O defensor de um cristianismo criado por religiosos deixou clara sua posição ideológica sobre meritocracia
por Nelson Ferreira Junior*
Na última segunda-feira, 30 de julho, o candidato à presidência Jair Bolsonaro demonstrou que, embora tenha dificuldade em ampliar o repertório de sua fala, possui sagacidade política.
Aproveitando-se da estratégia de responder de maneira genérica, quase sempre de apenas um modo, aos temas abordados, o defensor de um cristianismo criado por religiosos deixou clara sua posição ideológica sobre meritocracia, ao responder, por exemplo, sobre os banqueiros e sobre racismo.
A questão sobre o racismo é a que está se destacando mais nas redes-sociais. Bolsonaro disse “se for ver a história realmente, o português nem pisava na África, eram os próprios negros que entregavam os escravos”.
A ideologia de Bolsonaro consiste na negação de uma dívida dos brancos para os negros, contrariando assim políticas como, por exemplo, as de cotas (para negros) em universidades. O candidato reflexo seja do ódio, seja do desespero, seja da pouca educação reflexiva dos brasileiros defende a tese de que não há racismo, uma vez que não foram os brancos que capturaram os negros para escravizá-los, mas sim os próprios negros. Segundo Bolsonaro, portanto, não se trata de uma questão de preconceito racial.
A perspicácia sofista do mito* procura convencer a sociedade de que políticas que tentem auxiliar os negros por sua cor de pele seriam injustas. Ele tenta desviar o foco de que a maioria dos brancos brasileiros são descendentes de pessoas que se aproveitaram da mão de obra escrava negra.
E, em grande parte, a persuasão é alcançada… E assim caminha o ideal meritocrático…
*O termo foi utilizado como forma pejorativa para se referir às crenças comuns (consideradas sem fundamento objetivo ou científico, e vistas apenas como histórias de um universo puramente maravilhoso).
Nelson Ferreira Junior é professor