OPINIÃO | Bacia Hidrográfica do Rio Pardo
A maior parte da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo, originalmente, era coberta por matas
por Patrícia Shimabuku*
Considerado um dos rios paulistas mais limpos e preservados, a bacia hidrográfica do Rio Pardo está inserida na porção norte da Bacia do Paranapanema e leste da Bacia do Paraná. É componente da Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos 17 – UGRHI 17, constituinte da Bacia do Médio Paranapanema. A área da bacia abrange 4.801,095 km², com perímetro de 622,10 km. Com vazão máxima de 68.000 L/s, sua água é classificada como classe dois, sendo destinada ao abastecimento doméstico, após tratamento convencional, à proteção das comunidades aquáticas, ao lazer (esqui aquático, boias, caiaques, natação e mergulho), à criação natural e/ou intensiva (aquicultura) de espécies destinadas à alimentação, à agricultura, especificamente à irrigação, à dessendentação de animais, e ao consumo humano.
O Rio Pardo nasce junto ao “front” da Cuesta, na Serra do Limoeiro próximo à área urbana do município de Pardinho/SP e possui sua foz na cidade de Salto Grande/SP, após 264 km de extensão, onde deságua no rio Paranapanema, marco divisório dos estados de São Paulo e do Paraná. A diferença de altitude na bacia é de 615 metros, variando de 1002 metros, em sua borda superior, em Pardinho, até 387 metros na foz em Salto Grande. A nascente principal do Rio Pardo está localizada a 979 metros de altitude. O número total de nascentes da bacia é de 3.281, que originam 476 microbacias (de segunda a quarta ordem), mais a do Rio Pardo.
Além das cidades citadas, o Rio Pardo e os seus inúmeros afluentes atravessam as áreas urbanas de Botucatu, Itatinga, Pratânia, Avaré, Cerqueira César, Iaras, Águas de Santa Bárbara, Óleo, Manduri, Bernardino de Campos, Santa Cruz do Rio Pardo, Chavantes, Canitar e Ourinhos. Os principais afluentes do Rio Pardo são, pela margem esquerda, o rio Novo, e pela margem direita, o rio Claro. Desde a sua nascente em Pardinho até o município de Botucatu, o Rio Pardo tem quatro represamentos artificiais importantes: a represa na cidade de Pardinho onde a Sabesp capta água para abastecimento, a cascata Véu da Noiva, cartão postal de Botucatu, represa do Mandacaru, onde está localizado a captação de água para o abastecimento da cidade de Botucatu e a última represa no Distrito de Lobo, em Itatinga.
A maior parte da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo, originalmente, era coberta por matas. A partir do início do século XX, com a colonização, as matas foram derrubadas para a construção de moradias, implantação da agricultura e das criações de gado. As águas das nascentes e rios passaram a ser usadas também nas residências. O desenvolvimento de cidades e povoados com a ocupação de toda a região, sem considerar suas peculiaridades provocou importante destruição da maior parte da vegetação existente, principalmente a das margens dos rios.
A forma desordenada como vem ocorrendo o crescimento urbano dos municípios de Botucatu e Pardinho, sem considerar as características naturais do meio, muitas vezes aliado à falta de infraestrutura, vem ocasionando inúmeros impactos negativos para a qualidade da bacia e rede hidrográfica. A ocupação antrópica inadequada dessas áreas gera uma cadeia de impactos ambientais, que passa pela impermeabilização do solo, alterações na topografia, erosão das margens e assoreamento dos cursos d’água, perda das matas ciliares, diminuição da biodiversidade, aumento do escoamento superficial. A omissão e as não considerações urbanísticas correlacionadas a importância ecológica de recarga deste manancial, por parte das gestões públicas destes municípios, comprometerão no curto e médio prazo o abastecimento de água de forma severa.
Para informação, sabe-se de forma difusa, que a atual administração municipal pretende instalar um projeto de barragem acima da represa do Mandacaru (atual fonte de captação de agua bruta). Para conhecimento da população botucatuense e das cidades vizinhas, pergunta-se: “quais os impactos ambientais e socioeconômicos (positivos e negativos) deste projeto? Não duvidando da necessidade e das boas intenções da atual administração, em relação a este projeto, vale esclarecer os detalhes do mesmo para o conhecimento de todos.
As informações supracitadas foram fundamentadas nas fontes:
– Projeto APPs Conhecendo e cuidando da bacia hidrográfica do Rio Pardo 1ª edição, agosto de 2011 Realização Centro de Estudo e Divulgação de Informações sobre Áreas Protegidas, Bacias Hidrográficas e Geoprocessamento – CEDIAP-GEO
– Uma ferramenta para a gestão dos usos múltiplos da água numa bacia hidrográfica visando o desenvolvimento regional sustentável, Dissertação de Mariana Wagner de Toledo Piza, 2014.
* Patricia Shimabuku é farmacêutica industrial, professora e ativista socioambiental.
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