Ignorância Ecológica
A qualidade do meio ambiente é de suma importância para a preservação da própria vida
por Patrícia Shimabuku*
Será apenas exaltação romântica de ambientalistas conservar o meio ambiente, respeitar os ecossistemas e não interferir indevidamente no delicado equilíbrio ecológico?
A qualidade do meio ambiente é de suma importância para a preservação da própria vida, já que a sociedade é a maior beneficiada com a manutenção do equilíbrio ecológico e a maior prejudicada com o seu desequilíbrio. A crise ambiental possui relação direta com a crise do comportamento humano, e ambas se revelam nas desigualdades, na perda da dignidade humana, na destruição progressiva do Planeta, na violação dos Direitos Humanos, no sistema político corrupto e no descumprimento das diretrizes da Constituição Federal.
É desafiador dialogar e propor caminhos para conservação ambiental em tempos de polarização política. As presentes gestões públicas além de ignorar a relação de interdependência do meio ambiente com a prosperidade socioeconômica e na promoção de saúde individual e coletiva, reforçam os discursos de que a conservação ambiental é o empecilho para o desenvolvimento econômico nacional associado a “agenda da esquerda”. A questão ambiental “não é coisa da esquerda ou da direita”, mas sim, é uma questão de decência e existência humana.
Você, caro leitor, também assim como eu, é responsável pela perpetuação da ignorância ecológica e pela banalização da conservação ambiental em nossas casas e em nossas cidades.
Você acompanha as discussões/aplicabilidade das políticas públicas ambientais de sua cidade? Você sabe de onde vem a água que abastece sua caixa d’água e como está a proteção dos mananciais de abastecimento público local? Como está a qualidade e a fiscalização do aterro sanitário? Como está o tratamento de esgoto? Como está a fiscalização e o monitoramento do uso de agrotóxicos nas áreas rurais? Como está a aplicação das leis ambientais municipais, estaduais e federais em sua cidade? Se os relatórios ambientais (de ações e financeiros) estão atualizados e disponíveis de fácil acesso? O exercício da cidadania não é exclusivo somente nos períodos eleitorais – é necessário o acompanhamento e fiscalização cidadã permanente.
Se a correria diária dificulta a participação em discussões públicas, a transformação ecológica assertiva pode começar de forma homeopática dentro da sua casa, com atitudes simples, cotidianas que além de auxiliar a conservação ambiental contribuirá com a economia doméstica. Além de comprar somente o necessário, ao comprar reflita como será o descarte do produto adquirido após sua inutilização (se poderá ser reciclado ou se irá direto para o aterro sanitário); faça um checklist nos cômodos (verifique a possibilidade de troca das lâmpadas incandescentes por LED ou fluorescentes, observe a parte hidráulica, procure “vazamentos invisíveis” ou gotejamentos), evite o desperdício de alimentos e procure receitas e maneiras de aproveitá-los de forma integral. Não utilize ao esguicho da mangueira como vassoura para limpar calçada/quintal e procure molhar o jardim após o entardecer (processo de evaporação hídrica é mais lento). Se possível, plante uma árvore em sua calçada.
A ignorância ecológica é onipresente, com consequências imensuráveis que se alastra como um câncer em escala local e global. A conscientização ambiental é uma missão coletiva e não exclusiva de movimentos ambientalistas e ativistas socioambientais. A omissão também contribui para ignorância ecológica. Reflita!
*Patricia Shimabuku é farmacêutica industrial, professora e ativista socioambiental.
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