Vacina em Botucatu: há um ano chegava a primeira dose de esperança contra a Covid-19

Primeiras doses aplicadas teve cerimônia com governador e início imediato em profissionais da saúde

Por Flávio Fogueral

Foi na manhã de 18 de janeiro de 2021 que Botucatu começava a usar uma nova “arma” desenvolvida através da ciência, contra a Covid-19. Era aplicada, no saguão da Faculdade de Medicina da Unesp, a primeira dose da vacina contra a doença que até então vinha esgotando os recursos de saúde pública, com 5301 casos confirmados e 68 mortes. 

Menos de um dia após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovar o uso emergencial da Coromavac, imunizante fabricado em parceria pelo Instituto Butantan e a chinesa Sinovac, imagens de televisão mostravam um caminhão carregado com a vacina se dirigindo a alguns hospitais universitários do interior, incluindo Botucatu.

Com a presença do governador João Dória e demais autoridades, a técnica de enfermagem do Hospital das Clínicas de Botucatu (HCFMB), Jacilene Rosa de Lima, então com 40 anos, foi a primeira botucatuense a receber a dose da Coronavac. Ela, que trabalha na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) exclusiva para atender casos graves do novo coronavírus, viveu o drama que a pandemia trouxe em todo o mundo: perdeu o marido para a doença. 

Caminhão com o primeiro lote das vacinas em frente à Faculdade de Medicina da Unesp, em 18 de janeiro.

Botucatu vivia um acirramento da pandemia, com aumento significativo dos casos e a sobrecarga do sistema público de saúde. Antes, medidas extremas como fechamento do comércio, restrições às atividades de lazer e cultural, além de fiscalização frequente a quem descumprisse as determinações eram a realidade em muitos municípios brasileiros. 

À época, o índice de ocupação dos leitos em terapia intensiva (UTI) mostrava a situação caótica que chegava o município. Em 18 de janeiro, todos os 30 leitos disponíveis na rede pública estavam em uso, sendo que a administração do Hospital das Clínicas recorreu à Secretaria de Estado da Saúde para a ampliação dessa estrutura.

Após a aplicação da primeira dose, a Cidade iniciava sua jornada para imunizar boa parte  da população. Em poucas semanas seriam imunizados os profissionais da saúde, idosos em residências de longa permanência e acima de 60 anos, considerados grupos prioritários. Denúncias de fura-fila feitas por profissionais da saúde e mostradas pela imprensa mostravam a tentativa de muitos em ludibriar o sistema. 

Enquanto isso, a pandemia não dava trégua. O número de casos e mortes continuava a subir, mas em pessoas que não receberam a vacina. Na tentativa de frear essa situação, autoridades do município percorreram, por algumas vezes, a rota de 930 quilômetros por estradas até Brasília, em uma negociação até então discreta e mantida sob sigilo com o Ministério da Saúde para que a Cidade integrasse estudo da efetividade de uma vacinação em massa, nos moldes do que o governo estadual fazia em Serrana, com a mesma Coronavac.

A técnica em enfermagem
Jacilene Rosa de Lima, técnica em enfermagem foi a primeira botucatuense a receber a Coronavac; marido morreu por causa da Covid-19

Após diversas reuniões, o anúncio em abril de que Botucatu integraria um estudo do laboratório AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford, Unesp, Fundação Gates e o próprio Ministério da Saúde. A primeira aplicação ocorreu em 16 de maio, onde mais de 60 mil pessoas entre 18 e 60 anos receberam a vacina. Já a segunda ação em massa foi realizada em agosto. 

Os casos começaram a cair seguidamente, com períodos mais espaçados entre os óbitos, chegando a quase dois meses sem qualquer vítima fatal. O cenário mudaria novamente com a confirmação da chegada da variante Ômicron, em 31 de dezembro. A partir dali, o número de casos cresceu exponencialmente, chegando a mais de 1900 em uma única semana. No entanto, devido à vacinação e com a dose de reforço, os índices de ocupação de leitos hospitalares é baixo e nenhum morador ainda teve morte por Covid atrelada à nova mutação. 

Um ano depois da primeira aplicação da vacina e, quase dois anos após a confirmação do primeiro caso, foram 21021casos com 323 mortes. Desse total, 19087 botucatuenses se recuperaram da Covid-19. Foram aplicadas 374 mil doses de vacinas nas três doses que são usadas como estratégias. 

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