A importância ecológica, social e econômica da microbacia hidrográfica do Aracatu

O município botucatuense é drenado por duas Bacias Hidrográficas: a do rio Tietê (ao norte) e a do rio Pardo (ao sul).

por Patrícia Shimabuku*

A palavra “Aracatu” em tupi guarani significa tempo bom, vento agradável (ara = dia, tempo + catu/katu = bom). “Microbacia hidrográfica” é uma área geográfica delimitada por divisores de água (rede de drenagem), drenada por um rio ou córrego, para onde deságua a água da chuva infiltrada pelo solo e pela drenagem superficial.

A Microbacia do Aracatu (MA) está situada no sudoeste da mancha urbana botucatuense, junto à cota altimétrica 860, a montante da Cuesta Basáltica, sendo importante mencionar que, a jusante do Aracatu há uma região de afloramento do Sistema Aquífero Guarani, caraterística fisiográfica ímpar ao Estado de São Paulo, o que confere relevância ambiental. A MA possui uma área equivalente a 294,16 ha e o curso d’água central é o Córrego do Aracatu que possui orientação dominante Oeste-Leste, formado por dez nascentes (ACKERMANN, 2014 – Relatório Técnico Vale do Aracatu).

O município botucatuense é drenado por duas Bacias Hidrográficas: a do rio Tietê (ao norte) e a do rio Pardo (ao sul). Os tributários do rio Tietê são o rio Alambari e o rio Capivara. O Córrego Aracatu pertence à sub-bacia do Córrego da Indiana (ou sub-bacia 3) da Bacia Hidrográfica do Alto Capivara, região que, por apresentar grande quantidade de corpos hídricos, necessita maior rigor quanto à preservação. Desta forma, as águas do Córrego do Aracatu serpenteiam o reverso da Cuesta em direção ao seu front, formando as Cachoeiras Aracatu I e II, contribuindo também, para a formação da Cachoeira da Indiana.

A região da MA é essencial para a manutenção ecológica da Cuesta Botucatuense. As águas desta microbacia vertem para APA (Área de Preservação Ambiental) Corumbataí-Botucatu-Tejupá (criada em 08/06/1983 pelo Decreto Estadual n° 20.960, o que implica ressaltar que qualquer atividade nesta região deverá respeitar a Deliberação n° 142/86 do CONSEMA, Conselho Estadual do Meio Ambiente), a qual regulamenta esta APA e sua área de influência (ACKERMANN, 2014).  MA pertence também, à Zona de Amortecimento da Unidade de Conservação (UC) Parque Natural Municipal da Cachoeira da Marta, já que a Bacia Hidrográfica do Alto Capivara está inserida nesta UC (Lei Municipal n° 4.212/2002 e Decreto Municipal n° 8.961/2012).

Microbacia do Aracatu 1

Para melhor compreensão sobre a importância da região do Vale do Aracatu, conversamos com Fillipe Martins, presidente da AAVA, Associação dos Amigos do Vale do Aracatu (www.aava.org.br). Associação cujo objetivo é a conservação sustentável da biodiversidade da região da MA, através de ações político-socioambientais-educacionais que visa à preservação da Bacia Hidrográfica do Alto Capivara, principalmente, no entorno do Córrego do Aracatu.

Fillipe, QUAL A IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA, SOCIAL E ECONÔMICA DO VALE DO ARACATU?

“A importância SOCIAL do Vale do Aracatu (VA) está em suas histórias ainda não registradas, nas prosas dos caipiras remanescentes, na relação franca e honesta das mulheres e homens de antigamente. A cultura dos que cultivam a terra, vendem sua produção até hoje nas feiras públicas municipais (joias da cultura do interior). Compreender e realizar a função civilizatória das culturas originárias, da sabedoria do campo, da produção dos alimentos, do cuidado com a água são as matrizes para a sobrevivência neste século que se inicia. Num piscar de olhos seremos história e, restarão nossas ações sociais, para uma sociedade mais justa. O VA preserva suas histórias, luta e lutará pela sua preservação.

A importância ECOLÓGICA é imensa. Tão grande como o oxigênio, de tão essencial que não consegue se enxergar.  Uma microbacia hidrográfica, a 200 metros de altitude da chamada Depressão Periférica, três grandes cachoeiras, área de recarga do famoso Aquífero Guarani, a menos de três quilômetros do centro de Botucatu. Microbacia hidrográfica que contribui para a formação do famoso Rio Capivara, fonte de abastecimento alternativo para milhares de famílias, fonte de água para a agricultura familiar para o abastecimento do município de Botucatu.  É uma das sub-bacias da cabeceira do Alto Capivara. Microbacia que está assentada sobre o reverso da Cuesta Basáltica de Botucatu, nosso monumento geológico, único no planeta.  Pertence a Zona de Amortecimento da Unidade de Conservação Cachoeira da Marta, ou seja, um complexo de redes hidrográficas de extrema riqueza e ainda nada conhecido. O POTENCIAL ECONÔMICO É UM “GIGANTE ADORMECIDO”.

Hotelaria, resorts, gastronomia, moradias sustentáveis, cinturão verde agroecológico para o abastecimento da cidade de Botucatu e região, turismo de aventura, turismo de negócios, centros de convenções, vilas ecológicas e clusters econômicos ecológicos.  Tudo isso, ainda está coberto pelo véu da falta de visão e oportunismo da política econômica municipal, focada na especulação imobiliária servil aos interesses do setor imobiliário de curto prazo. Não obstante os pesares, o Aracatu e toda a cabeceira do Alto Capivara se tornaram uma POTÊNCIA ECONÔMICA ECOLÓGICA.  Um exemplo de alternativa desenvolvimentista econômico ecológica para o Brasil e para o mundo. Quem viver verá”.

* Patricia Shimabuku é farmacêutica industrial, professora e ativista socioambiental.

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