OPINIÃO | Turismo botucatuense, precisamos dialogar sobre (urgentemente)!
É sabido que existe um trabalho da gestão pública local e do conselho respectivo para o segmento
por Patrícia Shimabuku
Nos últimos dias, Botucatu e região compartilharam a notícia desagradável (a ocorrência de acidente, em área particular com potencial turístico) que levou à óbito uma “turista”.
Não vou utilizar o espaço que possuo, neste veículo de comunicação, para a realizar críticas punitivas, mas sim, mais uma vez, vou colocar pontos a serem refletidos e que talvez sirva de inspiração para todos aqueles que sonham com o desenvolvimento turístico botucatuense.
É sabido que existe um trabalho da gestão pública local e do conselho respectivo para o segmento. Trabalho que não segue o tempo cronológico e que depende de recursos financeiro e humano especializados para atender todas as vertentes turísticas que o município possui que vão além do turismo e esporte de aventura e do gastronômico rural.
Contudo, existem pontos que poderão ser iniciados, que não dependem de recursos financeiros e incentivos políticos (de esfera estadual e federal). Mas sim, de vontade política municipal.
Podemos sim, começar a fazer a lição de casa.
Lição que não é exclusiva do poder público e do conselho respectivo, mas sim, de todos os munícipes que buscam esse tipo de lazer.
Não é de hoje, que venho comunicando que 90% de nossas áreas com potencial turístico (recurso turístico) são e estão presentes em propriedades particulares. Existem algumas cachoeiras e alguns mirantes particulares cujos proprietários permitem o uso e a contemplação mediante a pagamento ou não de sua entrada. Não vou mencioná-los aqui, pois não solicitei autorização para divulgação.
O nosso município só possui duas áreas públicas, no caso das cachoeiras, a Cachoeira Véu de Noiva (uso permitido) e a Cachoeira da Marta (fechada para manutenção, que poucos respeitam a placa informativa/segurança colocada em sua entrada).
O uso das demais cachoeiras, o proprietário deverá autorizar. Reforço que poucos proprietários autorizam o seu uso. Muitas cachoeiras possuem placas de proibição em sua entrada, que são simplesmente são ignoradas/desrespeitadas pela população. A falta de educação é constante.
E aí, fica sempre aquela frase “Se a natureza é de todos, ele (proprietário) não pode proibir. A proibição é egoísmo”.
Sim, a natureza é todos e a sua preservação/conservação é responsabilidade de todos, entretanto, onde o recurso turístico está localizado (cachoeira/mirante) alguém adquiriu mediante a aplicação de recursos financeiros e todas as implicações civil, penal e danos ambientais serão de responsabilidade do proprietário da área.
Reflita:
“E se a cachoeira fosse sua?”
“E se você quiser usá-la (sozinho, com sua família e amigos), ao chegar no local tivesse inúmeros desconhecidos. Além disso, lixo, fogueira, churrasco, piquenique, uso de bebidas alcoólicas e drogas. Qual seria sua reação?”
“E se você chegasse ao local e alguém tivesse utilizando sua área como parte de negócio econômico, como por exemplo, ensaios fotográficos, turismo/esportes de aventura ou turismo ecológico/contemplação, onde você sequer foi comunicado e/ou a atividade faz parte dos ganhos econômicos de terceiros, qual seria sua reação?”
E digo mais, a realização de atividades em áreas naturais, além das questões de educação (respeito à propriedade privada), conservação ambiental, outro ponto deverá ser considerado, o da SEGURANÇA.
O PLANEJAMENTO das visitações, uso de cachoeiras, contemplação de mirantes, esportes de aventura (corridas de bicicleta ou a pé, rapel e escalada), caminhadas, acampamento, voo de paraglider e balão, etc., OBRIGATORIAMENTE deverão obedecer ao CHECKLIST DE SEGURANÇA.
O checklist de segurança compreende alguns pontos, como por exemplo:
- O conhecimento da área (procure realizar essas atividades com profissionais/empresas capacitados que respeitam todas as normas técnicas e cujos equipamentos estejam em prefeitas condições de uso). Existem regras técnicas do número de visitantes que serão assistidos/cuidados por número mínimo obrigatório de monitores profissionais. Procure saber. Além disso, existe uma ficha saúde individual de cada turista que deverá ser preenchida. As empresas deverão possuir um kit básico de primeiros socorros específico para cada tipo de atividade.
- O seguro de vida pessoal deverá ser verificado pelo turista antes da realização da prática. Verifique se o mesmo cobre acidentes em áreas não urbanas e são específicos para a atividade a realizar (existem diferenças e nem todas as seguradoras cobrem acidentes em áreas naturais).
- Condições do tempo, no dia da realização da atividade e nos dias que antecederam a atividade (clima é um fator de segurança indispensável. As chuvas movimentam o fundo do corpo hídrico fazendo movimentar pedras, galhos da vegetação que estavam sedimentados. A correnteza presente em cachoeiras poderá carregá-los e causar acidentes graves. Altura + velocidade + pedrinha poderão levar a óbito o indivíduo que estiver debaixo da queda d’água (trauma craniano). Chuvas poderão alterar a paisagem da trilha e torná-la perigosa (cheia de riscos como tombos e escorregões). Riscos de tempestades com raios não poderão ser ignorados.
- Retorno da atividade deverá ser antes do anoitecer. Com a noite a identificação do trajeto torna-se difícil, sem falar do aumento da probabilidade de encontrar animais silvestres e peçonhentos. A temperatura cai com o anoitecer, podendo dificultar mais o retorno.
- Roupas e calçados adequados a atividade, mochila (água, alimentos leves e que não precisam de refrigeração, protetor solar, repelente, bonés, chapéus e óculos), mapa do trajeto com pontos de referência e pontos de sinal de celular são outros itens que não poderão ser desconsiderados.
Existem outros pontos que deverão ser considerados durante o planejamento das atividades. Por isso, a regulamentação turística do município se faz mais do que necessária e urgente.
O verão se aproxima! E o que iremos fazer? Quais as nossas responsabilidades: poder público, conselhos municipais, iniciativa privada, proprietários, equipes básicas de suporte de vida (Bombeiros, SAMU, GCM-GPA), imprensa, sociedade civil organizada e formadores de opinião?
Lembre-se, o resgate e o atendimento a vítimas em áreas urbanas já é algo complicado, imagine em áreas naturais. O atendimento é muito dificultoso, demanda técnica especializada, esforço intelectual e físico, cumplicidade entre as equipes de resgate. Sem falar no trajeto, que muitas vezes os veículos não conseguem chegar próximo do acidente.
Acredito que o exemplo deve partir do Poder Público, sendo assim, será que existe um checklist que regulamenta o exercício econômico das empresas que realizam ou tenham a intenção de realizar qualquer atividade turística ou esporte de aventura em nosso município? A fim de garantir a segurança de todos? Existe fiscalização antes e durante os eventos mencionados (suporte de segurança e tipo de equipamentos utilizados)? Todos os pontos de segurança e normas técnicas foram cumpridos?
Não regulamentar e ser omisso diante as normas técnicas e de segurança do segmento turístico além de irresponsável é comprometer um nicho econômico que poderá ser a alavanca do desenvolvimento do município e região, sem falar, de ser um dos motivos da conservação/uso sustentável do nosso maior patrimônio, Cuesta!
Por que insistimos no amadorismo turístico?
Para saber mais:
http://www.agencia14news.com.br/geral/artigo:-neste-verao-nao-afogue-a-diversao
http://noticiasbotucatu.com.br/2017/06/12/opiniao-turismo-sustentavel-e-sustentabilidade-turistica/
*Patricia Shimabuku é farmacêutica industrial, professora e ativista socioambiental.
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