Fiocruz: suicídios cresceram entre idosos na primeira onda da covid-19

Houve aumento de 26% desta causa de morte entre os homens a partir dos 60 anos

Da Rede Brasil Atual

Estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta para o aumento de suicídios, especialmente entre grupos mais vulneráveis, nas regiões Norte e Nordeste, durante a primeira onda da covid-19 no Brasil. Em todo o país, a taxa de suicídios caiu 13%, entre março e dezembro de 2020. No entanto, houve aumento de 26% desta causa de morte entre os homens a partir dos 60 anos da região Norte. Em dois bimestres consecutivos também houve “aumento expressivo” dos suicídios entre mulheres 30 a 59 anos na mesma região. O fenômeno também foi observado nas mulheres a partir de 60 anos do Nordeste, com “excesso” de suicídios de 40%.

O epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz Amazônia, e o médico psiquiatra Maximiliano Ponte, da Fiocruz Ceará, são os responsáveis pela pesquisa. O inédito estudo será publicado no International Journal of Social Psychiatry, tradicional periódico que abrange pesquisas no campo da psiquiatria social.

Para Orellana, os resultados apontam para a necessidade de entender a atual crise sanitária de forma mais ampla. Ele utiliza o termo “sindemia” para se referir à forma como a covid-19 interage com outros desafios sanitários conhecidos, como doenças infecciosas e suicídios. Ou ainda com a deterioração de questões ambientais e socioeconômicas.

Nesse sentido, ele alerta para a possibilidade de efeitos ainda mais fortes sobre os suicídios a partir de 2021, uma vez que o número de mortes pela covid-19 nesse período foi ainda maior. Por isso, segundo o epidemiologista, “é fundamental conhecer a sua magnitude, distribuição e possíveis razões do suicídio, visando a sua prevenção”.

Saúde coletiva

Por sua vez, Ponte destaca que, assim como a pandemia, o suicídio não é apenas um problema de saúde individual. “Trata-se de uma questão com profunda relação com as desigualdades econômicas e de acessos aos serviços sociais e de saúde pública”, disse à Agência Fiocruz.

Segundo ele, isso ficou evidenciado na medida em que os idosos das regiões Norte e Nordeste foram os mais vulneráveis à alta de suicídios. O psiquiatra disse ainda que os idosos carregam um “duplo fardo”, pois enfrentam maiores riscos para o suicídio e os maiores riscos para covid-19. “São fatores que se retroalimentam”, destacou.