Cerca de 65% das cidades têm dificuldade para disponibilizar testes do novo coronavírus

Também há ausência, em muitas cidades, de dados sobre os impactos  por segmento da população

Da Redação

Cerca de 65% das cidades brasileiras encontram alguma dificuldade para disponibilizar à população testes de sorologia e do tipo RT-PCR, que visam identificar se a pessoa está infectada com o novo coronavírus. Este é um dos resultados da pesquisa “Impactos da covid-19 nos municípios”, que foi divulgada nesta terça-feira (6/10) pelo Programa Cidades Sustentáveis (PCS) e IBOPE Inteligência.

Além das dificuldades no enfrentamento da pandemia, o levantamento inédito revela os principais impactos da covid-19 nas cidades e as iniciativas das gestões municipais para minimizar seus efeitos.

Uma dessas iniciativas, a distribuição de cestas básicas para a população mais vulnerável, foi adotada por 98% dos municípios pesquisados. Outros 96% afirmam que fizeram investimentos emergenciais na área da saúde.

Realizada com prefeitos, secretários e gestores de 302 municípios brasileiros, a pesquisa conta com a parceria do Projeto CITinova e o apoio da Frente Nacional de Prefeitos (FNP)Associação Brasileira de Municípios (ABM) e Instituto Arapyaú.

A margem de erro é de 6 pontos percentuais, para mais ou para menos, e nível de confiança de 95%.

Dados em debate

Os resultados do levantamento foram divulgados em evento online, com a participação de gestores públicos e representantes da sociedade civil que analisaram os dados.

Patrícia Pavanelli, diretora de políticas públicas do IBOPE Inteligência, apresentou os principais pontos da pesquisa e explicou a metodologia utilizada.

Ao falar sobre as consequências da pandemia nas cidades pesquisadas, ela destacou: “sete em cada dez municípios ouvidos disseram que a pandemia teve um impacto muito alto ou alto nas contas públicas”.

Outro ponto abordado pela diretora do IBOPE Inteligência foi a ausência, em muitas cidades, de dados sobre os impactos do novo coronavírus por segmento da população. “Metade das gestões municipais declara não divulgar relatórios atualizados com indicadores de gênero, raça, orientação sexual e renda familiar sobre os casos de covid-19”, informou.

Na sequência, Jorge Abrahão, coordenador geral do Instituto Cidades Sustentáveis – organização realizadora do Programa Cidades Sustentáveis e da Rede Nossa São Paulo –, ressaltou ser necessário aprofundar a elaboração e divulgação dessas informações (por segmento da população), como forma de contribuir para o combate às desigualdades.

Ele lembrou que, “mesmo antes da pandemia, o contexto já era de um país com uma desigualdade muito grande e a economia caminhando de lado, em recessão”.

De acordo com Abrahão, o Brasil não consegue crescer há alguns anos e isso causa pressão nas contas públicas e gera dificuldade para as cidades. “Ao mesmo tempo que as demandas aumentam, há uma redução na arrecadação dos municípios”, constatou ele, antes de completar: “é difícil equilibrar essa equação”.

Na avaliação do coordenador geral do Instituto Cidades Sustentáveis, a eleição deste ano será um momento importante. “Temos que trazer esses temas, ver as propostas dos candidatos em relação à saúde, educação, infraestrutura urbana e as questões de renda”, argumentou.

Para Abrahão, além de pautar as eleições, a pesquisa traz uma valorização dos municípios. “É muito importante valorizar o poder local e esse é um debate que passa pelo financiamento das cidades, pelo pacto federativo.”

Já a coordenadora nacional do Projeto CITinova, Suiá Kafure da Rocha, ponderou que, apesar de todas as dificuldades, o momento oferece algumas oportunidades importantes para apoiar os gestores municipais no planejamento da retomada econômica de uma maneira mais sustentável.

“As diversas pesquisas realizadas neste momento ajudam a diminuir a incerteza das decisões dos gestores públicos municipais e a revelar as situações que merecem algumas intervenções focalizadas”, afirmou.

Thais Ferraz, gerente de planejamento e comunicação do Instituto Arapyaú, considerou que, embora a pesquisa comprove o quanto a pandemia foi e ainda é muito desafiadora para os municípios, mostra também a capacidade de inovação e a busca por novas formas de colaboração.

“A gente conseguiu ver nesse momento uma sociedade mais solidária”, pontuou, antes de exemplificar: “a mobilização de recursos filantrópicos no combate à pandemia teve um aumento expressivo”.

Segundo ela, o investimento filantrópico este ano está em torno de R$ 6 bilhões, sendo que o total investido em 2018 ficou em R$ 3 bilhões.

Outro participante do debate virtual, o diretor executivo da Associação Brasileira de Municípios (ABM), Eduardo Tadeu Pereira, ressaltou que a pesquisa mostra que as cidades tiveram “muita atitude”. Em sua avaliação, “são raríssimos os municípios que não tiveram ou tiveram pouca iniciativa no combate ao coronavírus”.

Pereira realçou a importância do auxílio emergencial ou da renda básica de cidadania, não apenas para a sobrevivência das famílias e a redução da desigualdade, “mas também para garantir o fluxo econômico na cidade”.

Jonas Donizette, prefeito de Campinas e presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), destacou o papel do Sistema Único de Saúde (SUS) e dos profissionais da saúde, que estiveram na linha de frente do combate à pandemia.

Ele parabenizou a iniciativa da pesquisa, em ouvir os prefeitos e gestores municipais, e complementou: “acredito que a figura do gestor local passou a ter importância nas decisões”.

Zuleica Goulart, coordenadora do Programa Cidades Sustentáveis, e Luanda Nera, coordenadora de comunicação do Instituto Cidades Sustentáveis, também participaram da atividade virtual, em que foram respondidas algumas perguntas dos internautas.

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