o mais correto a fazer, é acionar a GCM pelo 199, e monitorar o animal a distância. Se o cidadão tiver animais domésticos (cães e gatos) na residência, isole e não deixe que tenham contatos com os animais silvestres. Nunca mate um animal, pois irá cometer um crime ambiental. Se morar próximo a uma área verde, matas ou rios, abra o portão e deixe o animal ir embora sozinho. Caso contrário acione a GCM.
A expansão urbana e a consequente devastação das florestas são alguns motivos para afugentar os animais selvagens de seu hábitat, na realidade somos nós, humanos que estamos invadindo seu habitat. Ocorre também devido à falta de alimentos no habitat natural, devido as grandes monoculturas, sendo comum em nossa região a plantação de eucaliptos e cana de açúcar, forçando a migração para a zona urbana, ressalta o Inspetor quando questionado sobre as causas do afugentamento dos animais silvestres para a área urbana.
Por fim, as ações políticas e institucionais voltadas a expansão e ocupação do solo urbano e as atividades econômicas em áreas rurais/naturais deverão ser planejadas e implantadas visando a manutenção dos recursos naturais e ecossistemas, procurando minimizar os efeitos decorrentes da ação antrópica.
* Patricia Shimabuku é farmacêutica industrial, professora e ativista socioambiental.