OPINIÃO | Já saímos da Crise Hídrica?

As consequências da escassez hídrica possuem reflexos que vão além da oferta de água para a população

por Patrícia Shimabuku*

Segundo a notícia publicada no site da UOL titulada como “São Paulo e outras 10 cidades do mundo que podem ficar sem água como a Cidade do Cabo” informa que apesar de cobrir 70% da superfície do planeta, a água doce, especialmente a potável, não é tão abundante assim, responde por só 3%. Mais de 1 bilhão de pessoas enfrentam problemas de acesso a ela, e, para 2,7 bilhões, ela falta ao menos um mês por ano. De acordo com projeções chanceladas pela ONU, a demanda por água doce vai superar o abastecimento em 40% em 2030, graças a uma combinação entre as mudanças climáticas, a ação humana e o crescimento populacional.

Em 2015, o portal G1 também informou que “a camada de água dos oceanos é muito fina e, por isso, a quantidade de água é relativamente pequena. Se a Terra fosse do tamanho de uma bola de basquete, toda a água do Planeta caberia dentro de uma bolinha de ping pong. E mais; dessa bolinha de ping pong, quase tudo, 97,5% é água salgada. E, desse pouquinho que sobra 70% é agua congelada nos polos e nas geleiras, 30% está debaixo da superfície da Terra e apenas 0,3% é água potável nos lagos e rios. E essa água está mal distribuída. Sobra em algumas regiões e falta em outras. Some-se a isso o fato de várias regiões do mundo estarem passando por secas mais prolongadas”.

Represa do Mandacaru, em Botucatu, durante a crise hídrica de 2015

No Brasil, a falta de água tornou-se mais grave a partir do ano de 2014, onde tivemos a pior crise hídrica da história. Na ocasião, a região Sudeste foi a principal afetada. E aí, fica a dúvida “ Se o Brasil tem quase o quinto das reservas hídricas do mundo, por que as notícias sobre falta de água se tornaram tão comuns em todo o país nos últimos anos? ”  Há muitas respostas para a pergunta, passando pela diferença na maneira como a água se distribui geograficamente (associada a concentração populacional), degradação das áreas em volta das bacias hidrográficas, aumento das áreas impermeabilizadas, ocupação urbana sem planejamento (estudos e considerações técnicas), mudanças climáticas e infraestrutura de abastecimento deficiente.

As consequências da escassez hídrica possuem reflexos que vão além da oferta de água para a população. A sua falta/diminuição reduz a oferta de alimentos, compromete o fornecimento de energia elétrica (62% da energia é gerada em usinas hidrelétricas) e tem impactos (in)diretos na economia. Cidades com déficit ou problemas de abastecimento hídrico compromete a instalação de indústrias e consequentemente, diminui a oferta de empregos e receitas.

Nesse contexto, os conflitos (escassez) pela água passam a ser alvo de estudo de especialistas, que defendem um maior diálogo entre o Governamental (Poder Executivo e Legislativo), Iniciativa privada e Sociedade, para que esses conflitos possam ser evitados.

O primeiro passo será a adequação das gestões públicas (municipais e estaduais apoiadas pelo Governo federal). Tais gestões precisarão compreender que o planejar a ocupação e a expansão urbana deverá ser, obrigatoriamente, dentro dos pilares da sustentabilidade. Dentro das inúmeras considerações sobre o uso do solo urbano, a ocupação das áreas de mananciais deverá ser com muita responsabilidade para não comprometer a disponibilidade hídrica (quali/quantativamente) para a presente e futuras gerações. A gestão pública (independente da esfera) não poderá ser omissa e permitir que a especulação imobiliária ocupe as áreas de importância/reserva hídrica. Paralelamente a isso, as gestões deverão desenvolver projetos de reflorestamento de bacias/rede hidrográficas (nascentes) no intuito de produzir água e aumentar a qualidade dos saneamentos básicos e ambientais. Quantos municípios possuem tratamento de esgoto? Quantos municípios possuem projetos de conservação das áreas de mananciais? Quantos municípios consideram os estudos e as consequências do ciclo hidrológico urbano?

Aqui, em Botucatu, no ano da crise hídrica, felizmente não tivemos problemas de desabastecimento hídrico, como aconteceu nos municípios de Bauru e Marilia. Entretanto, precisamos refletir e adequar nossos hábitos de consumo, bem como a gestão municipal precisa desenvolver/aplicar projetos de reflorestamento/conservação das bacias hidrográficas, projetos de produção de água e projetos de educação socioambiental que estimulem os cidadãos ao uso racional e responsável deste importante e finito recurso natural. Além disso, vários diálogos de conscientização com a iniciativa privada deverão ser realizados. E aí fica a seguinte provocação: “Como está o Projeto da barragem no Rio Pardo, na região da Cachoeira Véu da Noiva, para evitar que o município sofra no futuro com problemas de desabastecimento?”

* Patricia Shimabuku é farmacêutica industrial, professora e ativista socioambiental.

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