Quem ainda está subestimando a pandemia e não começou a cooperar?
por Vinícius Nunes Alves*
Em uma análise profunda, eu e você não somos dois indivíduos. Somos duas comunidades porque há uma rede enorme de microrganismos que vivem em/junto de nós (simbiose). Eles permitem a nossa vida e nós permitimos a deles. Não somos capazes, sozinhos, de produzir vitaminas, de digerir alimentos e outras funções vitais. Só conseguimos graças às bactérias benéficas que temos. Também não conseguimos, sozinhos, equilibrar as populações de várias das nossas bactérias, e evitar inflamações, sem a ajuda de alguns vírus bacteriófagos (benéficos) que temos.
A diversidade de microorganismos é gigantesca e a ciência ainda conhece pouquíssimo. Mesmo considerando apenas o que conhecemos, relativamente falando, é uma pequena parcela dos microrganismos que nos são patogênicos, isto é, causam doenças. E dentre esses, uma parcela ainda menor causa epidemias ou até pandemias. Aos poucos, percebemos que não é só numa aula de ecologia que vemos casos de cooperação entre outros seres vivos, mas também vemos casos de cooperação que envolvem nós mesmos numa aula de microbiologia. As diferentes disciplinas/matérias têm pontos de conversação. Na verdade, quanto mais pesquisamos, mais cooperações se desvendam entre os seres vivos, ou seja, na natureza não é apenas a competição que se abunda, tal como é a visão dominante.
Se diferentes espécies cooperam bastante para viver, por que a população de uma única espécie não pode cooperar bastante também, especialmente em caso de pandemia? As bactérias são unicelulares e os vírus nem mesmo uma célula possuem, são acelulares (por isso não é unanimidade entres cientistas que os vírus são seres vivos). Os vírus são partículas, basicamente de DNA e proteínas, que só ganham vida ativa quando conseguem pelo menos uma célula de uma outra espécie compatível para se hospedarem. Vírus que descobrimos benéficos são bem-vindos, mas os neutros ou patogênicos só são bem-vindos se forem usados como ferramentas em tratamentos médicos, como, por exemplo, em terapias gênicas.
Vamos cooperar para não dar nossas células de bobeira para o novo coronavírus (SARS-CoV-2) entrar e causar a sua doença (COVID-19) que é mais do que uma gripezinha. Depois que ele nos infecta, nossos guardiões (leucócitos ou glóbulos brancos) não conseguem ainda reconhecê-lo e expulsá-lo, e com ou sem sintomas podemos contagiar outras pessoas. Quanto mais a cooperação de prevenção faltar, mais a cooperação de remediação será necessária. Acontece, porém, que o sistema de saúde (público e privado) e os profissionais da saúde no Brasil têm um limite! Não é possível um país ter infraestrutura para atender uma demanda que cresce de forma tão acelerada, leitos de hospitais já estão lotando e não queremos virar uma segunda Itália, certo?
Além disso, mesmo pessoas que conseguem ser atendidas, anularem o vírus e se curarem da doença, podem ficar com sequelas pulmonares, conforme pesquisa científica. E aí, quem ainda está subestimando a pandemia e não começou a cooperar?
Vinícius Nunes Alves é Licenciado e Bacharel em Ciências Biológicas – IBB/UNESP. Mestre em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais – UFU. Especializando em Jornalismo Científico – Labjor/UNICAMP . Professor Escolar da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.
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