Bolsonário III – Ensaio sobre covidiotas

Aqui as palavras e os títulos, com raras exceções, são próximos aos de qualquer dicionário

por Chico Villela*

Esta terceira edição do Bolsonário – pequeno dicionário de bolso sobre palavras e relatos de fatos contemporâneos –concentra-se em agentes e operadores que vêm contribuindo para o desmonte do Estado e a entrega de mais riquezas aos já donos de poderes e recursos, com a consequente retirada de direitos sociais e humanos dos que nada possuem a não ser esses direitos.

Ao contrário do Bolsonário I, que jogava com sutis alterações de palavras para deslindar os rumos dos fatos, aqui as palavras e os títulos, com raras exceções, são próximos aos de qualquer dicionário ou livro de referências.

Ao leitor peço que permita eventuais palavrões: anda cada vez mais difícil falar em linguagem diplomática dessa corja.

Constranjumento – Sentimento causado por ações e declarações de covidiotas como Mr B, os tais 01 02 03, os sinistros das Relações Exteriores e da Educação e outras personagens menos votadas mas tão estúpidas quanto.  A última foi a tentativa de Mr B de abrir as lotéricas (um irmão de Mr B tem uma lotérica em sua cidade natal) sob a alegação de que o vírus não atinge as lotéricas por disporem de portas de vidro. Seu convite ao dia de jejum (domingo, 5 de abril) é patético já que mais da metade da população brasileira pratica jejum diariamente.

A insensibilidade do clã no poder vem sendo exercida com vigor pelo covidiota 02 e o sinistro da Educação que novamente agrediram a China, maior fornecedor mundial, hoje, de equipamentos e roupagens para proteção contra o vírus e para tentativas de salvação de vidas. Difícil imaginar que exista boa vontade dos fabricantes chineses em atender a pedidos nessa situação. Os imbecis ofendem o governo chinês, os cidadãos reagem virando as costas ao país. É provável que a China limite as compras de soja brasileira, por exemplo, para entrar em acordos amigáveis com os EUA. O que dirão e farão seus eleitores e financiadores que reduzem as áreas de florestas do país para seus plantios?

Censura – O governo bolsonarista de coronel de Rondônia há pouco editou uma lista de livros a serem eliminados das escolas. Brasileiros e estrangeiros consagrados, alguns de leitura obrigatória em vestibulares e concursos como Enem, integravam a lista de quase 50 autores. O desgoverno recuou da decisão após a gritaria geral no país. Detalhe: cada autor tinha um título censurado, exceto o pensador e filósofo Rubem Alves, que tinha incluída na lista toda a sua obra.

Em plena vigência da Inquisição católica, o Vaticano passou a publicar o Index Librorum Proibitorum, listas das obras condenadas pela cúpula da igreja. Havia de tudo: filosofia, ciências, artes, religião, inovações. As gráficas já se espalhavam pela Europa pós-invenção da imprensa de tipos móveis de metal. Também se espalhavam as dissidências e contestações, com destaque para líderes como Lutero e Calvino. Resultado: nas regiões já aderentes às dissidências, as listas do Index serviam como catálogo de obras a serem impressas. 

Taí uma sugestão: passar a divulgar as listas de proibições para que as pessoas se orientem na sua busca, com base no princípio: se eles proíbem, deve ser bom. As obras de Rubem Alves, por exemplo, estão tendo grande procura.

Definição definitiva – Com a palavra Tia Nenza, mãe de santo: ¨O Brasil é grande demais. É país pra trem, não pra caminhãozinho. O sujeitinho aí não sabe lidar.¨

Dr. Strangelove – O nome remete a um filme de Stanley Kubrik cujo enredo envolve uma emergência nuclear entre gringos e russos. O Dr. era um ex-nazista entrevado cuja mão direita fazia a saudação Heil Hitler até em reuniões do alto comando da crise. 

O intuito do Dr. era encetar uma guerra nuclear com os russos. Nosso Dr., o BaBaCa Guedes, encetou uma guerra contra os pobres e a favor dos muito ricos. Em meio à pandemia do Covid 19, em harmonia com o pandemônio governativo, atrasou um repasse aprovado pelo Legislativo para dar 600 reais a cada família pobre e da economia informal. Isso permitiria a milhões deles ficarem em casa. Ao mesmo tempo, liberou muitos bilhões para salvar, não vidas, mas bancos e grandes investidores. 

Sem qualquer contrapartida. Os bancos passaram as garras na grana e deixaram de atender às empresas necessitadas. Subiram os juros e passaram a fazer poucos empréstimos a empresas, com prazos de três meses para pagamento. Ou seja, dinheiro público enfiado nos bolsos e outros locais de bancos para que explorem as empresas num momento de absoluta crise.

O final do filme é hilário e aterrador: o piloto do bombardeiro nuclear autorizado a jogar bombas no inimigo desce do avião cavalgando uma bomba e dando gritos de caipira gringo e batendo o chapéu no lombo do artefato. Curioso é que a cara do caipira é muito parecida com a do nosso sinistro da Economia, que aliás tem cara de porco: basta desbastar o nariz do suíno. Também tem a cara do mediano ator Edward G. Robinson nos seus piores papéis. 

A espada de ouro – O marechal Henrique Teixeira Lott foi um militar nacionalista, espécime em extinção entre os fardados. Na época de sua candidatura a presidente, em 1960, em que perdeu para Jânio Quadros, seu slogan-canção era até gracioso: “A espada de ouro / Quem tem é o marechal / Lott Lott é o ideal porque / Defende o petróleo que é meu e de você (bis).” 

 O abundante e gigantesco lençol de petróleo do pré-sal prometia ser a redenção do país, da saúde, educação, etc. Mas não se fazem mais milicos como antigamente. Agora o nosso petróleo não é mais nosso, foi e vem sendo rifado a preços de manga (banana anda muito caro) para multinacionais do exterior. A Petrobrás, motor do desenvolvimento do país, está em fatias, construídas com recursos públicos mas agora distribuídas entre os comparsas dos agentes do capital como os apaniguados bilionários de Guedes e de alguns sortudos.

Os militares mudaram suas orientações estratégicas. Em lugar da defesa da soberania nacional, temos fatos como a entrega de Alcântara aos gringos e a ocupação da Amazônia por corporações multinacionais. Em lugar da obediência à Constituição, tivemos o golpe de 64 que durou 21 anos e o governo atual de Mr B, no qual ocupam mais de 2 700 cargos com grana generosa.

O competente analista político Breno Altman lembra que Mr B é um projeto militar de volta ao poder, em nível de estado maior, para a formação de um novo bloco conservador. Na cristalina expressão de Altman, o Exército é a guarda pretoriana do capital. Ou seja, é a entidade em que o capital pode depositar sua confiança contra seus muitos adversários.  

Militares são formados e treinados para tarefas variadas, mas não para governar numa democracia, conceito aliás que atualmente desconhecem. Dispõem de excelentes centros de pesquisa de primeira classe, mas participam de um governo que elimina os centros de pesquisa e os pesquisadores e arruína a educação. Inculcam palavras de ordem neoliberais nas cabeças de seus alunos, obedientes à sua própria formação em centros dos EUA dedicados a lavar as suas cabecinhas hoje ocas.

Chegaram ao ápice há pouco, quando um general da ativa ocupou e ocupa a chefia da… Casa Civil, que deveria chamar-se agora Casa Militar. São a garantia de um governo estúpido, arrogante, ignorante, violento, assassino e genocida, alheio a todas as normas da civilidade e indiferente aos rituais e protocolos da diplomacia internacional. 

Quanto à racionalidade de seus gestos e suas palavras, aconselho-os paternalmente à leitura da obra de Lewis Carrol (se é que ainda se permite sua leitura nas escolas) “Através do Espelho e o que Alice Encontrou por lá”, capítulo XII, “Quem sonhou?”, com atenção para este trecho:

“Os gatinhos têm o hábito muito inconveniente (Alice comentara uma vez) de sempre ronronar, seja o que for que se lhes diga. ‘Se pelo menos ronronassem para dizer ‘sim’ e miassem para dizer ‘não’, ou alguma regra desse gênero, seria possível manter uma conversa. Mas como se pode conversar com uma pessoa se ela diz sempre a mesma coisa?”

 Némês, respeitáveis fardados de dois ou mais grandes salários? A palavra-chave para o futuro aqui é blowback, cunhada pelo ex-marine e analista político Chalmers Johnson, agudo decifrador dos meandros do poder do Deep State e seus associados e dos governos gringos que os representam na dança do capital. É o retorno e o choque. O Brasil tem expressão deliciosa (reescrevo esse comentário) para a tradução: É a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar.

Conceito de missão – Há muitos anos o governo brasileiro enfrentou um dilema. A Marinha anunciou que pretendia comprar do Reino Unido um porta-aviões, legítima sucata ainda flutuante, para a gloriosa defesa do território nacional. À época a oposição falava que a fortuna a ser transferida aos espertos vendedores poderia ser aplicada em dezenas de fortes e ágeis barcos que servissem inclusive para patrulhar as imensas bacias hidrográficas nacionais. Os milicos venceram e compraram. 

À época já havia, como sempre houve na história pátria, críticos mordazes dessas iniciativas. Um deles, insuperável, chamava-se Juca Chaves, apelidado O Menestrel. A música dedicada por Juca ao rumoroso caso queimava como brasa viva: Brasil já vai à guerra / Comprou porta-aviões / Um brinde à Inglaterra / de oitenta e dois bilhões / Mas que ladrões.

Ciência e despreparo – A questão da mandância do desclassificado Olavo de Carvalho sobre muitos integrantes do staff de poder ao redor de Mr B, além do pai e dos três impagáveis trouxas, chamados Laranjinha (01), Bananinha (02) e Frutinha (03), tem nuances talvez ainda não vistas com clareza pelos seus críticos. 

As concepções acientíficas dos olavistas (é humilhante ser chamado disso), como a surrada teoria da terra plana, isso em pleno 2020 e seus satélites e suas viagens espaciais, escondem uma impossibilidade: a de provar teses idiotas como o marxismo cultural ou as conspirações comunistas ou o uso de placentas de nenens pela Pepsi para adoçar seus venenos ou os benefícios do cigarro para a saúde, tudo para a destruição das liberdades e da democracia.

Esses energúmenos contemporâneos não conseguem realizar sínteses; o máximo que fazem são cópias. Por isso são tangidos para o regaço de um guru sem essência: os clichês estão prontos e perfazem um edifício de palitos de fósforo que eles vêem como fortalezas. 

O que está na pauta é o fato de esta gangue ser o melhor time em campo que eles conseguem escalar. O escroto Weintraub, o rato Wajngarten, a rematada imbecil Damares, o desmoralizado sinistro das Relações Exteriores, o corrupto sinistro do Turismo e sua assessora cultural vácua e inútil (nem lembro seus nomes) são rigorosamente iguais: ninguém marcagou.

De bibliotecas e latrinas – Outros palácios, e hoje o Palácio do Planalto, abrigam desde décadas bibliotecas de memória das presidências. Trata-se de patrimônio da República. Lula em sua gestão gastou 700 mil para reativar e tornar usável o acervo. Mr B despejou a biblioteca para abrir espaço para um escritório com banheiro novo no Planalto para sua esposa, isso depois de ter gasto 340 mil para alojar a semsorte em prédio da Esplanada. Trocou uma biblioteca da memória coletiva do poder Executivo por uma latrina de luxo. E removeu a foto da ex-primeira dama Marisa Letícia da sala. Mas a estultice é compreensível: afinal, desconhece-se algum pronunciamento de Mr B digno de preservação.  

Qüestães de opiniães – O escritor Guimarães Rosa, além de gênio inventor de linguagens, era um humorista incorrigível. Tem um dito assim: pãos ou pães é questão de opiniães.

Pois é. O parasita Guedes, que só trabalha para aumentar seu patrimônio e o dos comparsas, chama servidores públicos que erguem a funcionalidade do aparelho do Estado de parasitas. Desdenha das domésticas, aliás de todos os pobres, que trabalham e criam riquezas. Ele não cria porra nenhuma; aliás cria pobreza, fome, miséria. Nunca pensou no blowback. Te cuida, merdinha; o mundo gira e a roda te pega. A cobra ataca quando menos se espera.

Teve a coragem de propor taxar em 7% os proventos dos beneficiários do auxílio-desemprego. Nunca se viu essa indignidade em país algum. Mr B baixou decreto, anulado pelo STF, que autorizava empresas a mandar seus empregados para quarentena em casa sem salários por quatro meses. E agora vem com campanha de orações e jejum. Ora, esses desempregados fariam quatro meses de jejum, é isso? É a farsa finalmente sem véus.

Um é financista bilionário ladrão, que só se acha impune por ser ministro: haverá blowback assim que perder o infame foro privilegiado. O TCU já instruiu processo em que aponta o desvio de 1 bilhão de reais de fundos de pensão. O outro é tenente expulso do Exército que, por mercê da corporação, saiu como capitão. Que maravilha de instituição republicana: um criminoso terrorista que pregava explosões em quartéis para reivindicar aumentos de soldos, depois de planejar atentados gravíssimos contra a população, é expulso e recebe promoção e aposentadoria. 

Quase todos os milicos pendurados em cargos e sacos de políticos no governo são da reserva. E os da ativa? Será que foram doutrinados também para apoiar o mais desonesto neoliberalismo? Ou será que também a disciplina e o silêncio imposto impedem as possíveis e poucas boas novas de sair além-muros? Vamos dar créditos às melhores hipóteses. Mas talvez a razão resida na ignorância, da parte dos fardados, sobre a ruína, não só da dignidade do Estado e da República, mas da sua própria dignidade.

Genocídio – Uma cena significativa: uma delegação de médicos cubanos chegando no aeroporto de Milão, a pedido do governo italiano, sob aplausos de todos os presentes, público, funcionários, guardas, todo mundo.  

Uma das primeiras medidas de Mr B foi canetar a expulsão de milhares de médicos cubanos do país sob ‘alegação’ de que visavam formar núcleos de guerrilha. Operavam em mais de 4 mil municípios a que as dondocas e os dondocos médicos nacionais nunca quiseram chegar. Durante sua permanência no país realizaram mais de 700 milhões de atendimentos. Operam hoje uns 400 mil profissionais cubanos em mais de 100 países em todo o planeta, distribuindo seus conhecimentos de medicina de comunidades e sanitarismo. Constituem a maior demonstração de solidariedade internacional da nossa época. 

Em coerência com essa medida criminosa, a gangue no poder deixou fora do Bolsa Família mais de 1 milhão 200 mil famílias. Um sinistro declarou que essas filiações estavam ‘sob exame’, embora fossem de famílias já cadastradas com direito ao subsídio. Também foram retirados do SUS, o maior sistema público de saúde do mundo, mais de 20 bilhões de reais, que foram aplicados em medidas como as liberações de verbas para emendas parlamentares e a compra de adesão a projetos antipovo, como a ‘reforma’ da previdência. 

Mais de 3 milhões de pedidos de aposentadoria acham-se ‘na fila’ para aprovação pelo INSS. São famílias pobres que não têm o que comer.

Acresce a isso a crise econômica do neoliberalismo que joga milhões de famílias na informalidade e no desemprego, o que vem provocando uma avalanche de novos pedidos de inscrição nesses programas. E os atrasos na distribuição de recursos (de 600 reais; a gangue queria 200), aprovados pelo Congresso, a muitas dessas famílias a fim de que possam permanecer em casa para se prevenir da contaminação pelo Covid 19.

Em vídeo recente circulado nas redes, uma líder bradava para sua tribo numa clareira na mata contra o mais recente assassinato de um chefe indígena. Suas palavras: “Nós somos do bem. Se fôssemos do mal, tava cheio de fazendeiro morto por aí”. São incontáveis os assassinatos de lideranças indígenas, LGBTs, jovens negros, sindicalistas, mulheres e pobres em geral.

Trata-se de um projeto deliberado de supressão dessas minorias, o que, em linguagem contemporânea, chama-se genocídio. As medidas do sinistro da Economia navegam na mesma direção de suprimir da vida a existência de pobres e miseráveis. Mas, em coro com reuniões tipo Davos e grupo Bilderberg, as de Guedes são silenciosas mas muito mais letais.

Mas é preciso que seus autores sejam mais cautelosos. Em pouco tempo poderão surgir muitas flechas e balas perdidas à procura de suas cabeças. 

(Em tempo: o leitor sabe da razão íntima da expulsão dos médicos cubanos? Eu conto. O covidiota 2, o Bananinha, namorava uma linda moça. Um dia terminou o namoro e o Bananinha, muito no seu estilo calhorda, publicou ofensas à ex em mídia social. A moça reagiu e publicou no Facebook que o verdadeiro motivo do fim do namoro era que o 2 tinha um pintinho de criança nova que não dava conta do recado. Logo a seguir, a moça iniciou namoro com um médico cubano, sujeito de cor de bom porte que, tudo indica, superava as deficiências do ex. Em razão desses fatos públicos, o número 2 ficou também com o apelido de Micropênis. O autor do apelido Bananinha – agora o leitor sabe por quê – foi o vice-presidente general Mourão. Fecha parênteses) 

Nomes aos bois – Petroleiros fizeram greve contra fechamento de unidades fabris e desnacionalização da Petrobrás. Servidores do Serpro, Dataprev e Casa da Moeda fizeram greve contra a privatização antinacional dessas entidades. As TVs comerciais e os jornalões e revistões omitiram sistematicamente esses movimentos. Afinal, seus acionistas são a favor dessas medidas emanadas da gangue e do Sinistério da Economia. E precisam da grana do governo para se manter. 

Chamam a esta imundície de liberdade de imprensa e informação. São canalhas históricos; são boys de puteiro. 

Pra quê? – O sinistro da Comunicação, esqueci-o-nome Wajngarten, tem uma empresa de intermediação entre verbas do governo e beneficiários da imprensa TV rádio jornal. Parte da verba que ele distribui para esses meios volta para as mãos particulares da sua empresa. O nome jurídico disso é prevaricação; é crime capitulado nos códigos e dá direito a prisão. Para contornar o escândalo, o sinistro fez uma proposta ao governo: passar a titularidade da empresa para sua esposa, ou seja, a empresa não seria mais ‘sua’. Não é piada.

O caso foi parar no Conselho da Ética da Presidência, entidade que, sim, existe. A Folha noticiou: “Sem investigar, Conselho de Ética da Presidência arquiva caso Wajngarten”. A turma do não-me-conformo pergunta: pra quê e por quê existe esta excrescência aética e fantasmagórica? Talvez para limpar a barra de vigaristas e sinistros, títulos que, nesses casos, são a mesma coisa.

Blowback 1 – Uma história antiga dos meus tempos de estudante, antes e depois do golpe de 64, contava que um diplomata brasileiro numa recepção em La Paz foi apresentado ao ministro da Marinha boliviano. O diplomata alfinetou: “Mas como vocês têm ministro da Marinha se não têm acesso ao mar”? O ministro devolveu: “Ora, vocês não têm ministro da Justiça”? 

O gângster internacional Ronaldinho Gaúcho, nomeado embaixador internacional do turismo pelo sinistro brasileiro, foi preso em Asunción com passaporte paraguaio falsificado (o que mostra suas intenções: a brasileiros basta carteira de identidade para entrar lá). O sinistro da Justiça Moro, em desespero, entrou em contato com a ministra da Justiça paraguaia para tentar forçar sua liberdade. A ministra declarou à imprensa: cometeu crime e vai continuar preso. “Aqui há justiça; aqui não é o Brasil.”

Como diz o povão: Moro podia dormir sem essa. Por que o desespero de Moro? É uma história cheia de falcatruas e muita grana.  Mas é comprida: no próximo Bolsonário IV eu conto.

Humor à brasileira – Mote corrente no Brasil: sou radicalmente contra o impiche de Mr B agora. Pergunta: mas por quê? Resposta: ora, com a quarentena, como é que vamos poder comemorar todos juntos?

Segredos – O programa de abstinência sexual para jovens da sinistra Damares vai ter um resultado: a disseminação da masturbação. Damares há tempos raptou de tribo indígena, na qual operava sob o disfarce de evangelização, uma menina de 12 anos que carregou para sua casa. Bem depois, faz poucos anos, publicou nas redes um anúncio em busca de marido, já que é solteira e arrasta obsessão por sexo e órgãos genitais e procura lesbianismo em personagens de contos de fadas. São fatos que a mídia omite, preferindo explorar inutilidades como a visão de Jesus na goiabeira. 

 Tudo indica que essas obsessões, que fariam corar a prima da vizinha da empregada de Freud, são largamente partilhadas por toda a família dos líderes de milicianos que ocupa temporariamente o poder. Não por acaso, Mr B fala sem parar de temas sexuais, o número 2 recebeu apelido de Bananinha, e o número 3, de Frutinha, que por mais de 10 anos namorou seu primo, conhecido como Índio. 

Nada contra as práticas do Frutinha, que defendo como absoluta demonstração de liberdade e direito humano fundamental. Mas, como conciliar essa liberdade com os assaltos, perseguições e assassinatos de membros da comunidade LGBT? Se Mr B quer eliminar a turma, que comece em casa.

Justiça imaginária – O Brasil traz de muitas décadas uma situação peculiar e despida de razão jurídica. Trata-se da justiça militar, que julga apenas crimes cometidos por militares. Seus membros são tão privilegiados quanto os dos altos escalões da chamada justiça comum, que atende a duas centenas de milhões de brasileiros comuns, ou seja, nós, o povo. 

Um fato recente ilustra os descritérios de atuação dessa tal justiça. Um cabo, Diego, foi inocentado após ter metralhado os ocupantes de um carro há quatro anos na favela da Maré, no Rio. A defesa alegou que o cabo pensou que eram bandidos que poderiam ameaçá-lo. Um dos metralhados ficou paraplégico. 

A sentença final do tribunal militar, nas suas palavras, fala em legítima defesa imaginária.  Uma inovação na jurisprudência internacional nunca vista desde a organização do direito há mais de dois milênios pelos romanos. Qualquer semelhança com a pretendida exclusão de ilicitude pregada por Moro e recusada pelo Congresso não é mera coincidência. 

Nada a temer – O tal Michel Temer andou declarando que não será candidato a nada agora e no futuro. A imprensa ainda não registrou nenhum protesto de possíveis eleitores em desespero por terem perdido a chance de votar em seu candidato predileto. Como se diz em Minas, que pena de urubu sinto dele!

Raiz do ódio – O chefe do Gabinete de Segurança Institucional, GSI, general Heleno, odeia Lula. Em recente declaração condenou Lula à prisão perpétua. Uma história pode esclarecer a origem de seus sentimentos.

O Haiti já foi a nação mais destacada e rica da América Latina. Há mais de 200 anos, o herói nacional general Toussaint Louverture comandou a libertação do país do mando dos colonialistas franceses. Em pouco tempo os colonialistas gringos entraram em cena e reduziram de novo o país à submissão e à pobreza. Hoje é considerado o país mais pobre da AL.

Após devastação provocada por um terremoto o país entrou em convulsão social. A ONU organizou uma missão de estabilização, a Minustah, com tropas brasileiras, sob o comando do general Heleno. 

Na madrugada de 6 de julho de 2005 as tropas encetaram uma operação de ‘pacificação’ na maior favela de Port au Prince, a capital, a populosa Cité Soleil. Sob o comando de Heleno, centenas de tropas invadiram a favela. O resultado: mais de 300 mortos e dezenas de feridos. 

A pedido oficial do coordenador dessas missões na ONU o governo brasileiro do presidente Lula afastou o general Heleno do comando em tempo recorde. Heleno passou então a carregar nas costas o fardo de sua incompetência, se é que foi só isso, e e ganhou má fama mundial pelo erro militar. Aí reside a raiz do seu ódio a Lula.

Arejamento – A imagem do Brasil no exterior apresenta hoje um caráter notável: há unanimidade entre todos os países sobre o governo de Mr B ser ridículo e desprezível, adjetivos mais encontrados nas críticas e denúncias. Mas há erro em atribuir esses desqualificativos ao país e seu povo, claro. 

Basta ver os resultados do recente giro de Lula pela Europa. De início foi recebido por uma hora em audiência exclusiva pelo papa Francisco, com quem articulou programa mundial de combate à desigualdade social. Em seguida recebeu da municipalidade de Roma, em sessão especial, pelas mãos do seu prefeito, o troféu Loba Capitolina, máxima honraria existente. Na Suíça, participou de reunião anual do Conselho Mundial de Igrejas. Depois passou por Berlim. Na França foi agraciado com o título de Cidadão Honorário de Paris, honraria concedida em mais de dez anos para apenas 17 personalidades. Um sopro de ar fresco de leveza e graça em tempos de grosseira mediocridade do governo fascista de Mr B. 

Perplexidade – A comissão parlamentar mista de inquérito sobre notícias falsas, as chamadas fake news, já reuniu provas suficientes do seu uso na campanha de 2018. O STF também já coletou provas robustas. A CPMI foi prorrogada por mais 180 dias. Opera no Palácio do Planalto o núcleo conhecido como Gabinete do Ódio, dedicado à destruição de reputações de adversários do governo, cada vez mais numerosos, por meio da fabricação de fake News e espalhadas por sites bozistas e robôs. Mr B faz uso desses instrumentos todo dia. Um dos focos de difusão dessas falsificações foi identificado no gabinete do 2 Bananinha, inclusive com uso de funcionários e computadores públicos. 

A festa continua como se nada houvesse. Até agora tudo opera normalmente. O Tribunal Superior Eleitoral finge que não é com ele.

O gângster político Paulo Salim Maluf quando governador de SP montou uma empresa pública, Petropaulo, para prospectar petróleo. Torrou 80 bilhões entre amigos e apadrinhados e não encontrou sequer uma gota. Confrontado com o fato de a Petrobrás já haver prospectado nas regiões visadas pela Petropaulo e nada ter encontrado, Maluf estufou o peito: eu vou encontrar; é que a Petrobrás furou pouco.

Colocou em circulação assim o termo escárnio e o verbo escarnecer. Mr B adotou o mote e pratica diariamente. Meu amigo Cláudio Vander Velden, já além deste mundo, tinha uma expressão significativa. Perante esses fatos, exclamava: Virou Brasil! Falava das elites corruptas, da zoeira nacional, da impunidade, da ausência de senso ético, da vagabundice, do escárnio. Saudade do meu querido amigo.

STF e Reitorias – Numa atitude anticonstitucional, Mr B baixou decreto assumindo o direito de nomear reitores de universidades federais. A tradição é a eleição pela comunidade acadêmica de três candidatos, entre os quais o governo, Lula por exemplo, sempre escolheu o primeiro da lista tríplice. Ao lado desse sistema democrático, os membros do STF são indicados pelo presidente de plantão para as vagas abertas por idade, morte etc. Ou seja, o presidente indica os nomes dos que poderão julgá-lo. Um procedimento indigno e antidemocrático.

Neste momento é imperiosa a defesa intransigente do STF contra as hordas fascistas que pretendem anular suas ações, mesmo apesar de seus erros contemporâneos como não ter bloqueado as aberrações jurídicas e as perseguições políticas que caracterizam todas as ilegalidades da Lavajato. 

Mas passada esta crise de ilegitimidade e de ameaças à saúde pública pelo coronavírus será essencial a retomada das eleições para reitores e o estudo de novas regras para as nomeações ao STF. Talvez a troca do termo ‘nomeações’ por ‘eleições’ possa abrir um foco de luz no caminho. 

Einstein vive – Na última visita de Mr B ao Sílvio Santos gringo, Donald Trump, que antes de ser eleito presidente comandava um reality show na TV, o prefeito de New York recusou-se a receber Mr B. Para o sinistro olavista das Relações Exteriores tudo isso foi uma clara demonstração da conspiração marxista mundial contra o seu governo. 

Nas recentes manifestações convocadas por Mr B contra o Congresso e o STF em Brasília um velhinho segurava uma placa em que se lia em letras toscas: Foda-se coronavírus. Talvez fosse daqueles que acreditam que o vírus ‘não pega’ em quem reza e tem fé.

Uma frase atribuída a Albert Einstein expressa: há duas coisas sem limites, o universo e a estupidez humana. Consta que Einstein teria acrescentado: mas devo ressaltar que, quanto ao universo, há controvérsias a respeito.

Fim de festa – O gigante adormecido acordou com enxaqueca.

*Chico Villela é escritor e editor, escreve sobre Geopolítica e Política Internacional. Contato pelo e-mail chicovillela@gmail.com

**Os artigos assinados por colunistas não traduzem necessariamente a opinião do Notícias Botucatu.

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