OPINIÃO | Aquela garota que ia mudar o mundo… está mudando!

Movimento ganhou apoio internacional até de personalidades como as cantoras Madonna e Cher

por Nelson Ferreira Junior

O modelo democrático brasileiro ainda precisa evoluir bastante para representar o significado da palavra democracia. Enquanto alguns lutam para destruí-lo, outras (os) lutam para aprimorá-lo. Durante décadas nossas mídias, que são concessões públicas – porém comandadas por grupos políticos – têm se aproveitado de sua capacidade de influência para condicionar seus leitores, ouvintes, telespectadores a querer uma manutenção de poder nas mãos dos grandes empresários brasileiros e estrangeiros. Foi assim na manifestação em que grande parte da sociedade foi às ruas clamar por saúde, educação, fim de corrupção, e que teve forte impacto na retirada de uma presidenta eleita democraticamente e na entrega do país a um pseudopresidente, que conquistou o poder por um golpe. Brasileiros, brasileiras acreditaram nos cidadãos Kanes de nosso país e foram também responsáveis pela crise nas mais variadas áreas, dentre elas, saúde e educação e pela liberdade à corrupção, agora respaldada pelos detentores da justiça.

Neste mundo em que a realidade está cada vez mais longe da falsa imagem que comanda os pensamentos e as ações de muitos, poucos conseguem visualizar a possibilidade de uma mudança e lutar por ela. Como cantava Cazuza, no final da década de 80, “as ilusões estão todas perdidas”. Pelo menos, era assim que parecia ser há até pouco tempo…

Há 50 anos, em 1968, no Rio de Janeiro, uma manifestação popular organizada pelo movimento estudantil e com a participação de artistas, intelectuais, setores da Igreja e outros da sociedade brasileira conseguiu uma façanha que parecia impossível: reunir mais de cem mil pessoas para protestar contra a ditadura militar, mesmo com a grande mídia agindo com suas imposições ideológicas de maneira contrária. E naquela época não havia internet para convocar amigos e amigas de redes sociais. Mas, nos últimos anos, parecia que não teríamos mais essa capacidade de organização para protestar contra o sistema opressor. Parecia…

Estamos em 2018, e, mais uma vez, o Grande Irmão da obra 1984 de George Orwel, se viu desafiado pela capacidade humana em intervir politicamente. Somos massacrados com concepções ideológicas de que é necessário agir com violência para acabar com a violência. Apresentadores de tevê, comandados pelo Big Brother (não o programa, mas sim o Sistema de mídias, de poder) tentam fazer nossas cabeças com a crença de que “bandido bom é bandido morto”. E, nesse contexto de dominação ideológica, muitos passam a acreditar que um “herói” armado pode surgir para nos salvar.  Entretanto nossas tele-telas, nossas tevês, rádios, jornais, sites, talvez pela própria ideologia machista, não visualizaram que havia um grupo capaz de quebrar os muros que predominam no sistema. Foram elas, as mulheres, as responsáveis não por uma Marcha dos Cem Mil, como aconteceu em 1968, mas por uma marcha de milhões que se manifestou pelas redes sociais, pelas ruas de nossa terra pindorama.

O movimento ganhou apoio internacional até de personalidades como as cantoras Madonna e Cher. Mulheres, homens saíram às ruas para dizer não à ideologia personificada no candidato à presidência Jair Bolsonaro. A manifestação que desafia a grande mídia está dizendo ao mundo “chega de desigualdade, chega de preconceito, chega de violência, chega de ditadura!”, “nós não vamos eleger, aqui no Brasil, um presidente machista, homofóbico, eugenista, defensor da desigualdade social, defensor da violência, falso nacionalista e incompetente!”.

Aqui em Botucatu, a passeata deste dia 29 de setembro de 2018, começou na conhecida Praça do Bosque, percorrendo parte da Rua Amando de Barros, passando pela Rua Morais de Barros e chegando à praça em frente à Catedral, onde foram feitos discursos em defesa da pluralidade, do fim das diferenças, fim do discurso de ódio. A manifestação não ocorreu para defender algum partido político ou algum candidato. O protesto organizado por mulheres e que confrontou as forças midiáticas e os poderosos elitistas reuniu diferentes pessoas, de diferentes partidos políticos para dizer #ELENÃO #ELE NUNCA!

Nelson Ferreira Junior é professor. 

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