Custo para manter a Pinacoteca de Botucatu é estimado em R$ 2 milhões

O chefe do Executivo municipal, salientou esta situação como um dos entraves para a abertura oficial ao público

por Flávio Fogueral

Anunciada há seis anos como sede da primeira filial da Pinacoteca do Estado no interior, Botucatu enfrenta um dilema que se arrasta há alguns meses: o custeio para manter a estrutura e o pagamento de pessoal é estimado em valores superiores a R$ 2 milhões anuais.

A estimativa de valor para manter a Pinacoteca em pleno funcionamento foi dada durante o discurso do prefeito Mário Pardini, durante a entrega da obra no sábado, 31 de março. O chefe do Executivo municipal, salientou esta situação como um dos entraves para a abertura oficial ao público.

“Para abrir as portas da Pinacoteca precisamos de algo acima de R$ 2 milhões, anualizados. É difícil manter com recursos do tesouro do município. É difícil. Precisamos de um aporte de recursos do Estado. Precisamos que as empresas façam aporte de recursos por meio da Lei Rouanet. A Duratex, por exemplo, já destinou R$ 100 mil e a Sabesp, deve aportar R$ 300 mil. Faltam R$ 1,6 milhão”, salientou Pardini, ao lado do secretário adjunto de Estado da Cultura, Romildo Campello.

A Prefeitura de Botucatu explica, por meio de nota oficial, que existe a previsão de captação de R$ 2 milhões, referentes ao “projeto aprovado pela Lei Rouanet para a implantação do mobiliário, equipamentos de segurança e exposições”. A iniciativa em questão é o “Fórum das Artes: a Pinacoteca do interior do Estado”, aprovada em dezembro passado.

No entanto, o custeio total não foi fechado, segundo a própria Prefeitura. Para gerir a Pinacoteca, o Executivo Municipal fará chamamento público para contratação de uma OS, ou seja, uma entidade privada. Em Botucatu, já há gestões de serviços públicos como na área da Saúde, por meio da Fundação UNI.

O custo para manter a Pinacoteca chega a superar o orçamento previsto para a própria Secretaria de Cultura. Para se ter uma ideia, o montante destinado para a pasta é estimado em R$ 3,853 milhões, conforme a Lei nº 5956 aprovada pela Câmara Municipal ainda em dezembro passado. Ou seja, toda a previsão orçamentária seria destinada apenas para o espaço, caso o município arcasse com as despesas de funcionamento.

Restauração do prédio consumiu mais de R$ 17 milhões, sendo R$ 800 mil oriundos do município

Pela especificidade de gestão da Pinacoteca, o organograma funcional prevê a contratação de dezesseis profissionais, além de quatro estagiários. Tais colaboradores serão alocados para atividades de cunho educativo, e administrativo, serviços de segurança, limpeza e manutenção.

O restauro do prédio era estimado em mais de R$ 17 milhões, sendo R$ 840 mil provenientes da Prefeitura de Botucatu. Com sete salas e dois halls dedicados a exposições em dois pavimentos, além de auditório, reserva técnica e biblioteca, a estrutura da futura Pinacoteca de Botucatu, que será gerida pela municipalidade em parceria com uma Organização Social (OS), conta também com plataformas de acessibilidade, elevador e outros ambientes fundamentais para o funcionamento pleno do museu. As reformas e adequações abrangeram uma área de 3.421,92 m².

O acervo permanente (reserva técnica) será do Museu de Arte Contemporânea Itajahy Martins. Sobre as exposições e obras cedidas ao espaço, as mesmas ocorrerão em sistema de comodato. Segundo a Prefeitura de Botucatu, “as exposições têm  seus custos próprios de produção e seguro que deverão ser custeados dentro da programação e investimento da Prefeitura e Pinacoteca de São Paulo, por meio das ações do SISEM Sistema Estadual de Museus, integrante da Unidade de Preservação de Patrimônio Museológico da Secretaria de Estado da Cultura e projetos de parceria”.

Campello, em discurso, afirmou que a primeira exposição a ocorrer no espaço será do escultor francês Auguste Rodin, com peças da própria Pinacoteca estadual. “A cultura, na perspectiva que temos trabalhado  é o caminho para formação e geração de empregos, renda e melhoria na qualidade de vida de todos. Essa obra representa fisicamente a ideia de trazer para Botucatu e região o acervo que nós temos no estado de São Paulo”, declarou.

Inaugurada, mas sem abertura oficial ao público

O prédio da Pinacoteca foi entregue oficialmente no sábado, 31 de março, seis anos depois do anúncio de sua construção. Após descerramento de placas e discursos de autoridades, o público presente conferiu o resultado do restauro do prédio original- projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo, há mais de um século-, com uma visita ao interior do espaço.

Autoridades desconversam sobre cravar uma data, em definitivo, para que o equipamento possa iniciar as exposições de seu acervo. “Hoje inauguramos o prédio da Pinacoteca, mas alguns ajustes ainda serão necessários fazer. A empresa ainda trabalha em alguns pontos para que tenhamos a Pinacoteca da melhor maneira possível para abrir as portas à população”, justificou Pardini.

Hall interno do antigo Fórum, totalmente restaurado para receber a Pinacoteca

Prevista inicialmente para 2015, a obra sempre foi postergada por detalhes na infraestrutura e, após isso, por problemas no financiamento do local. Uma parte do complexo do local já recebe exposições e atividades artísticas, o chamado Fórum das Artes, ao lado do prédio da Pinacoteca.

Em fevereiro, o presidente do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), Marcelo Mattos Araújo, realizou visita técnica às instalações da Pinacoteca de Botucatu.  O órgão é responsável pela Política Nacional de Museus (PNM) e melhoria dos serviços do setor, como aumento de visitação e arrecadação dos museus, fomento de políticas de aquisição e preservação de acervos e criação de ações integradas entre os museus brasileiros.

Naquele mesmo mês, uma equipe do Sistema Estadual de Museus também verificou as condições do Museu de Arte Contemporânea Itajahy Martins em receber exposições.  “A programação do espaço poderá ser fortalecida com exposições desenvolvidas pelos museus geridos pela Secretaria da Cultura do Estado através das Organizações Sociais de Cultura. Além de exposições, o Sistema Estadual de Museus proporciona apoio técnico e formação de especialistas para possibilitar o aperfeiçoamento contínuo das atividades museológicas”, frisou Regina Ponte, coordenadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico da Secretaria da Cultura do Estado.

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