Em época de super-heróis – e nada contra eles –, o filme se sustenta pelo espaço dado a pessoas comuns
por Oscar D’Ambrosio*
Como encontrar motivação para viver num mundo em que tudo parece ser cada vez mais difícil? Se essa pergunta passa às vezes pela sua cabeça, antes de dar um passo para uma depressão, assista ao filme “A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata”, dirigido por Mike Newell, com a presença luminosa de Lily James.
Baseado em romance de Mary Ann Shaffere e Annie Barrows, coloca uma escritora na ilha inglesa de Guernsey logo após o término da II Guerra. A comunidade ainda cura as feridas e contempla as cicatrizes do conflito. Entre elas, está o clube aludido no título, cuja história é não apenas uma resistência ao nazismo, mas um entroncamento de narrativas.
A protagonista encontra um novo sentido para a sua existência ao conhecer as aventuras da comunidade local, havendo uma diversidade de abordagens, desde o fazendeiro que cuida de uma criança órfã ao traidor que delatava cidadãos locais aos nazistas em troca de dinheiro. A aparente ingenuidade da história se apoia justamente no cotidiano de pessoas comuns.
Em época de super-heróis – e nada contra eles –, o filme se sustenta pelo espaço dado a pessoas comuns. Não há grandiosidade, mas fatos cotidianos que erguem a fortaleza de pessoas que se apoiam umas nas outras para sobreviver, não vendo a vida como fardo ou desafio, mas como uma torta de péssimo sabor, que precisa ser comida com gim para ser suportável de digerir.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e pós-doutorando e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.