OPINIÃO | Resposta ao artigo “Escolas sem Partido”, de autoria de Daniel de Carvalho e Luiz Renato Sassi

Não existe explicação, apenas o constatar do fato: o cidadão não é tão a favor da liberdade assim

por Diogo G.*

O publicitário Daniel de Carvalho e seu companheiro de partido dizem “O que seria a tão falada, e pouco explicada Escola Sem Partido?”, porém em parte alguma de seu artigo nos concederam qualquer explicação real sobre o projeto. E já que eles não o fizeram, sinto-me no dever de fazê-lo. A principal medida é a fixação de uma placa em todas as salas de aula do Brasil, com os dizeres:

“DEVERES DO PROFESSOR

I – O Professor não se aproveitará da audiência cativa dos alunos, para promover os seus próprios interesses, opiniões, concepções ou preferências ideológicas, religiosas, morais, políticas e partidárias.   

II –  O Professor não favorecerá, não prejudicará e não constrangerá os alunos em razão de suas convicções políticas, ideológicas, morais ou religiosas, ou da falta delas.  

III –  O Professor não fará propaganda político-partidária em sala de aula nem incitará seus alunos a participar de manifestações, atos públicos e passeatas.  

IV –  Ao tratar de questões políticas, sócio-culturais e econômicas, o professor apresentará aos alunos, de forma justa – isto é, com a mesma profundidade e seriedade –, as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito.

V – O Professor respeitará o direito dos pais a que seus filhos recebam a educação moral que esteja de acordo com suas próprias convicções.  

VI – O Professor não permitirá que os direitos assegurados nos itens anteriores sejam violados pela ação de estudantes ou terceiros, dentro da sala de aula.”

O texto da lei, em si, apenas explicita em termos jurídicos o que consta acima. Visto como é, o projeto não se parece tanto assim com a “retirada do pensamento crítico”, conforme afirma o publicitário, e mais com a defesa de um “contato com o novo, o diferente, e aprender a se conviver com isso respeitando a diferenças”. Ora, se o ponto fundamental do projeto é a garantia de que todas as correntes de pensamento sejam ouvidas, e que o professor não possa promover a(s) que ache mais conveniente(s) – o que cercearia qualquer possibilidade de debate sobre correntes “diferentes” – por que um cidadão a favor da liberdade haveria de se opor ao mesmo?

Para entender o assunto, leia o texto “Escolas sem Partido ou “Que tal ensinarmos latim nas escolas?”

Não existe explicação, apenas o constatar do fato: o cidadão não é tão a favor da liberdade assim.

Da mesma forma com que a verdade a respeito do projeto “Escola Sem Partido” acaba com qualquer dúvida a respeito das intenções de seus criadores, a verdade a respeito da história da ideologia Marxista-Comunista acaba com qualquer possibilidade de que alguém as defenda. E se a verdade não pode ser dita, então o interesse dos partidos defensores dessa ideologia em cercear a livre expressão, em especial para as novas cabeças, passa a fazer sentido.

Em resumo: Karl Marx foi um filósofo alemão que, em meio aos desdobramentos das revoluções industriais durante o século IXX, formulou a ideologia Comunista, que pregava a transformação revolucionária da sociedade capitalista que conhecemos para uma sem classes sociais, aonde não existiriam “empresários” e “empregados”, mas sim aonde as “empresas” seriam de todos e para todos. O principal pilar que sustenta e sustentava essa ideologia é a moral coletivista: o bem do coletivo, do “povo”, é mais importante do que o bem do indivíduo, e essa moral está encarnada na visão da sociedade como luta de classes sociais.

Os ricos, os indivíduos, seriam exploradores dos pobres, o coletivo, e culpados por suas mazelas. Vendo por esse ponto de vista, assassinar industriais e tomar seus meios de produção para partilha-los com o “coletivo” passou a ser defensável – e é disso que se tratava a ideologia em seu início, operários unidos, armados, matando e tomando para si os meios de produção, as fábricas. A moral coletivista do Marxismo e sua defesa em nome do “bem maior” não só tornou aceitável o assassinato de seres humanos como os incentivou. Em nome da revolução, matar não era só defensável, era desejável, essencial.

Deveria ser evidente para qualquer ser humano racional que, toda vez que um grupo político revolucionário, que se declare conhecedor do melhor caminho para humanidade chegar ao poder, todos aqueles que se opuserem à sua visão de mundo serão sumariamente eliminados. O quê é a vida de alguns indivíduos quando pensamos no supremo bem coletivo?

Dessa forma, desde que assumiu o poder na China, estima-se o que o Partido Comunista Chinês já tenha matado mais de 60 milhões de pessoas. Milhões de pessoas mortas, e suas mortes justificadas pela moral coletivista, pessoas mortas pelo “bem do povo”. 20 milhões estimados na extinta União Soviética, 2 milhões no Camboja, 2 milhões na Coréia do Norte, e a lista segue.

O viés Marxista do publicitário fica claro em diversas sentenças, como “financiados pelo modelo econômico e social de casta”, “enquanto outros seguem sofrendo oprimidos seja por não fazer parte desta casta privilegiada” etc., de forma a não precisarmos nem levar em conta seu partido.

Quando se defende a ideologia e a moral que mais mataram pessoas no mundo, ultrapassando até o Nazismo, atropelar o princípio da neutralidade política, ideológica e religiosa do Estado, presente na Constituição Federal de 1988, e o direito dos pais de que seus filhos recebam educação religiosa e moral que esteja de acordo com as convicções desses mesmos pais (e não dos professores), conforme consta na Convenção Americana sobre Direitos Humanos, passa a ser essencial.

E esse atropelo fica escancarado nos dizeres “minha presença de professor é uma presença em si política”, frase de Paulo Freire, autor de Pedagogia do Oprimido – ou “como transformar estudantes em militantes”. Se a minha presença é política e se minha política é Marxista, minha posição de professor deve ser usada para formar a próxima geração que lutará contra a “classe social dominante”.

A verdade? Diferentes pontos de vida? Neutralidade? Deixar que os alunos pensem por si, tomem suas decisões, formulem suas convicções?

Isso deixa pra lá.

*Diogo G., estudante e botucatuense.

**Os artigos dos colunistas não traduzem necessariamente a opinião do Notícias.Botucatu

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