Filas e postos sem combustíveis: o reflexo da crise de abastecimento
Diferente do que foi registrado em muitas cidades, os donos de postos não reajustaram os preços significativamente
por Flávio Fogueral
Ao final da tarde de quinta-feira, 24, poucos postos de combustíveis ainda ofereciam gasolina, etanol e óleo diesel ao consumidor. Em muitos, os estoques se esgotaram ainda no período da manhã. Filas, buzinaços e motoristas irritados por esperar mais que trinta minutos para abastecer. Essas foram as cenas mais comuns do dia em Botucatu.
A corrida se deu por causa do risco de desabastecimento de combustíveis, um dos reflexos imediatos da greve dos caminhoneiros, que entrou em seu quarto dia. Apenas veículos com carga de alimentos e produtos perecíveis estão circulando pelas rodovias do país. Botucatu segue a mobilização, com mais de 150 caminhoneiros parados desde segunda-feira, 21.
A situação no município pode ser dividido em dois momentos: logo pela manhã, grandes filas se formaram ao entorno dos postos. Um dos casos mais emblemáticos ocorreu na Vila dos Lavradores, onde a fila chegava a mais de 50 metros na Rua Major Matheus. O trânsito ficou complicado e o atendimento demorava, em média, vinte minutos para ocorrer.
Um motorista mais exaltado chegou a discutir com frentista sobre a demora e os critérios de atendimento. Não quis se identificar, mas disse que iria completar o tanque para poder rodar com o carro em situação de emergência por ter um bebê.
O gerente de um posto, também na Vila dos Lavradores, disse que precisou reforçar o número de funcionários para o atendimento. Realçou que os estoques eram suficientes até o final do dia e que a procura principal ainda era a gasolina.
Conforme a manhã terminava, os combustíveis também. Um posto no Jardim Paraíso colocou cartazes anunciando que não tinha mais gasolina, somente etanol. E logo o “combustível verde” se esgotaria. No Lavapés, outro estabelecimento anunciou que os estoques zeraram e o atendimento aos clientes foram suspensos.

Na Vila Assumpção, a cena era similar a de outras regiões da Cidade: grande fila e motoristas irritados. O trânsito chegou a ficar complicado na rotatória da Avenida José Pedretti Neto e a Rodovia João Hypólito Martins (SP-209), a Castelinho. A rodovia, inclusive, foi palco de uma cena inusitada: enquanto ocorria protesto dos caminhoneiros na Castelinho, uma fila de carros se formava do outro lado da pista em busca de combustível.
Outro momento da crise foi à tarde: por causa da instabilidade da situação, o prefeito Mário Pardini (PSDB), decretou situação de emergência e somente os serviços essenciais como ambulâncias e viaturas da Guarda Civil Municipal têm prioridade para circular.
Nos postos, as longas filas permaneceram. A Avenida Floriano Peixoto, com pouco mais de um quilômetro de extensão, possui três postos de combustíveis, cuja situação era semelhante: muitos veículos para abastecer e a oferta ficando escassa. Uma das filas chegou, inclusive, a se aproximar da Rua Amando de Barros.
Muitos motoristas esboçaram insatisfação e preocupação quanto à crise. Parada há mais de 45 minutos em frente à Praça do Paratodos, uma mulher frisou que gasta mensalmente mais de R$ 400 somente com combustível. “Para prevenir vou encher o tanque”, disse.
Diferente do que foi registrado em muitas cidades, os donos de postos não reajustaram os preços significativamente. A média para a gasolina continuou nos R$ 4,57 e do etanol em R$ 2,90. O diesel é encontrado por R$ 3.
Com os estoques quase no final, resta ao motorista botucatuense peregrinar nesta sexta-feira, em busca de combustível.
Ouça o relato da jornalista Karina Sant’Anna sobre a falta de alguns produtos na Vila dos Lavradores