Poucas possibilidades, muita barganha: o novo nome para o MRE
Nas administrações do PSDB e do PT a chancelaria foi conduzida por profissionais de carreira ou por nomes de peso, com vasta experiência internacional
por Renato Xavier*
O pedido de demissão de José Serra (PSDB) do Ministério das Relações Exteriores, por motivos de saúde, abre espaço para especulações acerca do novo nome que irá comandar a política externa brasileira até o fim do mandato de Michel Temer (PMDB), em dezembro de 2018.
Nomes como os dos senadores tucanos Aloysio Nunes (que já declinou do possível convite) e José Aníbal começam a ser ventilados como supostos ocupantes do cargo em aberto. A barganha política em torno de quem irá preencher uma das principais pastas do governo federal chama mais a atenção do que o cargo a ser ocupado em si. Duas explicações para isso:
A primeira diz respeito a uma novidade desde a redemocratização: o balcão de negócios para indicar ministros chegou ao Itamaraty. Significa dizer que o nome do novo chanceler deve estar mais ligado à troca partidária de favores do que aos atributos para ocupar o cargo. Nas administrações do PSDB e do PT a chancelaria foi conduzida por profissionais de carreira ou por nomes de peso, com vasta experiência internacional (Celso Lafer, Lampreia, Celso Amorim, Antônio Patriota). A segunda explicação, ideia que vou procurar defender adiante, tem pouco a ver com ambiente doméstico.
No cenário internacional, cujo nível de incerteza é bastante alto, o nome que ocupará o Itamaraty passa a ser secundário, dados os constrangimentos externos atuais. Se na primeira década do século XXI a ascensão econômica dos países em desenvolvimento, somada ao 11 de setembro e à crise financeira de 2008, abria perspectivas para novos arranjos diplomáticos e negociações políticas – BRICS (2009), IBAS (2003), UNASUL (2008), G-20 (primeira cúpula em 2008), acordo para reforma das cotas do FMI (2008) -, a segunda década tem apontado para o caminho de retração na projeção externa dos países em desenvolvimento. Cenário inquietante:
Diminuição nas taxas de crescimento econômico dos países chamados BRICS (como é o caso do Brasil), recuperação da economia norte-americana pós-crise financeira (o que levou a necessidade de revisar as “teses declinistas” acerca do poderio da superpotência) e incertezas quanto às questões de segurança global. Basta olhar para a guerra civil na Síria e o imbróglio entre Rússia e Estados Unidos.
A dificuldade de projetar os próximos meses no ambiente externo ganhou novo ingrediente: a vitória de Donald Trump. A sua forma nada usual (ou tuiteira) de lidar com problemas complexos de política externa fazem parte do pacote de instabilidade do sistema internacional. Exemplos: a flexibilização da posição histórica dos Estados Unidos em relação à criação de um Estado palestino independente, o decreto que impe a entrada de refugiados e imigrantes de sete países, a briga pela criação de um muro na fronteira com o México e o descaso com questões ligadas ao aquecimento global.
O rearranjo das políticas das grandes potências, a real politik, fornece pouca margem de manobra para posições mais soft power. Num cenário em que prevalece a incerteza quanto ao futuro da ordem global, a tendência é que os Estados calculem suas ações baseadas no jogo de soma zero: ganhos absolutos em detrimento de ganhos relativos.
Renato Xavier é pesquisador do Programa de Pós-graduação San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP) em Relações Internacionais (RI) e integra o NEAI – Núcleo de Estudos e Análises Internacionais.