OPINIÃO | Ensinar & compartilhar para reconectar com Meio Ambiente

 A curiosidade faz parte da natureza humana, esta se faz perguntas e busca respostas

por Patrícia Shimabuku*

Segundo Paulo Freire, no seu livro “Pedagogia da autonomia”, ensinar não é apenas despejar conteúdo, mas, debater, dialogar com o aluno e não para o aluno. É uma troca de conhecimentos. É aprender enquanto educa. Através desta perspectiva, a sala de aula se amplia, dilui e mistura com muitas outras salas e/ou espaços físicos, digitais e virtuais, tornando possível que o mundo seja uma sala de aula, que qualquer lugar seja um lugar de ensinar e de aprender, que independente do tempo cronológico possamos aprender e ensinar, que todos possam ser aprendizes e mediadores (simultaneamente e enriquecendo-se mutuamente).

A personalidade humana é construída através da educação e é influenciada pelo meio em que vive (familiar, sociedade e trabalho). Cada ser humano recebe informações e as compreende de um modo individual. Este conhecimento nos torna conscientes de que somos capazes de comparar, decidir e transformar. Para se ensinar algo é preciso aprender e para isto ter curiosidade, pesquisar, querer saber, buscar o conhecimento. A curiosidade faz parte da natureza humana, esta se faz perguntas e busca respostas. 

Freire é enfático ao afirmar que “a transformação da educação não pode antecipar-se à transformação da sociedade, mas esta transformação necessita da educação”. Podemos ensinar por problemas e projetos num modelo disciplinar e em modelos sem disciplinas; com modelos mais abertos (de construção mais participativa e processual) e com modelos mais personalizados, preparados previamente, mas executados com flexibilidade e forte ênfase na resolução de problemas cotidianos para construção de uma sociedade mais justa, inclusiva, democrática e sustentável.

Por meio da proposta pedagógica de Paulo Freire, o projeto Aracatu na Sala de Aula (ASA) desenvolve inúmeras ações educativas (ambientais, socioambientais e turísticas) no município. Projeto educacional (ASA) foi idealizado e motivado pela preocupação da AAVA, Associação dos Amigos do Vale do Aracatu, em estimular a comunidade botucatuense e região a entender as fragilidades, importância e a necessidade de preservar a Cuesta. Neste sentido, o ASA permite aos interessados vivenciar situações de aprendizagem que favorecem a aquisição/troca de conhecimentos (ambientais, socioambientais, saúde coletiva e de cidadania), estimula o desenvolvimento pessoal, a socialização entre os participantes e o reconhecimento/pertencimento do participante com o meio ambiente (natural e urbano) em que se vive.  Além disso, correlaciona aprendizagem adquirida com as características que o município apresenta, discute como a aprendizagem adquirida pode ser aplicada na preservação e no uso racional e sustentável dos recursos naturais, esclarece as consequências na redução da disponibilidade ou na falta dos recursos hídricos para a convivência pacífica e saudável da comunidade, esclarece o papel que cada integrante da comunidade tem na preservação e no uso sustentável dos recursos naturais e, esclarece, também, a dinâmica da economia política e da geografia econômica do município e seus reflexos na vida do cidadão.

Um exemplo dessas ações educacionais foi a assessoria técnica e gestão de projetos locais para o Projeto “Biomas da Cuesta” (do Grupo Laudato Si’ da Caritas Arquidiocesana de Botucatu) na Paróquia de Santo Antonio no Distrito de Rubião Jr, Botucatu-SP, para um grupo de adolescentes com a intenção de que eles reconhecessem elementos da paisagem que constituem o meio ambiente em que vivem e consequentemente, elaborar projetos de conscientização, melhorias e/ou preservação ambiental (ver fotos).

Os conceitos geográficos, tais como espaço e território, são cruciais para a compreensão do processo de organização do homem sobre a superfície terrestre (dinâmica de uso e ocupação do solo), para isso, utilizamos como recursos pedagógicos maquetes, flanelógrafos, exemplares de rochas (arenito e basalto), painéis, cartas (mapas temáticos) e flanelógrafos. Através do entendimento destes conceitos, o indivíduo inicia-se o processo de reconexão com a natureza (estabelecendo uma relação mais responsável e consciente com a mesma) e o mais importante, entende que sua existência se dá estritamente por sua conservação (que os recursos naturais são finitos e escassos).

Por fim, fica aqui algumas provocações: (1) Quais os elementos da natureza (córrego, fragmento de mata, etc) que forma a paisagem do seu bairro? (2) Você sabe quais são as suas relações de dependência com a natureza? (3) O que você faz de fato para preservar o meio ambiente? (4) Você sabe de onde vem a água que sai na torneira de sua casa? (5) Você sabe para onde irá a água da descarga do seu vaso sanitário? (6) Se a nossa cidade passar uma racionamento de água potável, quais serão as consequências em sua vida?

Se você não conseguiu responder as provocações, procure as respostas! Se quiser, nos procure, ASA – Aracatu na Sala de Aula (fanpage ou Instagram).

* Patricia Shimabuku é farmacêutica industrial, professora e ativista socioambiental.

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