Formados na Unesp, USP e Unicamp têm produtividade maior no mercado de trabalho

Na economia, a análise de salários é uma das formas de se medir produtividade

Da Redação

Só com os seus cursos de graduação as universidades estaduais paulistas USP, Unicamp e Unesp dão um retorno à sociedade maior do que os recursos públicos nelas investidos. Os resultados estão em estudo inédito elaborado por economistas das três instituições com base na análise de salários.

Na economia, a análise de salários é uma das formas de se medir produtividade. A lógica parte do princípio de que o retorno que o trabalhador traz para seu empregador deve ser pelo menos igual ao seu salário. Assim, com base em salários, é possível analisar a produtividade de profissionais formados em diferentes instituições de ensino ou se debruçar sobre a produtividade de determinado grupo de profissionais em relação aos recursos que foram investidos na sua formação.

“O salário é um indicativo do valor que o profissional gera para a empresa, ou seja, é um meio para acessarmos os níveis de produtividade gerados por eles”, explica Carlos Azzoni, pesquisador da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA/USP), coordenador do estudo. “Características pessoais, características do emprego em que foram alocados e diferença da qualidade de ensino destas instituições ajudam a explicar as diferenças de produtividade destes profissionais”, comenta Azzoni.

No estudo, os cálculos de produtividade foram baseados nos dados mais recentes (2018) da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho, que agrega informações sobre os trabalhadores formais no país — como empregados sob regime CLT e servidores da administração pública direta ou indireta, federal, estadual ou municipal. A análise se debruçou, primeiro, na análise salarial dos 138 mil formados pela USP, Unicamp e Unesp de 2005 a 2015 que constam na Rais (de um total de 180 mil egressos no mesmo período). Depois, os pesquisadores compararam esses dados com os 13 milhões de profissionais com nível superior universitário formados em outras instituições do país.

Os resultados revelam que, em 2018, a média da produtividade (ou seja, a média salarial) dos egressos das universidades públicas paulistas foi 62% maior que a média de todos trabalhadores formados em outras instituições de ensino superior do país. Se considerados na análise fatores como idade, gênero, UF de atuação, tipo e setor de atividade e posição de trabalho — para comparar profissionais no mesmo nível de carreira e faixas salariais compatíveis –, a produtividade de egressos das universidades públicas paulistas é em média 24% superior no conjunto de todos os trabalhadores e 30% maior no conjunto de trabalhadores do setor privado. Na prática, no ano analisado, cada egresso das três universidades teve um acréscimo de produtividade anual médio de R$ 27,8 mil em relação aos demais trabalhadores com nível superior.

Considerando que a vida profissional se estende por, em média, 40 anos, e multiplicando-se o acréscimo de produtividade anual pelos cerca de 16 mil formados na graduação das três universidades públicas paulistas a cada ano, os pesquisadores concluíram que a produtividade dos egressos das estaduais paulistas (R$ 12,6 bilhões) é 14,5% maior do que os R$ 10,1 bilhões que representam a soma do orçamento da USP, Unesp e Unicamp.

Vale lembrar: o montante governamental destinado às universidades estaduais paulistas (9,57% do total arrecadado pelo ICMS) dá conta de todas as atividades das universidades ligadas à ensino, pesquisa e extensão. Isso significa que também entraram na conta de gastos com formação de alunos de graduação os dispêndios com, por exemplo, hospitais universitários e museus. Na prática, para cada real de investimento feito pela sociedade paulista nas suas universidades, a sociedade como um todo obtém um retorno de 2,78% ao ano em termos de aumento do produto social.

O estudo traz contribuições importantes para o debate sobre o financiamento público das universidades públicas paulistas ao mostrar — de maneira inédita — o retorno dessas instituições à sociedade em termos de produtividade. Segundo comenta Azzoni, os resultados do relatório se contrapõem à “ideia de que as universidades não geram produto nenhum, e que só geram custos para os cofres públicos”, usada como justificativa para propostas de corte de orçamento destas instituições. Exemplo disso é o projeto de lei 529/20 em trâmite na Assembleia do Estado São Paulo, que propõe uma série de mudanças no gerenciamento de recursos destas instituições — e que, se aprovado, trará impactos enormes para a ciência brasileira.

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