Há um ano, Botucatu era devastada pela força da água
Foram mais de 290 milímetros de chuva em 24 horas
Por Flávio Fogueral
Entre a noite de 9 e madrugada de 10 de fevereiro de 2020, os botucatuenses eram surpreendidos pela mais intensa chuva das últimas décadas. Um rastro de destruição, morte e solidariedade tomou conta de uma Cidade que se preparava para um 2020 de situações adversas.
A pior enchente das últimas duas décadas teve seu prenúncio já na véspera. Por volta das 17 horas de 9 de fevereiro, um domingo, uma chuva torrencial caía sobre a cidade, com pequenas tréguas. À noite, a intensidade aumentou, sobrecarregando as principais áreas de várzea e ribeirinhas. Foi por volta das 2 horas de 10 de fevereiro que os primeiros relatos de áreas alagadas chegaram, principalmente nas regiões às margens do Ribeirão Lavapés e córrego Água Fria, que cortam a área urbana de Botucatu.
Foram mais de 290 milímetros de chuva em 24 horas, quantidade de chuva superior ao esperado para todo o mês. Dezenas de residências foram invadidas pela água e lama, onde famílias apenas tiveram tempo em resgatar suas crianças e fugir para um local seguro. Móveis, eletrodomésticos, automóveis, equipamentos profissionais, roupas e inúmeros objetos perdidos em meio à água e lama que chegaram a mais de dois metros em alguns locais. Mais de 150 pessoas foram desalojadas de seus lares, recebendo ajuda da comunidade.
Ao todo, 80 unidades habitacionais foram danificadas e destas, dez completamente destruídas. Neste total, 27 residências foram interditadas. Todas as famílias são acompanhadas até hoje pela Prefeitura e recebem aluguel social, com exceção as que preferiram alugar outro imóvel.
Uma dessas histórias apresentadas pelo Notícias, à época, foi de uma família refugiada da Venezuela que morava às margens do Ribeirão Lavapés, ao final da Avenida Petrarca Bachi. A ponte do Salgueiro, foi levada parcialmente, sendo que o antigo muro de gabião existente na lateral da residência não suportou a enchente. Levou metade da casa, obrigando o pai da família a passar a esposa- então grávida-, e os filhos, pelo muro para proteção no vizinho. Minutos depois, toda a frente da residência cedeu.
Na Rua Major Leônidas Cardoso, uma caçamba foi levada pela água metros adiante de seu ponto de origem. Quando o nível baixou, ficou presa no teto de um carro. Várias casas foram danificadas e, nas proximidades, pessoas precisaram ser resgatadas por botes do Corpo de Bombeiros.
O rastro de destruição espalhou-se pela Cidade. Muros de escolas, calçadas e ruas destruídas. Alguns dos danos principais foram as pontes das Ruas Raphael Sampaio, arrancada pela força da água. Sua queda foi precedida por um intenso barulho que fez a vizinhança ficar em alerta pois a erosão ameaçava destruir as casas vizinhas. Na Rua dos Costas, a estrutura que possibilitava a passagem de veículos e pedestres cedeu totalmente.
Na zona rural foram 34 pontes arrancadas ou danificadas pela enxurrada. Isso fez com que moradores de áreas produtivas ficassem ilhados por dias até o restabelecimento da comunicação por terra. Passados doze meses da tragédia, a Prefeitura de Botucatu promoveu a reconstrução de todas as estruturas. Quanto na cidade, as Pontes do Salgueiro e da Rua Fernando Prestes foram finalizadas com projetos que visam evitar futuros danos provocados pelos acúmulos de água.
Conforme a Secretaria de Infraestrutura, estão em processo de reconstrução as da Rua Antônio Bernardo (construção de laje, pré-laje e guarda corpos), Rua dos Costas (implantação de vigas de apoio e posteriormente içamento das vigas longitudinais) e Rua Rafael Sampaio (içamento das vigas longitudinais e construção de laje e pré-laje). Além delas está sendo construída uma quarta ponte, na Rua Edberto Roque Sfrosin, que está em estágio de implantação de rede de drenagem e asfalto. Todas as pontes em construção devem ser concluídas neste primeiro semestre de 2021.
Na Fazenda Experimental do Lageado, onde há a passagem do Ribeirão Lavapés, a cabeceira da ponte que conecta a parte histórica como o Museu do Café foi totalmente arrasada pela enxurrada. A lagoa artificial ao lado da Capela teve uma mistura de água e lama e muros da parte do museu ameaçavam ceder. As obras para reconstrução da ponte começaram há algumas semanas.
A Associação Atlética Ferroviária, na região da baixada do córrego Água Fria teve seu complexo poliesportivo completamente tomado e danificado pela força da água. As quadras e campos de futebol, bem como as piscinas ficaram submersas. Parte de equipamentos e móveis apareceram metros fora das dependências. O clube circunda o córrego e fica em um entroncamento do leito, nas proximidades do Terminal Rodoviário, local com frequentes enchentes.
Um dos locais mais afetados foi o Mercado Municipal Progresso Garcia. Todo o pavimento inferior, onde estão boxes para a comercialização de alimentos, ficou submerso. O nível da água chegou a mais de um metro, arrastando refrigeradores, móveis e comprometendo totalmente os alimentos alocados.
A chuva provocou danos também nas rodovias e na linha férrea que cortam Botucatu. Na Marechal Rondon (SP 300), uma grande cratera foi aberta nas proximidades do pedágio. O buraco engoliu um caminhão e matou o motorista, Epaminondas Macedo Souza, de 50 anos, cujo corpo foi encontrado a três quilômetros de distância, no final da vazão do encanamento. Nas semanas seguintes, mais dois motoristas morreram após caírem no buraco.
As fatalidades ainda foram registradas na Estrada Vicinal Alcides Soares, onde o casal Lorival Ferre e Cristina Ferre, de 62 e 65 anos, respectivamente, além de Maria Silvia Infanti, 73 anos. Ambos eram moradores do bairro da Mina e eram os ocupantes de um VW Voyage que foi arrastado durante a enchente no Rio Capivarinha. O veículo foi encontrado metros adiante dentro do rio.
Segundo a Prefeitura de Botucatu, além da reconstrução das áreas afetadas, o primeiro aniversário da enchente consolida investimentos em inteligência que, além do piscinão na região do Parque das Cascatas, concentra em preparação tecnológica. De acordo com o Poder Público, há tratativas com o Governo Federal para aquisição e instalação de pluviômetros automáticos em pontos estratégicos, que têm como finalidade realizar previsões sobre o volume de água e tomar decisões para o enfrentamento de situações anormais.














































