Rua Amando de Barros: o coração comercial e empresarial de Botucatu

Segunda rua constituída em Botucatu, a Amando de Barros veio como uma expansão inicial da cidade, ainda em meados do século XIX

por Flávio Fogueral*

Desenvolvimento, bons negócios e a síntese da vocação econômica de Botucatu. Talvez poucas ruas reúnam as condições necessárias e leva no nome e apelido ser consolidada como a rua do comércio. Esta é a Rua Amando de Barros, o mais expressivo e tradicional corredor empresarial da região, agregando histórias de sucesso e que simboliza o dinamismo do empreendedorismo botucatuense.

Segunda rua constituída em Botucatu, a Amando de Barros veio como uma expansão inicial da cidade, ainda em meados do século XIX. Eram dois os principais caminhos abertos no início da urbanização. O “de baixo” e “o de cima”, como foram popularmente chamados. Ambas surgiram no aglomerado onde está a Praça Coronel Moura (Paratodos) e iam sentido à estrada Piracicaba-Itapetininga- Tietê. Segundo o livro Achegas para a História de Botucatu, de Hernâni Donato, o caminho inferior vinha a receber as primeiras edificações do município, sendo que o superior começava a fomentar o movimento de comerciantes e tropeiros.

Por causa da Guerra do Paraguai, o patriotismo tornou-se uma característica latente nos botucatuenses. Tanto que as primeiras ruas da Cidade foram homenagens a episódios do conflito: o caminho “de baixo” recebeu o nome de Rua do Curuzu e a via “de cima” passou a ser denominada Rua do Riachuelo. Esta, por sinal, já mostrava a vocação empresarial, concentrando as primeiras casas comerciais de Botucatu, fator que foi sendo solidificado ao longo dos anos. Por isso, passou a ser conhecida por Rua do Comércio, nome que perdurou até que, em 10 de março de 1931, por meio da Lei nº 382, passou a ser denominada oficialmente de Rua Amando de Barros, em homenagem ao comerciante, empresário, político e filantropo que, entre suas maiores contribuições, ajudou na construção da antiga Escola Normal (atual EECA) e de obras na área da saúde, assistência social, entre outros.

Confira imagens históricas da Rua Amando de Barros

 

Ao longo das décadas, diversas e tradicionais empresas surgiram e se solidificaram fazendo com que a Rua Amando de Barros se tornasse sinônimo do varejo botucatuense. Foi na região que alguns dos fatos pioneiros ocorreram como o primeiro arranha-céu de Botucatu com sete andares, inaugurado em 1957, onde atualmente está o Peabiru Hotel. As primeiras casas bancárias e instituições públicas também foram sediadas na via. A própria Prefeitura Municipal, durante alguns anos no prédio onde está a agência do Banco do Brasil, ao lado da Praça Emílio Pedutti (Bosque). E é neste espaço público, que integra a paisagem presente da Amando que está o marco zero de Botucatu, onde todas as metragens e direções têm início. A Rua também é importante palco para a ciência. Foi em um uma instalação na Rua Amando de Barros que o Doutor Vital Brazil desenvolveu, em 1897, o soro antiofídico, usado no tratamento de picadas de animais peçonhentos.

Em agosto de 2019, a via concentrava mais de 550 empresas em pouco mais de três quilômetros de extensão, segundo números da Secretaria de Desenvolvimento de Botucatu. Como característica principal, o comércio e serviços predominam o principal corredor comercial e empresarial do município. É na Amando de Barros que estão instaladas as maiores lojas de rede e que empregam milhares de pessoas.

Nova vida para a Amando de Barros: revitalização e o shopping a céu aberto

Ser a principal via empresarial e comercial de Botucatu também transformou a Amando de Barros em um centro de vivência e um cartão de visitas. As mudanças em sua dinâmica também exigiram uma reorganização de sua estrutura como forma de atrair mais os botucatuenses e garantir o conforto na hora das compras.

O primeiro projeto de revitalização da Amando de Barros foi apresentado ainda na década de 1980 pela Associação Comercial e Empresarial de Botucatu, na gestão de Roseni Naves de Araújo. Era um conceito moderno e arrojado para a época, com a adoção de espaços de lazer e calçadas mais amplas. Era o embrião de um possível calçadão e do que viria a ser a revitalização da rua. 

Em 2016, a Prefeitura de Botucatu iniciou as obras que trariam o novo dinamismo para o comércio. Foram investidos, à época, R$ 2 milhões oriundos dos próprios cofres municipais e que consistiram na ampliação das calçadas e instalação de piso intertravado (drenante e antiderrapante), rampas de acessibilidade, piso tátil para deficientes visuais, implantação de novas redes de água, bancos e lixeiras de madeira, reforço da iluminação, recapeamento asfáltico e ampliação da pista de rolamento, novas sinalizações de trânsito e amplo paisagismo, com plantio de palmeiras ao longo da rua e pequenas floreiras instaladas nos guarda-corpos em cada uma das esquinas. Esta primeira etapa foi realizada no trecho entre as ruas Coronel Fonseca e Major Leônidas Cardoso. 

A segunda etapa foi consequência direta da articulação de comerciantes e empresários. Iniciada em junho de 2018 e encerrada em outubro, seguiu o mesmo projeto arquitetônico e paisagístico. 

Dessa vez foram contemplados quarteirões entre a Rua Major Leônidas Cardoso até a Rua Visconde do Rio Branco. Ambas as obras ocorreram nos governos do ex-prefeito João Cury Neto e do prefeito Mário Pardini.

Rua Amando recebeu novo fôlego ao oferecer conforto aos consumidores. Obras foram divididas em duas etapas

Amando de Barros: personagem ímpar para o crescimento de Botucatu

Principal corredor comercial e empresarial de Botucatu, a Rua Amando de Barros representa toda a essência do empreendedorismo latente na Cidade. A via é uma homenagem do Coronel Amando de Barros, que atuou pela Guarda Nacional no século XIX. Nascido em Piracicaba, a 14 de setembro de 1860, veio logo aos 16 anos a Botucatu, onde trabalhou como balconista na casa comercial de Chico Picão, que depois seria o Barão do Amaral. Barros passou a trabalhar depois para o estabelecimento comercial de Antonio Ferreira da Veiga Russo, onde tornou-se sócio. Surgia então a empresa Russo & Barros.

A veia empresarial motivou Amando de Barros a estabelecer negócio próprio, sendo que em 1884 funda a Casa Amando, consolidando como uma das principais lojas de Botucatu. A partir da popularidade do estabelecimento e de sua atuação na sociedade local, fez o empreendedor lançar-se à carreira política. Filiou-se ao Partido Republicano Paulista, tornando-se vereador por algumas legislaturas.

Com a Proclamação da República, Amando de Barros foi membro do primeiro Conselho de Intendência de Botucatu. Sua experiência e articulação política o fez alçar voos maiores, sendo eleito deputado estadual em 1910. Foi reeleito por diversas legislaturas.

Uma de suas principais contribuições à Cidade foi a viabilização da Escola Normal (atual EECA). Também contribuiu para a instalação do bispado e arcebispado da Igreja Católica no município e no âmbito da Saúde Pública, foi articulador para a construção do pavimento voltado ao tratamento de tuberculosos. Após falecer, em 1920, doou quantias em dinheiro para a viabilização de um orfanato, que tornou-se a Casa das Meninas “Amando de Barros”.

Por toda sua contribuição ao comércio e ao desenvolvimento de Botucatu, a Câmara Municipal aprovou a mudança de nome da então Rua do Comércio em 1930. Desde então, Amando de Barros tornou-se sinônimo de oportunidades, desenvolvimento e da força do comércio botucatuense.

Matéria publicada originalmente na edição 43 da Destaque Botucatu. Para ler a versão completa, clique aqui.