Botucatu Polo da Biodinâmica: integrando Saúde e Meio Ambiente na produção de alimentos

A vinda do movimento Biodinâmico pra Botucatu teve bons desdobramentos para a cidade

Por Jorge Martins. Fotos: Felipe Abreu*

A aptidão agrícola de Botucatu é antiga. Aqui se desenvolveram e prosperaram muitas atividades agrícolas desde a fundação do município. Do Café ao Algodão, da Mamona a Laranja, da Cana ao Eucalipto. Mas existe algo mais acontecendo nessa terra. A produção orgânica e biodinâmica. Algo que aponta para as demandas mais emergentes da atualidade, que são a proteção da Saúde e do Meio Ambiente. Para entendermos melhor como e porque isso aconteceu temos que antes fazer uma breve viagem no tempo.

Na década de setenta começaram a aparecer uns “hippies” pelas serras de Botucatu. Um pessoal loiro, diferente que estava se instalando a uns 7 km da cidade. Uma turma falando em coisas como Antroposofia….Agricultura Biodinâmica….Pedagogia Waldorf. Aconteceu que aqui em Botucatu se instalou a primeira e maior iniciativa de Agricultura Biodinâmica da América do Sul, conhecida hoje como Estância Demétria.

Para nivelar nosso entendimento, vale dizer que todo alimento biodinâmico é orgânico, mas nem todo alimento que é orgânico é necessariamente biodinâmico. Podemos dizer que a diferença básica entre uma coisa e outra é que no caso dos alimentos biodinâmicos, além do não uso de agrotóxico, eles são produzidos em solos extremamente férteis que permite as plantas expressarem todo seu potencial, se tornando assim muito completos do ponto de vista nutricional. Lógico que não é tão simples assim essa diferença. Alimentos Biodinâmicos são produzidos de uma maneira muito completa que abrange o uso de calendários lunares, de preparados biodinâmicos, adequada seleção de sementes etc.

Poucos sabem, mas a vinda do movimento Biodinâmico pra Botucatu teve bons desdobramentos para a cidade. Por exemplo, aqui está situada a mais antiga e maior certificadora de alimentos orgânicos do Brasil, o Instituto Biodinâmico (IBD), que além de garantir a qualidade de alimentos orgânicos e biodinâmicos para os consumidores, abre mercados do mundo todo para produtores brasileiros certificados. A vinda da fazenda Demétria agregou também instituições como a ABD (Associação Biodinâmica) , Instituto ELO que difundem os conhecimentos biodinâmicos e dão suporte para sua implementação, produção e comercialização a nível de Brasil

Numa época em que grande parte das mortes acontecem por doenças que entram pela nossa boca esse assunto passa a ter uma grande relevância. Obesidade, doenças cardiovasculares, câncer e diabetes, são grandes vilãs da saúde contemporânea e tem suas origens no consumo de alimentos produzido com agrotóxico, e/ou ultra processados e industrializados. Mesmo os vegetaríamos que decidam comer apenas vegetais entram em sérios riscos quando não consomem apenas alimentos orgânicos.

Além dos enormes impactos que alimentos não orgânicos tem sobre a saúde humana, existe um outro impacto não menos relevante, que são os ambientais. Seja numa horta de verduras, ou em lavouras de milho e soja, a produção baseada em monoculturas e agrotóxicos tem sérios impactos também sobre o meio ambiente. A atual lista de agrotóxicos permitidos pelo governo federal vai muito além do absurdo. Temos substâncias cancerígenas, mutagênicas e teratogênicas, princípios ativos já banidos nos EUA e Europa, que estão entrando pela boca da população sem nenhum controle ou fiscalização do estado.

A produção de alimentos no modelo convencional também pode contaminar e eutrofizar recursos hídrico, dizimar polinizadores, incluindo abelhas, pássaros e morcegos, e pode contaminar toda a cadeia alimentar, incluindo predadores de topo de cadeia, através da biomagnificação. O Brasil atualmente é o maior consumidor de agrotóxicos no mundo, pagando um alto preço com a contaminação da sua população e dos seus recursos naturais.

Botucatu nesse contexto é uma rara exceção. Apesar de haver muita produção convencional, aqui também prosperam muitos agricultores orgânicos com hortas maravilhosas e produção de alimentos mais elaborados, como pães, queijos, geleias etc. Aqui se encontram produtores de sucesso muito bem preparados, como as famílias Veríssimo, Cabrera e Blaich, todas situadas no Bairro Demétria, que além de produzirem e venderem no município, também realizam feiras e vendas em São Paulo capital.

Muitas pessoas afirmam que o alimento orgânico é muito caro, e por isso inacessível para a maioria das pessoas. No entanto, como em qualquer outro mercado, se o público consumidor aumentar o preço médio cai, porque as garantias de comercialização aumentam e a perda diminui. Por outro lado, achar esses alimentos caros é também resultado de uma percepção parcial de uma conta incompleta, porque os danos causados a saúde, por alimentos contaminados com agrotóxico, oferecem um preço mais alto ainda, que muitas pessoas acabam pagando no futuro com medicamentos, planos de saúde, tratamentos e alguns com a própria vida.

Por isso, faça um favor a si mesmo e a natureza, na medida do possível, consuma sempre preferencialmente alimentos orgânicos. A sua saúde e o meio ambiente agradecem.

* Jorge Luís Araújo Martins é Médico Veterinário Especialista em Animais Selvagens e PhD em Biotecnologia Animal Especialista em Biologia da Conservação da Vida Silvestre. Acumula experiência de pesquisa em Instituições como Zoológico de Berlin, Museu Paraense Emilio Goeldi, UNESP, Conservação Internacional e WWF. Atua também como Consultor dando suporte a ações de Responsabilidade Socioambiental junto a Empresas.

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