OPINIÃO | O ensinamento de uma imagem

O absurdo não é que a foto corra o mundo, mas que ela exista e retrate situações infelizmente reais e presentes

por Oscar D’Ambrosio*

O lançamento da autobiografia ‘A menina da foto – Minhas memórias: do horror da guerra ao caminho da paz’, de Kim Phuc, a menina nua fotografada caminhando por uma estrada por Nick Ut, que se tornou um ícone da Guerra do Vietnã, nos obriga pensar muito sobre a infinita capacidade humana de fazer a guerra.

Kim, com 9 anos em 8 de junho de 1972, quando a foto foi tirada, ainda convive hoje com intensas dores pelas queimaduras sofridas pelo napalm, arma química que que adere à pele e queima os músculos. Hoje, morando em Toronto, Canadá, ela se submete a tratamento periódico em Miami para combater as sequelas e participa de eventos contra o militarismo.

O ensinamento que o episódio nos traz é amplo. Por um lado, está a discussão do registro da foto e da sua divulgação. Não são poucos os que são contra esse tipo de jornalismo que mostra cenas de pessoas em estado de fragilidade e degradação, mas o conhecimento público desse tipo de imagem, desde que a produção seja legítima, e não montada, contribui para a conscientização mundial de causas mais do que justas.

O absurdo não é que a foto corra o mundo, mas que ela exista e retrate situações infelizmente reais e presentes em diversas situações, seja por questões políticas, étnicas, raciais, religiosas ou culturais. O sofrimento de Kim nunca deveria ter existido, mas, se ocorreu, deve ser mostrado para que exista um alerta contundente de que situações como essa não podem nem devem se repetir.

Oscar D’Ambrosio, mestre em Artes Visuais e doutor em Educação, Arte e História da Cultura, é Gerente de  Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo..