Chuvarada – reflexões e atitudes individuais
Queremos asfalto, moradia e todos os benefícios da urbanização, mas como equilibrar os benefícios urbanos com a questão ambiental?
por Patrícia Shimabuku*
A chuvarada histórica do dia 10 de fevereiro de 2020 deixou uma imensidão de prioridades e cicatrizes emocionais, financeiras e estruturais em diversos pontos da cidade. Com o passar dos dias, de várias formas e ritmos, as áreas (urbana e rural) são reconstruídas.
A reconstrução minimizará os transtornos, porém, para prevenção de danos socioambientais pós chuvas, reflexões sobre a ecologia urbana serão necessárias, como por exemplo:
- A ocupação (loteamentos) nas áreas altas da cidade considera (considerou) o arrumamento em curva de nível?
- Há monitoramento e avaliação ambiental das microbacias e app urbanas?
- Por que a cidade de Botucatu (e tantas outras cidades) não suporta o grande volume de chuvas?
- Será a chuva forte a principal causa dos problemas de drenagem?
- Por que os danos pós chuvas foram acentuados – qual a sua relação com os novos loteamentos?
O ponto central para responder os questionamentos, é caracterizar como o ciclo da água sofre alteração no meio urbano.
Em linhas gerais, o ciclo da água na natureza compreende a precipitação, evaporação e infiltração das águas. No entanto, na área urbana, o ciclo sofre profundas e constantes alterações: a água caí sobre o solo impermeável (asfalto) e não consegue se infiltrar, consequentemente, aumenta-se o escoamento superficial (enxurrada). E por sua vez, os córregos urbanos, em sua maioria, estão canalizados e não suportam o grande volume hídrico (enxurrada) que foi direcionado por meio de sarjetas, galerias e bueiros, e daí, aparecem as enchentes, inundações e pontos de alagamento.
Todavia, queremos asfalto, moradia e todos os benefícios da urbanização, mas como equilibrar os benefícios urbanos com a questão ambiental?
Essa conciliação inicia-se dentro da nossa casa, com atitudes simples, como por exemplo: (1) sistemas de capta chuva, (2) existência de espaços não pavimentados dentro do lote – “jardins”, (3) calçadas drenantes e (4) destinação adequada de resíduos (lixo).
Parece ser ineficiente, mas em escala (rua, bairro ou cidade) de moradias e edificações com esses dispositivos sustentáveis, as consequências do aumento do escoamento superficial serão minimizadas ou até mesmo erradicadas. Por fim, qual a possibilidade da aplicação das atitudes descritas acima em sua casa?
*Patricia Shimabuku é farmacêutica industrial, professora e ativista socioambiental. Para ler todos os artigos da colunista, acesse aqui.