Estudo realizado pelo jornalista Érick Facioli detalhou a abordagem jornalística frente aos avanços do país na redução dos casos de mortes entre crianças menores de cinco anos
por Flávio Fogueral
Qual o interesse da mídia na cobertura de temas relacionados à Saúde Pública? Até onde vai o papel dos grandes veículos de comunicação sobre o debate de políticas públicas de redução da mortalidade infantil? São estas algumas indagações que o jornalista e mestre em Saúde Coletiva pela Faculdade de Medicina de Botucatu/Unesp (FMB), Érick Facioli, trará ao público nesta terça-feira, 5, a partir das 20 horas, em debate público promovido pelo Partido dos Trabalhadores de Botucatu (PT). O evento, que ocorre na Rua João Passos, nº 2193, é aberto a jornalistas, profissionais da saúde e interessados em geral.
Na oportunidade, o jornalista apresentará dados de sua pesquisa de mestrado, intitulada “Análise da Cobertura Jornalística da Folha de São Paulo sobre Mortalidade Infantil”. O estudo foi orientado pela professora Cristina Maria Garcia de Lima Parada, do Departamento de Enfermagem da FMB, foi apresentado dia 21 de agosto, e detalhou a abordagem jornalística de um dos maiores grupos de mídia nacionais, frente aos avanços do país na redução dos casos de mortes entre crianças menores de cinco anos no país.
A chamada “Meta do Milênio”- protocolo assumido pelo Brasil junto à Organização das Nações Unidas (ONU), por meio de seu braço para políticas para infância, a Unicef, previ redução deste índice em até dois terços. O Brasil atingiria esta meta em 2013 quando reduziu os índices de mortalidade infantil em 73%. á 25 anos eram registradas 61 mortes para cada mil crianças menores de cinco anos. O número caiu para 16 mortes (a cada cem mil) após esse período. De acordo com a ONU, tais índices foram possíveis pela adoção de políticas sociais de distribuição de renda como o Bolsa-Família, além da criação e solidificação do Sistema Único de Saúde (SUS) com foco na atenção primária de saúde, a melhoria no atendimento materno e ao recém-nascido e esforços para prestar assistência à saúde no nível comunitário.
“A Taxa de mortalidade infantil é indicador sensível para refletir o grau de desenvolvimento de um país. Nas últimas décadas, o Brasil registrou grande variação na taxa desse desfecho, resultado da centralidade nas políticas públicas de saúde materno-infantis nacionais”, ressaltou o jornalista.
Em sua pesquisa qualiquantitativa, Facioli analisou 2436 matérias veiculadas pela Folha de S.Paulo no período de 1990 a 2015. Diante de critérios exclusivos do jornalismo e adotando-se um protocolo de análise, foram excluídas reportagens, cartas do leitor, artigos e matérias que fugissem deste espectro. Com isso, o estudo focou em 429 textos. De acordo com o jornalista e mestre em Saúde Coletiva, o jornal paulistano- com circulação nacional- foi escolhido por sua relevância na difusão de informação e formação da opinião pública. “A escolha do jornal Folha de São Paulo decorreu do fato de constituir o veículo jornalístico de maior circulação no país. Com base nessa metodologia, podemos afirmar que a publicação conferiu grande importância ao assunto, já que foram identificadas 267 matérias que trataram do tema sob os aspectos da determinação da saúde, doença e cuidado”, explicou.
Mesmo dedicando espaço considerável em suas páginas, a Folha contrariou sua própria metodologia para a apuração das notícias. Isso se revela, conforme o pesquisador, porque o jornal embasou um quarto de suas matérias relacionadas ao tema em informações oriundas de uma única fonte e, em quatro oportunidades apenas uma fonte o que, na percepção de Facioli, “comprometeu a pluralidade e o contraditório”. Também impactou a pesquisa a constatação de uma queda acentuada do tema nas páginas do jornal conforme as Metas do Milênio foram alcançadas, com a quase irrelevância do assunto, por parte da publicação, após 2015, ano em que a ONU reconheceu os resultados brasileiros.
“Os resultados revelam, em geral, cobertura superficial e sensacionalista do tema, carecendo de análises mais amplas, como as razões históricas, políticas e sociais a ele relacionadas. Houve privilégio a fontes oficiais, com pouco espaço para opiniões de especialistas independentes e do cidadão comum. Por vezes, o Estado foi apresentado como ineficiente para cuidar da saúde da população”, concluiu o jornalista.
Serviço:
Debate ampliado da “Análise da Cobertura Jornalística da Folha de São Paulo sobre Mortalidade Infantil”
Onde: Rua João Passos, nº 2193, Centro- Botucatu-SP
Quando: 5 de setembro (terça-feira), às 20h30
Quanto: evento gratuito