OPINIÃO | Variações sobre a morte

A grande questão que se coloca a todo momento está se a vida não poderia ser vista como uma caminhada

por Oscar D’Ambrosio*

A morte, tema tabu no Ocidente, é tratada no Oriente com maior naturalidade. Em terras do sol nascente, o desaparecimento físico costuma ser visto em uma perspectiva em que a relação entre o mundo que conhecemos e o que desconhecemos é permeada por sutilezas que nos passam muitas vezes despercebidas.

No filme indiano ‘Hotel Salvation’, dirigido por Shubhashish Bhutiani, temos a narrativa de um senhor de 77 anos que, ao sentir que a morte está próxima, decide ir para a cidade sagrada de Varanasi, onde pode morrer em paz junto ao sagrado rio Ganges.

A ida até lá envolve toda uma logística que trará alterações na vida da família. O filho sacrifica a credibilidade em seu emprego para atender os desejos do pai, enquanto a neta desfaz o casamento. A preparação para a morte e as cerimônias fúnebres oferecem o pano de fundo de diálogos breves e densos.

A grande questão que se coloca a todo momento está se a vida não poderia ser vista como uma caminhada para morrer e, nesse sentido, os passos finais deveriam ser plenos e reflexão sobre aquilo que foi feito e que pode ser melhorado. Existe nessa postura um convite para uma pausa para pensar, algo cada vez mais difícil na correria cotidiana

A sucessiva consciência que o protagonista ganha de si mesmo e da família leva um repensar da nossa existência. E, para isso, tanto faz se estamos no Oriente ou no Ocidente. Por mais doloroso que possa parecer, rever-se no espelho sempre é muito saudável!

Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

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