João Passos: toda imponência de uma das ruas mais históricas de Botucatu

Abordar a origem desta rua também é resgatar o início da Cidade

por Flávio Fogueral

Toda região central é um resgate histórico de qualquer Cidade. Toda a efervescência e o crescimento urbano passaram pelas aglomerações iniciais. Edificações e espaços públicos que mostram uma época passada e que representa a dedicação das pessoas que fizeram em prol do município. Uma das mais tradicionais ruas de Botucatu, a João Passos, sintetiza este resgate da memória, ao mesmo tempo em que abre caminhos para o desenvolvimento.

Abordar a origem desta rua também é resgatar o início da Cidade. Oficialmente é a terceira rua construída em uma incipiente Botucatu, ainda no século XIX. Recebeu algumas denominações, como Rua Nova, Rua de Cima, sendo que a mais popular e a que perdurou por mais tempo foi a de Cesário Alvim, já em 1884 que, segundo consta no livro Achegas para a Histórica de Botucatu, de Hernâni Donato, tal denominação ocorreu quando da Proclamação da República, para homenagear um dos políticos que foram propagandistas do então novo regime político.

Rua João Passos mantém o dinamismo empresarial do Centro de Botucatu

A mudança de nome, que visa homenagear um dos mais significativos empresários botucatuenses, ocorreu por meio da Lei 1757, de 12 de abril de 1971, promulgada pelo então prefeito Luiz Aparecido da Silveira, o Lico. Trocava-se o Cesário Alvim e a região seria denominada de João Passos (leia biografia ao final da reportagem), junto com uma homenagem que o decreto especificava: nas placas instaladas, abaixo do nome da via apareceria o complemento “Líder Autêntico”.

E com este batismo, a rua foi se consolidando nas três décadas seguintes. Desenvolveu-se, tornando-se um importante corredor comercial e empresarial em seus três quilômetros de extensão, que cortam diversos bairros. Sede de 259 empreendimentos (número de fevereiro de 2019), segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento, a região é a síntese da dinâmica empresarial do Centro de Botucatu. Seja prestação de serviços como educação, saúde ou mesmo no entretenimento, é esta diversidade que faz a via se tornar destaque.

Outro ponto é a relevância histórica da rua. Ao transitar pelas quadras é possível conferir prédios consagrados e que remontam a anos de lutas e trabalho para o crescimento de Botucatu. Desde a vertente religiosa, com o Santuário de Lourdes, um dos pontos turísticos que leva a arte barroca nas representações sacras; à Igreja Presbiteriana Independente, onde a imponência de sua Catedral também remete à conexão entre o terreno e o divino. O lazer está nos espaços públicos como o acesso à Praça Emílio Pedutti, o Bosque, onde outrora abrigou o famoso Cine Teatro Espéria. Hoje, no local, uma área voltada para o povo, com a Fonte Luminosa sendo o cartão postal.

Panorama da então Rua Cesário Alvim João Passos) com o Cine Teatro Espéria, onde atualmente está a parte superior da Praça Emílio Pedutti Bosque)

As decisões políticas e que dita os rumos do município estão em evidência, com a Câmara Municipal ocupando um prédio histórico, que já foi clube social, sede da Prefeitura Municipal, da Divisão de Cultura e também Biblioteca Municipal. Como espaço dos debates públicos, já passou por reformas para atender às necessidades da população, mas sem deixar de exibir sua fachada com o relógio de louça portuguesa que, há mais de sessenta anos, é uma atração a quem transita pela região.

Câmara Municipal: sede do Legislativo botucatuense está na João Passos

Hoje, a rua está consolidada como uma das mais importantes do município. Isso é visto pela valorização imobiliária e também pelos constantes investimentos. A todo momento, o dinamismo do local faz com que novas empresas se juntem aos já consolidados e tradicionais empreendimentos.

João Passos: um “líder autêntico”

O nome de João José Passos é de extrema relevância no desenvolvimento de Botucatu. Como muitas figuras, adotou o município e construiu uma sólida trajetória pessoal e profissional. Nascido a 15 de agosto de 1907 em Sorocaba, residiu naquele município até 1924. Diplomou-se contador em Botucatu onde também constituiu família ao casar-se com Marina Fagundes Passos e tendo como filho, Ronaldo Fagundes Passos.

Entre suas atividades empresariais, Passos é conhecido por atuar diretamente na distribuição de filmes e sendo proprietário de cinemas. Chegou, ainda, a ser diretor adjunto do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), quando criou diversas delegacias regionais. Também ocupou a vice-presidência da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), além da presidência da Associação Comercial e Industrial de Botucatu (antiga ACIB e atual ACEB), em duas oportunidades: em 1949, 1955 a 1969.

João Passos no baile de centenário do município com a miss Botucatu, Aparecidinha Antonangelo; personagem se tornou referência no empreendedorismo

João Passos também foi uma figura importante na vida social de Botucatu. Integrante do Rotary Clube Internacional desde 1941, engajou-se em diferentes ações beneficentes e em prol da formação educacional e profissional, como a criação da Casa Esperança.

Ainda foi presidente da comissão organizadora das festividades do primeiro centenário de Botucatu, em 1955. Uma das lutas mais importantes da vida política botucatuense foi a viabilização da criação da antiga Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu (FCMBB), o atual câmpus da Unesp. Passos foi o tesoureiro da iniciativa. Por sua atuação em prol do município, recebeu em dezembro de 1956 o título de “Cidadão Botucatuense”. Faleceu em 2 de março de 1971, sendo que no mês seguinte passou a dar o nome à antiga Rua Cesário Alvim.

Por todas as contribuições e deixando marca indelével ao município, João Passos foi inspiração e se perpetuou como um “líder autêntico”.

(Com informações do livro Ruas Botucatuenses, de Olavo Pinheiro Godoy, 2009, sem publicação impressa)

Matéria originalmente publicada na edição 38 da Destaque Botucatu. Para acessar a versão completa, clique aqui.